29 novembro, 2010

Homilia do Cardeal Patriarca de Lisboa, no 1.º Domingo do Advento

Mosteiro dos Jerónimos, 28 de Novembro de 2010
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“A urgência da Esperança"
 
1. O tempo litúrgico que hoje iniciamos, preparação para a Festa do Natal do Senhor, propõe-nos a vivência e o aprofundamento da virtude teologal da esperança. E o momento presente da Igreja e da nossa sociedade sugerem-nos a urgência da esperança. É urgente viver da esperança. A Igreja, nas luzes e sombras do seu presente, só se pode lançar na aventura de uma nova evangelização se esperar que o fogo do Espírito a transformará e a identificará, cada vez mais, com o próprio Cristo. A nossa sociedade vai entrar num período difícil, que todos conhecemos, que só não será destruidor se for vivido com a grandeza da esperança.
A esperança é uma virtude teologal, porque só o amor de Deus a pode suscitar no nosso coração, dando dimensão nova às esperanças humanas, à espontânea capacidade humana de confiar e esperar. A esperança brota da fé e alimenta-se da caridade. Brota da fé enquanto adesão confiante a Jesus Cristo. E quando se escolhe seguir Jesus Cristo, aprendemos a não fundamentar a nossa confiança e a nossa capacidade de lutar apenas nas forças humanas, mas no seu amor. São Paulo é claro, quase violento, na instrução que dá aos cristãos de Roma: “não vos preocupeis com a natureza carnal (…) mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rom. 13,14). É esta relação forte com Jesus Cristo, que transforma a nossa vida, que é o fundamento da nossa esperança. É por isso que ela se alimenta da caridade, esse ser tocado desde já pela voragem do amor de Deus, sem poder ainda fruir da sua plenitude. É aí que aprendemos verdadeiramente o que é o amor, de Deus e dos irmãos. Procurar ser fiel, na nossa vida, a essa relação de amor, é aproximarmo-nos sempre mais da plenitude do amor, é sentir que a nossa salvação está mais próxima. É ainda Paulo quem o afirma: “a salvação está agora mais perto de nós do que quando abraçámos a fé” (Rom. 13,11). Quanto mais nos envolvermos com Jesus Cristo, em fidelidade de amor, mais perto estamos da salvação, na vivência que dela é possível neste mundo, pois a sua plenitude só a alcançaremos na pátria celeste.
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2. Quanto mais profunda for a relação de fé e amor de cada cristão e de toda a comunidade dos crentes a Jesus Cristo, mais a Igreja vive da esperança. A nova evangelização há-de acontecer ao ritmo da esperança. A Palavra de Deus deste domingo, objectiva essa esperança na construção de um mundo novo, uma sociedade mais harmónica e pacífica, mais justa e fraterna, que encontra na acção do Espírito de Deus e no amor generoso dos seus membros a força que a constrói e transforma, como antecipação da cidade definitiva. Isaías anuncia a esperança de Israel, Povo de Deus, por Ele conduzido: nessa cidade renovada, “converterão as espadas em relhas de arado e as lanças em foices. Não levantará a espada nação contra nação, nem mas se hão-de preparar para a guerra. Vinde, ó Casa de Israel, caminhemos à luz do Senhor” (Is. 2,4-5). Essa é a missão dos cristãos no mundo: ter objectivos grandiosos para a edificação da nossa sociedade, trabalhar com todos os meios humanos, transformando-os continuamente, dando-lhes um sentido novo. O desafio do profeta pode traduzir-se, assim, como mensagem à Igreja de hoje: Vinde, Igreja do Senhor, caminhemos à luz de Cristo. E isso significa, também, preparar o coração para a última revelação de Jesus Cristo, para a última vinda do Filho do Homem (cf. Mt. 24,37-44). Estar preparado para essa última vinda, é, também, construir o mundo presente com as marcas da cidade definitiva.
Há, na Igreja de hoje, sinais que fundamentam a nossa esperança. O mais visível é hoje este grupo de jovens que entregam a sua vida ao serviço dos irmãos, com o ardor do amor de Jesus Cristo. Na ordenação diaconal, recebem a graça e a força de servir. E servir sempre, a todos e em todas as circunstâncias, só é possível amando, deixando-se transformar pela caridade de Jesus Cristo. Queridos ordinandos, só sereis sinais de esperança e agentes de uma nova evangelização, se desejardes muito viver a vossa vida como um caminho de santidade.
Mas são também sinais de esperança todos aqueles e aquelas que desejam mergulhar profundamente no amor, que não fogem do mundo e das suas realidades, o trabalho, a cultura, a acção política, mas procuram vivê-las com a luz de Cristo, dando-lhe a força e a fecundidade transformadora que tem a sua fonte no Espírito de Deus. Não se trata de rejeitar os instrumentos próprios do mundo, substituindo-os por dimensões religiosas; trata-se, isso sim, de os utilizar com um novo ardor. A Igreja só será fermento da transformação do mundo, se se transformar continuamente a si mesma, pelos caminhos da santidade. É a sua fidelidade que fundamenta a sua esperança de contribuir para uma nova qualidade humana de toda a sociedade.
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3. No momento presente da nossa sociedade, com a austeridade anunciada pelo Orçamento do Estado para 2011, é preciso que todos os cristãos vivam essa situação com o vigor da esperança e ajudem toda a sociedade a fazer da esperança a atitude de fundo na nossa reacção colectiva. Não me compete a mim, nem é este o momento, pronunciar-me sobre a justeza das soluções adoptadas ou das causas que nos levaram a esta situação. Solução inevitável, consideraram muitos, solução obrigatória, porque decidida por quem tem o dever de decidir. A escolha é agora da atitude com que enfrentamos a situação: derrotados, revoltados, ou com a dignidade e a nobreza da esperança? E esta será impossível sem a generosidade do amor e do espírito de serviço. Somos chamados a viver a austeridade exigida a cada um, como um serviço ao bem de todos, como um contributo pessoal para o bem-comum, que deve prevalecer sempre sobre a busca do bem pessoal de cada um. Se reagirmos na esperança, muitos perceberão que, para além dos sacrifícios que lhe foram impostos pela Lei, a sua generosidade se deve alargar na partilha com aqueles a quem a situação lançou em situação de pobreza. Que cada um esteja atento ao seu próximo, isto é, ao seu vizinho, não hesitando em partilhar. A esperança ajudar-nos-á a fazer desta circunstância um grande momento de solidariedade. Então contribuiremos para salvar, não apenas a economia, mas a verdadeira alma do Povo que queremos ser.
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4. No Advento, Maria é o ícone da esperança. Ela está de esperanças, e no seu coração de mulher vive a maternidade como encarnação da esperança. No amor do seu Filho que traz no seu seio, ela abraça o mundo com a força do amor de Deus. É que amar aquele Filho é mergulhar no amor de Deus e no Deus amor. Ela vive, como nenhuma outra criatura, o amor como fonte da esperança. Na sua maternidade universal, envolve a humanidade nesse abraço do amor redentor e ensinar-nos-á que é possível viver tudo na esperança, mesmo os momentos mais difíceis da nossa vida terrena. Ela ensina-nos que a esperança se fortalece na caridade.

Mosteiro dos Jerónimos, 28 de Novembro de 2010

† JOSÉ, Cardeal-Patriarca
Fonte: www.agencia.ecclesia.pt

28 novembro, 2010

As quatro semanas do «Advento» do Natal


Este Domingo marca o início do tempo do Advento, um dos denominados "tempos fortes" do ano litúrgico. A sua história, no Rito Romano, começa no Século VI, no sentido de espera jubilosa do Natal, e a sua pré-história remonta às Gálias e à Espanha dos fins do Século IV, como preparação ascética para o Natal e a Epifania.
No Século V o começo do Advento era na festa da Anunciação (18 de Dezembro - hoje, a Anunciação é comemorada em 19 de Março). Apenas no Século X o seu início passou a ser no Domingo, quatro semanas antes do Natal.
O tempo litúrgico de preparação para o Natal começa no domingo mais próximo da festa de Santo André Apóstolo (30 de Novembro) e abarca os três domingos seguintes.
A "feliz expectativa" do Advento assinala de forma clara que o tempo da festa não chegou; aliás, no início do Cristianismo a palavra "adventum" (“parusia”, em grego) utilizava-se para denominar não a primeira vinda de Jesus, mas a sua vinda definitiva no fim dos tempos, como Senhor do Universo.
Quem participar nas celebrações dos primeiros três Domingos do Advento notará que esta perspectiva continua a dominar, com destaque para os profetas e para João Baptista. No entanto, a partir do dia 17 de Dezembro, a preparação do Natal fixa-se nos antecedentes próximos do nascimento de Jesus e na figura da Virgem Maria, com as célebres antífonas do "Ó" na Liturgia das Horas ou as tradicionais "missas do Parto", na ilha Madeira.

Do Oriente para o Ocidente
Apesar desse Tempo ser muito peculiar nas Igrejas do Ocidente, o seu impulso original provavelmente veio das Igrejas Orientais, onde era comum, depois do Concílio Ecuménico de Éfeso em 431 dedicar sermões nos domingos anteriores ao Natal, ao tema da Anunciação. Em Ravena, na Itália (onde era grande a influência Oriental) São Pedro Crisóstomo fazia esses sermões.
A primeira referência sobre o Advento é a do Bispo de Tours, França, chamado Perpétuo (461-490) que estabeleceu um jejum antes do Natal, que começava a 11 de Novembro (Dia de São Martinho de Tours). O Concílio de Tours (567) faz menção ao tempo do Advento, costume que se conhecia como a "Quaresma de São Martinho".
Este carácter ascético para a preparação do Natal devia-se à preparação dos catecúmenos para o Baptismo na festa da Epifania. Somente no final do século VII, em Roma, é acrescentado o aspecto escatológico do Advento, recordando a segunda vinda do Senhor e passou a ser celebrado durante 5 Domingos.
Um período de seis semanas foi adoptado pelas Igrejas de Milão e pelas Igrejas da Espanha. Na Itália somente aparece no século VI, quando foi reduzida, provavelmente pelo Papa São Leão Magno (590-604), para as quatro semanas antes do Natal.
O Advento é hoje celebrado com sobriedade e com discreta alegria. Não se canta o Glória, para que na festa do Natal os fiéis se unam aos anjos e entoem este hino como algo novo, dando glória a Deus pela salvação que realiza no meio de nós.
Pelo mesmo motivo, o directório litúrgico orienta que flores e instrumentos sejam usados com moderação, "para que não seja antecipada a plena alegria do Natal de Jesus".
As vestes litúrgicas (casula, estola, etc.) são de cor roxa, bem como o pano que recobre o ambão, como sinal de conversão em preparação para a festa do Natal, com excepção do terceiro domingo do Advento, Domingo da Alegria, cuja cor tradicionalmente usada é o rosa, para revelar a alegria da vinda do libertador que está próxima.

Lugar espiritual
Em 2008, na celebração inicial do Advento, Bento XVI citava um texto no qual Paulo exorta os cristãos de Tessalónica a conservar-se irrepreensíveis "para a vinda" do Senhor. Ali lê-se "na vinda" (en tê parousia), como se, frisou o Papa, “o Advento do Senhor fosse, mais que um ponto futuro do tempo, um lugar espiritual pelo qual caminhar já no presente, durante a espera, e dentro do qual precisamente ser conservados perfeitos em cada dimensão pessoal”.
“A palavra que resume esta condição particular, em que se espera algo que deve manifestar-se, mas que ao mesmo tempo se entrevê e se antegoza, é «esperança». O Advento é por excelência a temporada da esperança, e nele a Igreja inteira é chamada a tornar-se esperança, para si mesma e para o mundo”, disse.

Octávio Carmo – AE
Fonte: http://www.agencia.ecclesia.pt

26 novembro, 2010

I - Tempo de Advento

1.º DOMINGO (ANO A) - 28.11.10



Inicia-se mais um Ano Litúrgico, no qual relembramos e revivemos os Mistérios da História da Salvação.
NATAL e PÁSCOA centralizam as celebrações que são vividas em três momentos: antes, durante e depois...
Neste Ano A, o Evangelho de Mateus terá uma atenção especial.
No Advento, queremos celebrar a Chegada do Senhor.

ADVENTO

Significa "Vinda", chegada:
Faz reviver etapas da História da Salvação,  quando os homens se prepararam para a vinda do Salvador.
Nas duas primeiras semanas, vigilantes e alertas, esperamos a vinda definitiva e gloriosa do Cristo Salvador, e nas duas últimas semanas, lembrando a espera dos profetas e de Maria, preparamos o Seu nascimento em Belém.


A Liturgia deste Domingo é um veemente apelo à VIGILÂNCIA,
para acolher os Sinais de Deus.

   

Na 1ª Leitura, ISAÍAS profetiza a vinda de um descendente de David, que trará justiça e paz para o seu povo. (Is 2, 1-5)
É um dos oráculos mais bonitos de todo do Antigo Testamento.
Encarna a espera do Antigo Testamento e o Advento pré-cristão.
A um povo que vivia uma situação dramática de perigo de guerra, anuncia um futuro maravilhoso: fala de uma era messiânica, na qual todos os povos acorrerão a Jerusalém para adorar o único Deus.


  
O Evangelho é um apelo a uma VIGILÂNCIA permanente, para reconhecer o Senhor na sua chegada.
Será assim a realização do sonho do Profeta. (Mt 24, 37-44)
Para transmitir essa mensagem, Jesus usa três quadros:

- O 1º Quadro é da humanidade na época de Noé:
  Os homens viviam preocupados apenas em gozar a sua "vidinha".
Quando o dilúvio chegou, apanhou-os de surpresa e despreparados.

- O 2º Quadro fala dos trabalhos da vida quotidiana:
  Podem-nos levar a negligenciar a preparação da Vinda do Senhor.

- O 3º Quadro coloca o exemplo do dono de uma casa, que adormece e deixa a sua casa ser roubada pelo ladrão.

O que significa "estar vigilante"? 
 
- Será apenas estar sem pecado...para não ir para o inferno?
- Ou acolher as oportunidades de salvação, que Deus nos oferece?
Jesus continua a vir, para nos salvar e trazer a felicidade. 

E nós devemos estar sempre atentos para perceber cada vinda Sua.
Ele está presente nas palavras de quem nos orienta para o bem, nos gestos de amor dos irmãos, no esforço de quem se sacrifica para construir um mundo mais justo e fraterno.
Hoje, pelo medo provocado pelo desemprego, fome e violência, assistimos ao fenómeno da busca de refúgio no sagrado.
Mas o excesso de alegria de certas práticas religiosas sem compromisso pode  tirar-nos a possibilidade de perceber a chegada do Senhor.

- As celebrações festivas  tornam-nos mais vigilantes, mais acordados para a realidade que temos, a obrigação de transformar ou funcionam como sonífero, que nos impedem de ver a chegada daquele que vem sem aviso prévio?
 
Motivos que impedem o acolher do Senhor que vem:

- Prazeres da vida: A pessoa mergulhada nos prazeres fica alienada...
No domingo, dorme... passeia... pratica desportos... mas não sobra tempo para celebrar a sua fé na Comunidade...
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- Trabalho excessivo: A pessoa obcecada pelo trabalho esquece o resto:
Deus, a família, os amigos e a própria saúde...
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- Desatenção: O distraído não vê o Cristo, presente na pessoa sofredora... 
Acha que não é problema seu... é do governo... da Igreja...

Na minha vida,
o que mais me distrai do essencial e me impede tantas vezes de  estar atento ao Senhor que vem?

Como desejo preparar-me para o Natal deste ano?

- Apenas programando festas, presentes, enfeites, músicas?
 
- Ou numa atitude humilde e vigilante, a esse Cristo que vem?

- Que PAZ desejo construir?


Meditação: P. António Geraldo Dalla Costa CS
Ilustração: Nelso Geraldo Ferronatto
Fonte: http://www.buscandonovasaguas.com
Transcrição e passagem para português, de Portugal:  L. Santos

14 novembro, 2010

XXXVI Assembleia do Aniversário do RCC em Portugal

Realizada em Fátima, nos dias 12, 13 e 14 de Novembro de 2010


Organização:
Comunidade Pneumavita
Tema central:
"NADA TEMAS, POIS EU TE RESGATO." (Is 43,1)
Orientador:
José H. Prado Flores





 Para acesso directo às imagens, clique em:





Oradores:
José H. Prado Flores
Angela Chinese




Para acesso aos ENSINAMENTOS (som), clique em:

XXXVI ANIVERSÁRIO DO RCC, EM PORTUGAL
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NOTA: Os ensinamentos encontram-se repartidos em períodos de 7 a 10 minutos,  aproximadamente, facilitando assim o controlo do tempo a ocupar, perante eventual escassez. 

01 novembro, 2010

A experiência do Espírito e dos carismas


Série: Reflexão sobre "O que é o Renovamento Carismático" - Tema V)

Diác. João Carmona
Como definir e discernir a experiência inicial do Espírito

É um trabalho delicado descrever a acção do Espírito que, por definição, escapa às nossas categorias. Acresce ainda que, à partida, nos defrontamos com a dificuldade de falar de uma efusão do Espírito, sabendo que o Espírito já foi dado no baptismo.

A novidade

A novidade é, portanto, de natureza particular: trata-se da vinda nova do Espírito já presente, de uma efusão que não vem de fora mas que brota a partir de dentro. Recordamos o grito de Jesus: «Se alguém tem sede, venha a mim; e quem crê em mim que sacie a sua sede! Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de água viva». E o evangelista faz notar: «Ele falava do Espírito que haveriam de receber os que crêem nele» (Jo 7, 37-38).
Trata-se de um jorrar, de um desabrochar, de uma acção do Espírito que desencadeia e liberta energias interiores latentes. Trata-se de uma tomada de consciência mais acentuada da sua presença e do seu poder.

A visão de Francis A. Sullivan

Francis A. Sullivan, teólogo e professor na Universidade Gregoriana de Roma, descreve-a como «uma experiência religiosa que introduz a pessoa num sentido absolutamente novo da presença poderosa de Deus e da sua acção na sua vida, a qual implica, normalmente, um ou vários dons carismáticos» .

Não é fácil exprimir o indizível em palavras

Tratando-se do mistério da acção de Deus, não é fácil exprimir o indizível em palavras. Alguns falam de uma graça de actualização dos dons recebidos, de libertação do Espírito, de manifestação do baptismo, de fazer reviver o dom do Espírito recebido na confirmação, de um acolhimento em profunda docilidade ao Espírito.
Quem dela beneficia, sente-a como uma graça, como um renovamento de vida que é acompanhado de um sentimento de paz e de alegria, de uma qualidade nunca antes experimentada, como revitalização das graças sacramentais já recebidas, conferidas no baptismo e depois na confirmação, ou obtidas após a recepção de outros sacramentos: penitência, eucarístia, matrimónio, santa unção ou ordenação.
Este renovamento é sentido e percebido como uma libertação de potencialidades latentes do Espírito que quer conduzir a pessoa à plena realização da vocação própria, religiosa ou laica, como uma nova tomada de consciência, mais viva, da sua verdadeira identidade cristã que só a fé nos pode revelar, e que a vivifica e lhe dá um realismo novo e um impulso missionário.

Ligação entre o Espírito e os carismas: O Doador

É preciso acentuar a ligação entre o Espírito Santo e as suas manifestações, concentrando a atenção não sobre os dons mas sobre o Doador.
É bem conhecida a súplica de Santo Agostinho: «Não os teus dons, Senhor, mas Tu!». Os dons são a irradiação do Espírito, que é, Ele próprio, o Dom que encerra em si todos os dons.

As manifestações do Espírito são o Espírito Santo em acção

As manifestações do Espírito são o Espírito Santo em acção. Esta acção, ou moção de Deus, é infinitamente suave, discreta, soberanamente livre. O Espírito sopra onde, quando e como quer. É preciso evitar “coisificar” os dons, de fazer deles objectos, presentes que se distribuem, como se reparte uma herança, em lotes diversos.
Os dons estão para o Doador como os raios solares estão para o sol: não se identificam com ele mas estão inerentes a ele. O Espírito é inseparável dos seus dons. Ao recebê-Lo, recebo a plenitude dos seus bens, plenitude que deve ser considerada, não de maneira estática, mas dinâmica. A visibilidade dos dons e o seu exercício varia, naturalmente, de pessoa para pessoa mas, para cada um de nós, a moção do Espírito poderá significar uma mudança.

Não possuo os dons como uma propriedade de um objecto

Não possuo os dons como uma propriedade de um objecto; na verdade, sou possuído pelo Espírito que me move e me conduz na medida do seu amor infinito e segundo o grau da minha fé, da esperança e do amor que ele encontra em mim.
O Espírito que hoje me anima em vista de uma missão concreta poderá, amanhã, confiar-me uma outra; pode manifestar-se também em mim, não apenas através de um dom, mas de muitos, quer simultaneamente, quer sucessivamente.

É preciso corrigir o modo humano de pensar

É preciso corrigir o modo humano de pensar, de contar ou catalogar os dons de Deus. A enumeração que deles faz S. Paulo não tem preocupação de ser exaustiva, nem traduzir todas as variantes da acção multiforme do Espírito. S. Paulo está preocupado, antes de mais, em estabelecer a ordem nas assembleias litúrgicas de Corinto e não descrever a acção interior do Espírito.
O seu pensamento aparece sintetizado nesta afirmação: «A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum» (1Cor 12, 7). A convergência dos dons edifica a Igreja.
Diácono João Carmona
Labat n.º 85, de Julho de 1998

A estrutura e a experiência carismática na Igreja


Série: Reflexão sobre "O que é o Renovamento Carismático" - Tema IV)


Diác. João Carmona
Enquanto sacramento de Cristo, a Igreja torna-nos participantes na unção de Cristo, pelo Espírito. O Espírito Santo permanece na Igreja como perpétuo Pentecostes, e faz dela o Corpo de Cristo, o Povo de Deus, enchendo-a do seu poder, renovando-a sem cessar, chamando-a a proclamar o senhorio de Jesus para glória do Pai.
Esta “in-habitação” do Espírito na Igreja e nos corações dos cristãos como num templo é um dom para toda a Igreja: «Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?» (1Cor 3, 16; cf. 6, 19).
O dom primordial feito à Igreja não é senão o do próprio Espírito Santo. Com Ele vêm os dons gratuitos do Espírito, isto é, os carismas. O Espírito Santo, que é dado a toda a Igreja, torna-se visível através de diversas manifestações ou carismas que são como dons ordenados mais para a edificação do Reino de Deus, o serviço da Igreja e do mundo, do que para a perfeição dos indivíduos que os recebem.
Como tais, pertencem à própria natureza da Igreja. Está, portanto, fora de questão que um grupo ou movimento particular, no seio da Igreja, reivindique uma espécie de monopólio do Espírito e dos Seus carismas.
Se o Espírito e Seus carismas são inerentes à Igreja no seu conjunto, então são constitutivos da vida cristã e das suas diversas expressões, comunitárias ou individuais. Na comunidade cristã não há, em termos de direito, membros passivos, desprovidos de qualquer função ou ministério. «Há diversidade de dons, mas é o mesmo Espírito; diversidade de ministérios, mas é o mesmo Senhor; diversos modos de acção mas são o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito em vista do bem de todos» (1Cor 12, 4-7).
Neste sentido, todos os cristãos são carismáticos, e todos são, portanto, investidos num ministério ao serviço da Igreja e do mundo.
Está, portanto, fora de questão opor uma Igreja institucional a uma Igreja carismática.
Como escreveu Santo Ireneu: “Onde está a Igreja, está o Espírito, e onde está o Espírito de Deus, está a Igreja” (cf. S. Ireneu, Adversus Haereses, III, 21, I ‘Sources Crétiennes, 34, p.401’). Manifestando-se em diversas funções, é um mesmo Espírito que assegura a coesão entre o laicado e a hierarquia.
O Espírito e os seus dons são efectivamente constitutivos da Igreja, no seu todo como em cada um dos seus membros.
Os carismas são, contudo, de importância desigual. Os mais directamente ordenados para a edificação da comunidade possuem uma maior dignidade: «Vós sois o Corpo de Cristo; cada um, por sua parte, és os seus membros. Aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, primeiramente, os apóstolos, em segundo lugar, os profetas, e em terceiro lugar os que estão encarregados de ensinar; vêm, de seguida, o dom dos milagres, depois o de cura, o de assistência, o de direcção e o dom de falar em línguas» (1Cor 12, 27-28). O igualitarismo em matéria de carismas e de ministérios é estranho à vida da Igreja.

O acesso à vida cristã
Acedendo à vida cristã, todos os crentes tomam parte nas mesmas verdades, nos mesmos mistérios. E passam a ser, simultaneamente, membros do Corpo de Cristo e do Povo de Deus, participantes do Espírito e filhos do Pai. S. Paulo define o cristão simultaneamente em referência a Cristo e ao Espírito: «Se alguém não possui o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo» (Rm 8, 9). Nos Evangelhos, o que diferencia mais nitidamente o papel messiânico de Jesus, relativamente ao ministério de João Baptista, é o facto de Jesus ser Aquele que «baptiza no Espírito Santo». Segundo S. Paulo, é recebendo o Espírito Santo pelo baptismo que nos tornamos membros do Corpo de Cristo: «Nós fomos todos baptizados num só Espírito para sermos um só corpo, judeus ou gregos, escravos ou homens livres» (1Cor 12, 13).
O Novo Testamento descreve de diversas maneiras o acesso à vida cristã. Mas ele opera-se sempre sob o signo da fé. A unção da fé precede e acompanha a conversão (Cf. Jo 2, 20.27). A conversão conduz, no adulto, ao baptismo, à remissão dos pecados e ao dom da plenitude do Espírito. Este processo da fé está admiravelmente resumido na conclusão do discurso de Pedro no dia de Pentecostes: «Convertei-vos; que cada um de vós receba o baptismo em nome de Jesus Cristo para o perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo» (Act 2, 38).
Diácono João Carmona
Labat n.º 83 de Maio de 2008

Fundamento teológico


Série: Reflexão sobre "O que é o Renovamento Carismático" - Tema III)

Diác. João Carmona
- O fundamento teológico do Renovamento Carismático é, essencialmente, trinitário. A vida e comunhão Trinitárias e a experiência cristã:
Ninguém jamais viu o Pai (Jo 1, 18), nem O poderia ver nesta vida, porque «Ele habita numa luz inacessível» (1Tm 6, 16; 1Jo 4, 12.20).
Só o Filho viu e ouviu o Pai (Jo 6, 46). Ele é a «Testemunha» do Pai. Jesus de Nazaré deu testemunho do Pai; e aquele que viu, ouviu e tocou Jesus tem acesso ao Pai (1Jo 1, 1-3).
Depois que Jesus subiu para o Pai, nós não podemos mais vê-lO nem ouvi-lO em pessoa. Mas Ele enviou-nos o Seu Espírito, que nos recorda tudo o que Ele disse e fez, e o que os Seus companheiros viram e ouviram (Jo 14, 26; 16, 13).
Portanto, só através desse mesmo Espírito é que nós podemos agora ir a Cristo e, por Jesus Cristo, ter acesso ao Pai (Ef 2, 18).
O Pai revelou-se como a «Pessoa-Fonte», Princípio sem princípio, revelando o Seu «Nome» a Moisés: «Eu sou Aquele que sou».
No Novo Testamento, Jesus revela-se, por sua vez, como a imagem, o ícone, da «Pessoa-Fonte» (Cl 1, 15), retomando e aplicando a si próprio esta palavra da revelação (Jo 8, 24.28).
O Pai e o Filho são um; o Pai está no Filho, e o Filho está no Pai (Jo 17, 21; Cf. 10, 30). Jesus é a manifestação de «Aquele que é» (2Cor 4, 4; Hb 1, 3).
Quando Jesus emprega a forma «Nós» num sentido exclusivo (Jo 10, 30; 14, 23; 17, 21), este «Nós» refere-se ao Pai e a Ele próprio.
O Espírito procede deste «Nós»; Ele é, de uma maneira inefável, uma Pessoa em duas Pessoas.

O Espírito é o acto perfeito de comunhão entre o Pai e o Filho

É igualmente pelo Espírito que esta comunhão se pode comunicar ad extra (para fora).
A Igreja define-se efectivamente pela sua relação com esta comunhão de Pessoas. É a identificação de Jesus e dos cristãos (Act 9, 4s) só é possível em virtude da identidade do próprio Espírito Santo no Pai, no Filho e nos cristãos (Rm 8, 9).
Cristo comunicou-nos o Seu Espírito, que, sendo único na Cabeça e nos membros, dá a todo o Corpo a vida, a unidade e o movimento (LG 7). Porque é o mesmo Espírito que permanece simultaneamente em Cristo e na Igreja, a comunidade cristã pode chamar-se «Cristo» (1Cor 1, 13; 12, 12).
Os carismas são as manifestações desta “in-habitação” do Espírito (1Cor 12, 7), os sinais do Espírito que habita em nós (1Cor 14, 22). Ele manifesta-se assim de maneira visível e tangível: «Exaltado pela direita de Deus, (Jesus) [...] derramou o Espírito Santo como vós vedes e ouvis» (Act 2, 33).
Na consumação dos tempos, quando o Espírito Santo tudo tiver reunido nesta comunhão, Cristo «entregará a realeza a Deus Pai» (1Cor 15, 24).

A Igreja é a inauguração desta realeza (LG 5).
Entre Jesus e o Espírito há reciprocidade de relação. Jesus é Aquele a quem o Espírito é dado “sem medida” (Jo 3, 34; Lc 4, 1), porque o Pai O «ungiu com o Espírito Santo e o poder» (Act 10, 38). Ele foi conduzido pelo Espírito, e é pelo Espírito que o Pai O ressuscita dos mortos (Ef 1, 18-20; Rm 8, 11; 1Cor 6, 14; 2Cor 13,14).
Por sua vez, Jesus envia o Espírito, que Ele recebeu, e é pelo poder do Espírito Santo que alguém se torna um cristão: «Quem não tem o Espírito de Cristo, não lhe pertence» (Rm 8, 9). A marca essencial da iniciação cristã é a recepção do Espírito (Act 19, 1-7). Por outro lado, é o Espírito quem suscita a confissão de que «Jesus é Senhor» (1Cor 12, 3).
Esta relação recíproca de Jesus e do Espírito está orientada para a glória do Pai: «É graças a (Jesus) que todos, num só Espírito, temos acesso ao Pai» (Ef 2, 18).
Não se devem confundir as funções específicas de Cristo e do Espírito, na economia da salvação. Os cristãos são incorporados em Cristo, e não no Espírito. Mas é pela recepção do Espírito que alguém se torna cristão, um membro do corpo de Cristo.
É o Espírito quem opera esta comunhão constitutiva da unidade do Povo de Deus. Ele reúne na unidade porque faz da Igreja o Corpo de Cristo (Cf. 1Cor 12, 3). O Espírito realiza esta unidade entre Cristo e a Igreja, mantendo a sua distinção.
Pelo Espírito, Cristo está presente na sua Igreja, e é ao Espírito que pertence conduzir os homens à fé em Jesus Cristo. Como o Filho e o Pai, o Espírito é uma Pessoa; mas nem por isso Ele deixa de ser o Espírito de Cristo (Rm 8,9; Gl 4, 6).
Diácono João Carmona
Labat n.º 81, de Março de 2008

Contexto eclesial


Série: Reflexão sobre "O que é o Renovamento Carismático" - Tema II)

Diác. João Carmona
João XXIII

O Concílio Vaticano II foi convocado pelo Papa João XXIII sob a expressa invocação de um Novo Pentecostes para a Igreja. Foi esta a súplica que o Papa, em 1961 incluiu na Humanae Salutis: «Ó Espírito Santo enviado pelo Pai em nome de Jesus, que assistes a Igreja com a Tua presença e a diriges infalivelmente, digna-Te, nós Te pedimos, derramar a plenitude dos Teus dons sobre o Concílio Ecuménico. […] Renova neste nosso tempo as Tuas maravilhas, como num novo Pentecostes» .
Ora as primeiras manifestações do Renovamento Carismático Católico são referidas no começo de 1967, e há notícias de experiências espirituais carismáticas já no ano de 1966, imediatamente após o termo do Concílio Vaticano II.
No Concílio Vaticano II, uma das emendas mais significativas que foram introduzidas nos esquemas preparatórios da Constituição sobre a Igreja incidiu sobre o papel do Espírito Santo. Na Constituição Lumen Gentium, o dia de Pentecostes é apresentado como decisivo para a Igreja, que, efectivamente, tem «acesso ao Pai por Cristo, no único Espírito» (n. 4).
O Espírito assegura à Igreja «a unidade na comunhão e no serviço» (LG 4). É Ele quem distribui aos fiéis graças de toda a ordem, que os tornam disponíveis e capazes de assumir os diversos cargos e ofícios que são necessários à renovação e ao desenvolvimento da Igreja, porque é sempre «em vista do bem comum» que é concedido o dom do Espírito (1Cor 12, 7). Das mais espantosas às mais simples, essas graças são, antes de tudo, ajustadas às necessidades da Igreja e destinadas a responder a essas necessidades.

Paulo VI

Paulo VI, na alocução que pronunciou em 19 de Maio de 1975, perante dez mil participantes no Congresso Internacional do Renovamento Carismático, em Roma, disse: «A Igreja e o mundo têm, mais do que nunca, necessidade de que os prodígios de Pentecostes se renovem na história. […] Nada é mais necessário ao mundo, cada vez mais secularizado, do que o testemunho deste renovamento espiritual que nós vemos o Espírito Santo suscitar hoje nas mais diversas regiões e comunidades. […] Como é que, então, não haveríamos de considerar este renovamento espiritual como uma oportunidade para a Igreja e para o mundo? E como é que, nesta circunstância, poderíamos deixar de tomar todas as medidas necessárias para que ele continue? » .

João Paulo II

Em circunstâncias análogas, num discurso aos participantes no IV Congresso Internacional de lideres do Renovamento Carismático Católico, em 1981, o Papa João Paulo II confirmou a declaração de Paulo VI, dizendo: «O Papa Paulo VI descreveu o movimento do Renovamento no Espírito como uma oportunidade para a Igreja e para o mundo. E os seis anos que, entretanto, decorreram depois desse Congresso, bem justificaram a esperança inspirada por essa visão. A vossa reputação precede-vos, tal como o apóstolo Paulo na sua carta aos seus amados Filipenses, eu estou feliz de fazer ecoar no meu coração o mesmo sentimento: “Eu dou graças ao meu Deus todas sa vezes que penso em vós”(…). A Igreja viu os frutos da vossa dedicação à oração, num compromisso profundo pela santidade de vida e de amor à Palavra de Deus».
Por essa ocasião, João Paulo II introduziu uma importante referência ao papel dos sacerdotes no Renovamento Carismático. Desde o começo que leigos e sacerdotes estiveram juntos; todavia, o Renovamento alargou-se, por assim dizer, como um movimento laical do Povo de Deus – em união e atenção da hierarquia, mas também alvo de incompreensão de alguns padres.
A este propósito, João Paulo II disse: «O padre tem um papel único e indispensável a desempenhar no e para o Renovamento Carismático, do mesmo modo que para o conjunto da comunidade cristã. A sua missão não é nem oposta nem paralela ao do legítimo papel do laicado. […] O padre partilha a responsabilidade do bispo, de pregar o Evangelho. […] O padre, por seu lado, não pode exercer o seu serviço em favor do Renovamento a não ser que adopte uma atitude positiva a respeito do Renovamento, fundada sobre o desejo, partilhado com todos os cristãos baptizados, de acreditar nos dons do Espírito Santo».
Nesse mesmo discurso, João Paulo II entregou o Renovamento e a sua missão de renovação, a Nossa Senhora, com estas palavras: «E é a Maria, Mãe de Deus, sempre obediente ao impulso do Espírito Santo, que eu entrego, com toda a confiança, o vosso importante trabalho para a renovação na Igreja e da Igreja» .
E João Paulo II reafirma a confiança no Renovamento: «O vigor e os frutos do Renovamento dão testemunho da presença poderosa do Espírito Santo na Igreja durante estes anos que se seguiram ao Concílio Vaticano II. Certamente que o Espírito Santo guiou a Igreja em todo o tempo, distribuindo uma grande variedade de dons entre os fiéis. Graças ao Espírito Santo, a Igreja conserva constantemente a sua juventude e a sua vitalidade. E o Renovamento Carismático é uma manifestação eloquente dessa vitalidade hoje, uma afirmação vigorosa do que o “Espírito diz às Igrejas” (Ap 2, 7)».

Bento XVI

Bento XVI não dirigiu palavras específicas para o Renovamento Carismático Católico, mas fornece-nos algumas informações que podem ser úteis para um entendimento inicial do pensamento do Papa.

- Primeiramente, o Cardeal Ratzinger conhece o Renovamento Carismático há muito tempo. Na realidade, ele estava entre os Consultores Teológicos para o primeiro documento de Malines, elaborado pelo Cardeal Suenens: "Orientações Teológicas e Pastorais sobre o Renovamento Carismático Católico” (21 – 26 de Maio de 1974). Isto é referido em L.J. Cardeal Suenens, The Holy Spirit – Life Breath of the Church, (O Espírito Santo – Sopro de Vida da Igreja) Vol. II, Fiat Association Ertvelde, 2002, Pág. 11, nota 1.

- O Cardeal Ratzinger também escreveu a Apresentação à Edição italiana do 4º documento de Malines: “Renovamento e Poder da Escuridão”. Isto é referido em L.J. Cardeal Suenens, Rinnovamento e Potenze delle tenebre – Orientamenti teologici e pastorali, Edições Paulinas, Roma, 1985, pp. 5-8.

- O Cardeal Ratzinger falou sobre o Renovamento Carismático em um livro escrito com o jornalista Vittorio Messori (mesmo jornalista que escreveu um livro com o Papa João Paulo II): "Ratzinger Report" ("Relatório de Ratzinger"). Aqui estão duas passagens do livro:

• "O que traz muita esperança a toda a igreja universal – mesmo no meio da crise que a Igreja atravessa no mundo ocidental – é o surgimento de novos movimentos que ninguém planejou e que ninguém trouxe, mas que simplesmente emergem da vitalidade interna da fé. O que se está tornando aparente nesses movimentos – embora muito tenuamente – é algo muito similar à um tempo Pentecostal na Igreja. Estou pensando, por exemplo, no movimento do Renovamento Carismático, no movimento Cursilho, Focolarini, Comunhão e Libertação, etc..
Acho maravilhoso que o Espírito é mais uma vez mais forte que os nossos programas e vem e se manifesta de forma diferente do que havíamos imaginado…Cresce em silêncio. Nossa tarefa – a tarefa dos organizadores na Igreja e dos teólogos – é manter a porta aberta para eles, é abrir espaço para eles..." (pp. 43-44).

• "O período que se seguiu ao Concílio mal parecia sobreviver às esperanças de João XXIII, que implorava por um ‘novo Pentecostes’. Mas sua oração não deixou de ser ouvida. No coração de um mundo dissecado pelo cepticismo racionalista, uma nova experiência do Espírito Santo surgiu, tornando-se um movimento mundial de renovação. O que o Novo Testamento descreve com referência aos carismas, como sinais visíveis da vinda do Espírito, não são mais antigos ou história passada - esta história está tornando-se uma realidade queimando em nós hoje” . (p.151).

- O Cardeal Ratzinger dirigiu-se ao Congresso mundial de Movimentos Eclesiais com uma reflexão teológica sobre os Movimentos Eclesiais na Igreja, um pouco antes do famoso Pentecostes de 1998, quando o Papa João Paulo II se encontrou com 300,000 representantes de vários Movimentos da Igreja Católica. Isto é referido em: Conselho Pontifício para os Leigos, Movements in the Church, Laity Today, Vatican City, 1999, pp. 23-51: "The Ecclesial Movements - A Theological Reflection on Their Place in thChurch".

- O Cardeal Sodano, Secretário de Estado do Vaticano, escreveu uma mensagem ao congresso nacional do Renovamento no Espírito na Itália, que reuniu 25,000 pessoas em Rimini alguns dias atrás. A carta assinada pelo Cardeal Sodano incluiu a bênção apostólica do Santo Padre e confirmou as intenções do novo Papa em continuar a guiar “com afeição paternal” os movimentos eclesiais, associações e comunidades que foram nutridas pelo Papa João Paulo II.

- “Damos graças pelos muitos dons derramados sobre a Igreja através do Renovamento Carismático”, na mensagem de Bento XVI em 2007, por ocasião do 40º aniversário do RCC no mundo.

Exercício de Carismas

Os que estão comprometidos no Renovamento fazem a experiência dos carismas, de que fala a Lumen Gentium, e do sopro misterioso do Espírito, dando-se conta que, como indivíduos e como comunidade, foram introduzidos numa relação de fé pessoal com Deus, experiência que gera neles «um sentido mais vivo de Deus» (Gaudium et Spes, 7).
O carácter especial da experiência do Renovamento Carismático manifesta a natureza eclesial dos carismas – que, por um lado, estão em relação com as estruturas vivas da Igreja e com o seu ministério, e, por outro lado, com a experiência individual de Deus.

Em termos sacramentais

O Renovamento reagiu contra uma atenção demasiado estreita à interioridade e à subjectividade individuais. Em termos sacramentais, pode dizer-se que o Movimento Carismático é fundado sobre o renovamento daquilo que nos constitui como Igreja, a saber, os «sacramentos da iniciação cristã»: baptismo, confirmação, eucaristia. O Espírito Santo, recebido na iniciação, é constantemente acolhido de maneira mais profunda, tanto no plano pessoal como no comunitário; uma «metanoia» contínua se opera ao longo de toda a vida cristã.

A experiência

A experiência que está na base do Renovamento Carismático começa por um «ver e entender» (Act 2, 33; 1Jo 1, 1-3); ela comunica-se a um grupo ou a uma pessoa, por uma fé que dá testemunho do senhorio de Cristo pelo poder do Espírito.
Quando lemos nos Actos dos Apóstolos que aqueles que ouviram a pregação de Pedro «sentiram o coração trespassado», o autor quis significar que eles tinham sido atingidos pela palavra carismática do Apóstolo em todo o seu ser: corpo, espírito, inteligência, afectividade, vontade.

Carisma

Entendemos aqui por «carisma» um dom interior uma aptidão concedida pelo Espírito e revestida de força por Ele, posta ao serviço da edificação do Corpo de Cristo. Cada cristão possui um ou vários carismas para o governo ou o ministério da Igreja; portanto, estes carismas fazem parte integrante da vida eclesial, mas devem estar suportados por uma realidade mais fundamental: o amor de Deus e do próximo (1Cor 13). É este amor-caridade que dá valor a qualquer ministério; sem ele, os carismas seriam “vazios”.
O Renovamento Carismático quer lançar a todos os homens o mesmo apelo à conversão e libertar o “crente incrédulo”, prisioneiro inconsciente de um ateísmo de espírito e de coração.
Diácono João Carmona
Labat n.º 79, de Janeiro de 2008

Citações:
1. Humanae Salutis, 25 Dez. 1961.
2. Documentation Catholique, 1975, 562-563.
3. Idem, 154s.
4. Ibidem, 159-160.
5. Ibidem.