09 novembro, 2011

A PROVAÇÃO


 
Recentemente fui confrontado com uma provação daquelas que doem no coração, daquelas que não passam, e ficam connosco ao longo de muito tempo.

Não me revoltei, (talvez já a esperasse no meu intimo), mas confesso que me abalou e tive que recorrer a toda a minha força para não mostrar a dor, o espanto que me causou.

O meu primeiro pensamento foi para Deus, não no sentido de com Ele protestar, mas sim pedindo-lhe que me ajudasse, que nos ajudasse, a viver e ultrapassar a provação que tinha permitido acontecer.

Passado algum tempo pensando em tudo com o que tinha sido confrontado, fui reflectindo que, se louvo a Deus por tudo quanto de bom me acontece, porque não hei-de louvá-lo também no que me parece não ser bom, mas que se Ele permite, terá com certeza algo de bom a retirar, porque em Deus tudo se transforma, e até nas coisas menos boas, se encontram razões para dar graças.

Que seria de nós, se nas nossas vidas não existissem dificuldades, provações, dores e tristezas?
Seria possível aprender alguma coisa da vida, se tudo corresse sempre bem, conforme nosso desejo, conforme nossa vontade?
E não colidem tantas vezes os nossos desejos e as nossas vontades, com os desejos e as vontades dos outros?
Se tudo fosse sempre bom e assim sempre acontecesse imutavelmente, que liberdade teria eu de fazer diferente, de escolher outro caminho?

Curiosamente, quando somos pais, dizemos muitas vezes aos nossos filhos que têm de dar valor às dificuldades, às provações, às coisas que não correm tão bem, para poderem perceber a vida, e percebendo-a, lutar por uma vida melhor, para darem mais valor àquilo que têm, e que provavelmente outros não possuem.

A verdade também, é que na provação as pessoas se unem, sobretudo em família, para não só se ampararem, mas para ajudarem também aquele que sofre, pois no seu sofrimento todos os outros sofrem também.

E assim, numa reflexão provocada pela provação, cada um vai encontrando os seus erros, as suas fraquezas, na sua relação com os outros, e a vontade de criar harmonia para consolar quem precisa, leva a tentar corrigir esses defeitos e a encontrar no verdadeiro amor, a mais clara razão para encontrar a paz, para arranjar ânimo para a luta contra a dificuldade.

E isto é tão verdade, que na maior parte das provações que têm a ver com a saúde, com o bem-estar de cada um, (porque as outras provações são a maior parte das vezes causadas por erros nossos), o ter muitos ou poucos bens materiais pouco resolve, porque o consolo para quem assim sofre, e para os que sofrem á sua volta, reside apenas e só no amor, que afinal é despertado pela provação, para se tornar real e verdadeiro na relação familiar.

E se o amor acontece, acontece sem dúvida o bem!

Assim, podemos perceber como de uma provação que é permitida nas nossas vidas, Deus nos leva a encontrar caminho de coragem para a luta, porque alicerçado no amor que em nós derrama, é amor também entre nós que nos une indelevelmente.

Uma provação, se aceite no louvor a Deus, é então um momento de reencontro com um amor, que à força da rotina diária, tinha perdido chama e calor e assim sendo mais não era que uma relação bondosa, mas carente de afecto e doação permanente.

E seja qual for o final dessa provação, ela deixará sempre naqueles que a vivem o melhor da vida, que é o amor que une aqueles que se querem, abençoado por Deus.

Onde acontece o amor, está Deus.

E onde está Deus com o homem e o homem com Deus, acontece a felicidade serena e tranquila daqueles que esperam, porque acreditam e confiam.

«E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.» Mt 28, 20

Joaquim Mexia Alves

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