30 junho, 2019

Papa: amor a Jesus traduz-se na proximidade aos mais necessitados

 
 
No Angelus, o Santo Padre disse que seguir Jesus exclui arrependimentos e olhar para trás, mas requer a virtude da decisão. Comentando o Evangelho deste XIII Domingo do Tempo Comum, Francisco destacou que o ser discípulo de Cristo deve ser uma escolha livre e consciente, feita por amor, para retribuir a graça inestimável de Deus, e não um modo para promover-se a si próprio
 
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano

“Jesus quer-nos apaixonados por Ele e pelo Evangelho. Uma paixão do coração que se traduz em gestos concretos de proximidade, de proximidade aos irmãos mais necessitados de acolhimento e de atenção. Exatamente como Ele mesmo viveu.”

Foi o que disse o Papa Francisco no Angelus ao meio-dia deste domingo (30/06), em que a Igreja no Brasil celebra a solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e também o Dia do Papa.

Na alocução que precedeu a oração mariana, dirigindo-se aos milhares de fiéis, peregrinos e turistas presentes na Praça de São Pedro, o Pontífice explicou a página do Evangelho deste XIII Domingo do Tempo Comum (Lc 9,51-62), em que o Evangelista São Lucas dá início à narração da última viagem de Jesus rumo a Jerusalém, que se concluirá no capítulo 19. 

Decisão de seguir Jesus deve ser também ela total e radical

Francisco observou tratar-se de uma longa marcha não somente geográfica e espacial, mas espiritual e teológica rumo ao cumprimento da missão do Messias, acrescentando que “a decisão de Jesus é radical e total, e aqueles que o seguem são chamados a defrontar-se com ela.

O Santo Padre apresentou as três personagens que São Lucas indica no Evangelho do dia, “três casos de vocação, podemos dizer, que evidenciam o que é exigido a quem quer seguir Jesus até o fim, totalmente”, ressaltou.

O primeiro personagem promete a Jesus: “Eu te seguirei para onde quer que vás”. Generoso! Mas Jesus responde que o Filho do homem, diferentemente das raposas que têm as tocas e as aves do céu, ninhos, “não tem onde reclinar a cabeça. A pobreza absoluta de Jesus”. 

O cristão é um itinerante

“Efetivamente, Jesus deixou a casa paterna e renunciou a toda e qualquer segurança para anunciar o Reino de Deus às ovelhas perdidas do seu povo. Desse modo, Jesus indicou-nos, seus discípulos, que a nossa missão no mundo não pode ser estática, mas itinerante, o cristão é um itinerante”, explicou o Papa.

“Por sua natureza, a Igreja está em movimento, não fica sedentária e tranquila no seu recinto. É aberta aos mais vastos horizontes, enviada – a Igreja é enviada – a levar o Evangelho pelas estradas e a alcançar as periferias humanas e existenciais. Este é o primeiro personagem.” 

Primado do seguimento e do anúncio do Reino

O segundo personagem que Jesus encontra, continuou Francisco, recebe o chamamento diretamente d’Ele, porém responde: “Senhor, permite-me primeiro ir enterrar meu pai”. O Pontífice observou tratar-se de um pedido legítimo, fundado no mandamento de honrar pai e mãe. Todavia, Jesus replicou: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos”.

“Com estas palavras, propositadamente provocatórias, Ele quer afirmar o primado do seguimento e do anúncio do Reino de Deus, mesmo sobre as realidades mais importantes, como a família. A urgência de comunicar o Evangelho, que rompe a cadeia da morte e inaugura a vida eterna, não admite atrasos, mas requer prontidão e total disponibilidade. Ou seja, a Igreja é itinerante, aí a Igreja é decidida, tem pressa, no momento, sem esperar.” 

Seguir Jesus exclui indecisões e repensamentos

O terceiro personagem apresentado pelo Evangelista quer também seguir Jesus, mas, com a condição de antes despedir-se dos parentes, e ele ouve o Mestre dizer-lhe: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus”. Francisco destacou que o seguir Jesus exclui arrependimentos e olhar para trás, mas requer a virtude da decisão.

O valor destas condições colocadas por Jesus – itinerante, prontidão e decisão – não está numa série de “não” ditos a coisas boas e importantes da vida, explicou o Papa. 

Não se segue Jesus por conveniência. Ai dos carreiristas!

“O acento deve ser colocado no objetivo principal: tornar-se discípulo de Cristo! Uma escolha livre e consciente, feita por amor, para retribuir a graça inestimável de Deus, e não feita como um modo para promover-se a si próprio. Isto é triste! Ai daqueles que pensam seguir Jesus para promoverem-se, isto é, para fazerem carreira para sentirem-se importantes ou adquirirem um lugar de prestígio.”

“Que a Virgem Maria, ícone da Igreja em caminho, nos ajude a seguir o Senhor com alegria e a anunciar aos irmãos, com renovado amor, a Boa Nova da salvação”, disse Francisco voltando o seu pensamento para Nossa Senhora. 

Atenção à península coreana

Após a oração mariana, o Pontífice comentou o aperto de mão este domingo, na Coreia, entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o seu homólogo norte-coreano Kim Jong-un:

“Nas últimas horas assistimos na Coreia a um bom exemplo de cultura do encontro. Saúdo os protagonistas, com a oração a fim de que tal gesto significativo constitua um passo ulterior no caminho da paz, não somente naquela península, mas a favor do mundo inteiro.”

VN

29 junho, 2019

Homilia das Ordenações, na solenidade de São Pedro e São Paulo


O horizonte cristão generosamente oferecido

Irmãos caríssimos, especialmente os que sereis ordenados diáconos e presbíteros nesta solenidade de São Pedro e São Paulo:

Parto de duas passagens das leituras de há pouco. A primeira sobre Pedro quando, estando preso, «a Igreja orava instantemente a Deus por ele». Importante então, como importa sempre, como importa agora. Estas ordenações envolvem-se na oração da Igreja, que aqui todos somos. São momento de graça, a graça é de Deus e a Deus a pedimos para os ordinandos.

Não é um pormenor, coisa que pudesse ser ou não ser. É indispensável que seja assim, para que os ministros ordenados prossigam exterior e interiormente livres no serviço que Deus lhes confia. Rezar pelos ministros sagrados é garantir a constante sacralidade do seu serviço, que só com Deus levarão por diante. Daqui a pouco, nas ladainhas, invocaremos os amigos do Céu, que decerto os acompanharão. Hoje e depois, pessoal e comunitariamente, sejamos os seus melhores amigos na terra, concretizando a amizade em oração Estaremos cada vez melhor, nós e eles, quando o fizermos sempre mais.  

Ouvimos a Paulo: «E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda». Reparemos no âmbito. Vistas largas e da maior distância, muito além de qualquer desejo imediato e comum. A coroa que Paulo tem por certa, para si e para nós que o ouvimos, é o próprio Senhor Jesus, pondo como condição esperar com amor a sua vinda.

Nada menos do que isso, como dirá noutro passo das suas cartas, vivíssimo resumo da sua espiritualidade. Quase o devíamos soletrar: «Assim posso conhecê-lo a Ele [Cristo], na força da sua ressurreição e na comunhão com os seus sofrimentos, conformando-me com Ele na morte, para ver se atinjo a ressurreição de entre os mortos. Não que já o tenha ou já seja perfeito; mas corro, para ver se o alcanço, já que fui alcançado por Cristo Jesus» (Fl3, 10-12). Não conheço melhor síntese do que seja e deva ser a vida em Cristo como desejo e alcance.

Tão grande alcance, este que em Jesus se atinge, só Deus no-lo desvenda. Como ouvimos há pouco, depois de Pedro afirmar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus vivo: «Feliz de ti, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim meu Pai que está nos Céus».

“Carne e sangue” somos nós, só por nós e como humanidade apenas. Dá alguma coisa para a terra, mas é insuficiente para o céu. Pó levantado e logo poisado, por algum vento que sopre e deixe de soprar. Além, muito além, nos levará o Espírito divino, que de Deus Pai nos leva a Cristo, para em Cristo nos elevar ao Pai. Aí sim, nos poderemos reconhecer e realizar infinitamente também. Testemunhá-lo na vida e oferecê-lo em palavras e gestos sacramentais é a essência do ministério ordenado. Isto mesmo e nada menos do que isto.

Aplico-o brevemente aos diáconos e aos presbíteros. Quando o II Concílio do Vaticano restaurou o diaconado permanente, fê-lo com a intenção de realçar e capacitar a dimensão de serviço na Igreja e da Igreja para o mundo. Os que são ordenados neste grau tornam-se sacramento da diaconia de Cristo, que nesses termos se apresentou a si próprio: «Eu estou no meio de vós como aquele que serve [= um diácono] (Lc22, 27).»

Pois bem, sacramento da diaconia de Cristo significa serviço com Cristo o prestou e no sentido pleno que só Cristo proporciona a quem serve. Será simples, concreto e eficaz como todo o serviço humano deve ser. Mas será tão total, profundo e benéfico como só divinamente pode acontecer. Afirma o Diretório do ministério e da vida dos diáconos permanentes(nº 49-50): «Crescer na imitação do amor de Cristo pelo homem, amor que supera os limites de toda a ideologia humana, será, portanto, tarefa essencial da vida espiritual do diácono […]. O diácono, portanto, deve lembrar-se que viver a diaconia do Senhor supera toda a capacidade natural».

Assim sendo, caríssimos ordinandos de diácono, deveis pedir instantemente a graça de servir com os sentimentos de Cristo, atentos como Ele aos mais pobres, prestáveis para todos, amáveis e simples, com inteira qualidade evangélica.

Dirijo-me agora a vós, caríssimos ordinandos de presbítero, lembrando o que São Paulo VI escreveu há meio século na encíclica Sacerdotalis Caelibatus, cuja oportunidade permanece. Na verdade, as objeções que aqui e ali se levantam ao exercício celibatário do sacerdócio na nossa Igreja Latina, já veem todas elencadas e refutadas nesse notável documento, o mais completo e sistemático do magistério pontifício sobre o assunto.

Escreve o Papa Montini: «O sacerdócio cristão, que é novo, não pode compreender-se senão à luz da novidade de Cristo, Pontífice supremo e Sacerdote eterno, que instituiu o sacerdócio ministerial como participação real no seu sacerdócio único» (SC, 19).

No vosso caso, o dom do celibato reforça a imagem de Cristo sacerdote, que assim mesmo viveu, como oferta de Deus Pai a todos, para todos oferecer consigo ao Pai. É esta particular coincidência que realça e ativa a novidade evangélica, prossegue São Paulo VI: «É o mistério da novidade de Cristo […] que torna desejável e digna a escolha da virgindade por parte dos que são chamados pelo Senhor a participar da sua função sacerdotal e a partilhar o seu próprio estilo de vida» (SC, 23).

No mesmo sentido escreveu recentemente o Papa Francisco, destacando entre as vocações cristãs, nomeadamente laicais e matrimoniais, não menos preciosas, a vocação à vida consagrada ou sacerdotal: «No encontro com o Senhor, alguém pode sentir o fascínio de uma chamada à vida consagrada ou ao sacerdócio ordenado. Trata-se de uma descoberta que entusiasma e, ao mesmo tempo, assusta, sentindo-se chamado a tornar-se “pescador de homens” no barco da Igreja através de uma oferta total de si mesmo e de um serviço fiel ao Evangelho e aos irmãos. […] E, todavia, não há alegria maior do que arriscar a vida pelo Senhor!» (Mensagem para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, 31 de janeiro de 2019).   

Cristo valorizava o bem que outros faziam, mesmo não pertencentes ao seu grupo; e a Igreja não tem o monopólio da bondade, nem sequer o da religião, que são lote comum e propensão espontânea de toda a criatura humana. Mas atrai sempre para o ultimo estádio das coisas - das que no tempo acontecem, não como fim em si mesmas, antes promessa além delas. Quando tal não sucede e as realidades temporais se absolutizam, tudo descai e definha, como tragicamente sucede.

Jesus Cristo inaugurou um mundo em que só Deus é Senhor, para que todos sejamos verdadeiramente filhos e solidariamente irmãos. Não constituiu uma família de sangue, para assinalar a família divina que há de ser a de todos.

Por isso mesmo, entre as várias vocações e carismas, surge a vida consagrada e celibatária, para que não se esbata, antes alimente, a tensão para o que seremos finalmente em Deus. Como anunciou: «Na ressurreição nem os homens terão mulheres nem as mulheres, maridos; mas serão como anjos no Céu» (Mt22, 30). Bem  vistas as coisas, a vida terrena, na variedade das suas formas, deve educar-nos para a visão de Deus, essa sim absoluta, bastante e eterna.

Viver o ministério sacerdotal como Cristo e Paulo o viveram, celibatário e total, é um legado indispensável da tradição viva que assim mesmo iniciaram. Significa e alimenta em quem o vive a radicalidade evangélica de quem deixa o habitual para alcançar ainda mais. Todos deixaremos tudo, tarde ou cedo, quando a morte nos levar. Todos ganharemos tudo, se desde já o ganharmos em Cristo, na caridade que nunca acabará. Alguns e algumas, pelo sacerdócio celibatário e pela virgindade consagrada, realizam-no especialmente em si, para o lembrarem aos outros, como horizonte final e aberto. Diz-se que “o homem é a medida de todas as coisas”; mas, em Cristo, é Deus a medida da humanidade inteira.

Com o vosso serviço evangélico, caríssimos ordinandos de diácono, ativareis em toda a comunidade a disponibilidade constante e atenta que Cristo teve e oferece.

Com o vosso sacerdócio celibatário, caríssimos ordinandos de presbítero, manifestareis o coração de Cristo, onde todos igualmente cabem. Assim será por fim e assim o assinalareis agora.

É este o horizonte cristão, generosamente oferecido.

+ Manuel, cardeal-patriarca
Santa Maria de Belém, 29 de junho de 2019         

Patriarcado de Lisboa

Mensagem - Programa Pastoral 2019-2020


Caríssimos diocesanos

No ano pastoral 2019-2020 continuaremos a receção sistemática da Constituição Sinodal de Lisboa, aplicando especialmente o seu número 53: «Sair com Cristo ao encontro de todas as periferias…».

Não esqueceremos o objetivo transversal de «fazer da Igreja uma rede de relações fraternas» (CSL, 60), reforçando a todos os níveis as instâncias e os dinamismos de participação comunitária. Também nesse sentido, a insistência na ação caritativa nos levará a trabalhar em conjunto para melhor servirmos quem mais precisa de ser atendido.

Detetar em cada meio aqueles que, estando mais periféricos, mais precisam de ser centralizados na nossa atenção e cuidado é o que procuraremos fazer. Podem ser pessoas ou grupos menos integrados, podem ser os que estão sós e pouco visitados, podem ser os que têm dificuldades de ordem física ou doença, podem ser os que chegam de perto ou de longe e requerem acolhimento…

Para o cumprimento de tal objetivo, cada comunidade é chamada a verificar a sua situação específica, conforme o território geográfico e sociocultural. O Patriarcado (Lisboa, Termo e Oeste) comporta efetivamente uma grande variedade de situações. “Ver, julgar e agir” continua a ser o melhor método pastoral, como Jesus fez com os seus primeiros discípulos.

O Departamento da Pastoral Sociocaritativa elaborou a “proposta de objetivos” que se inclui e detalha neste Programa-Calendário. Sublinho três momentos: O Dia da Solicitude (18 de outubro), o Congresso da Pastoral Social (15-16 de maio) e a Semana Vicarial da Caridade, na data a escolher por cada Vigararia. Sobre cada um deles o Departamento dará indicações e estará disponível.

O Dia da Solicitude, em outubro, será um momento de partilha das ações programadas por cada comunidade e instituição sociocaritativa em ordem ao cumprimento deste programa. Pede-se que algum representante de cada uma delas ponha em comum o que planearam fazer nesse sentido. Todos ganharemos com isso, reforçando ou incluindo iniciativas, no sentido de “centralizar as periferias” correspondentes. A palavra “solicitude” significa diligência no modo de atender, disponibilidade para ser útil aos outros, cuidado, prontidão e zelo.

O Congresso da Pastoral Social, em maio, será o momento desses mesmos e outros que se juntem avaliarem o que se conseguiu realizar e apurarem critérios para o fazer porventura melhor no futuro.

A Semana Vicarial da Caridade é da organização de cada Vigararia. A sua efetivação também não é difícil de delinear: Trata-se de juntar na ocasião mais propícia as diferentes instituições e iniciativas sociocaritativas da Vigararia numa ação comum em que todos cooperem; dedicar nessa mesma semana algum tempo para formação dos agentes pastorais desta área; proporcionar-lhes um tempo de recoleção espiritual motivadora.

Proponho ainda que o Tempo Pascal esteja especialmente atento à presença e ação do Espírito Santo, dom essencial do Ressuscitado e verdadeira alma da Igreja, da evangelização e da caridade. É com gosto que verifico a crescente atenção de várias comunidades ao Espírito divino, da Páscoa ao Pentecostes, para que assim seja em todo o ano também.

Ao mesmo tempo que decorre o novo Ano Pastoral, avançaremos para o grande horizonte que o Papa Francisco nos abriu no Verão de 2022, a Jornada Mundial da Juventude. A respetiva preparação vai mobilizar-nos crescentemente. Mas o reforço sociocaritativo que entretanto fizermos será a sua melhor garantia!

Convosco,

+ Manuel, Cardeal-Patriarca

Lisboa, 29 de junho de 2019

Patriarcado de Lisboa

Papa: a única medida possível para quem segue Jesus é amar sem medida

 
 
"Os Apóstolos, tendo encontrado Jesus e experimentado o seu perdão, testemunharam uma vida nova: não mais se pouparam, deram-se a si mesmos. Não se contentaram com meias medidas, mas adotaram a única medida possível para quem segue Jesus: a de um amor sem medida", disse o Papa na Missa deste dia 29 de junho, solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
 
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano

“A santidade não está no elevar-se mas em humilhar-se: não é uma subida na classificação, mas confiar dia a dia a própria pobreza ao Senhor, que realiza grandes coisas com os humildes.” Foi o que disse o Papa Francisco na missa celebrada na Basílica Vaticana na manhã deste sábado, 29 de junho, solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, na qual abençoou os pálios destinados aos trinta e um arcebispos metropolitanos nomeados nos últimos doze meses.

Na homilia da santa missa concelebrada, entre outros, por estes arcebispos metropolitanos da recente nomeação, o Pontífice ateve-se à figura dos Santos Pedro e Paulo, colunas da Igreja que em Roma sofreram o martírio do qual testemunhas do Evangelho.

De facto, Francisco destacou que os dois apóstolos “aparecem aos nossos olhos como testemunhas. Nunca se cansaram de anunciar, viver em missão, a caminho, desde a terra de Jesus até Roma. E aqui levaram o seu testemunho até ao fim, dando a vida como mártires”.

A partir daí, o Papa desenvolveu sua reflexão sobre Pedro e Paulo os quais são testemunhas de vida, testemunhas de perdão e testemunhas de Jesus. 

Testemunhas de vida

Testemunhas de vida… e, todavia, as suas vidas não foram límpidas nem lineares, destacou o Pontífice. “Eram ambos de índole muito religiosa: Pedro, discípulo da primeira hora; Paulo, acérrimo defensor das tradições dos pais. Mas cometeram erros enormes: Pedro chegou a negar o Senhor; Paulo, a perseguir a Igreja de Deus”.

Jesus chamou-os pelo seu nome e mudou as suas vidas. E, depois de todas estas aventuras, fiou-Se neles, dois pecadores arrependidos. Poderíamos perguntar: Porque é que o Senhor não nos deu duas testemunhas integérrimas, com a ficha limpa, com a vida ilibada? Porquê Pedro, quando havia João? Porquê Paulo e não Barnabé? – frisou Francisco, acrescentando que nisto encerra-se uma grande lição:

“O ponto de partida da vida cristã não está no facto de sermos dignos; como aqueles que se julgavam bons, bem pouco pôde fazer o Senhor. Quando nos consideramos melhores que os outros, é o princípio do fim. O Senhor não realiza prodígios com quem se crê justo, mas com quem sabe que é necessitado. Não é atraído pela nossa habilidade, não é por isso que nos ama. Ele ama-nos como somos, e procura pessoas que não se bastam a si mesmas, mas estão prontas a abrir-Lhe o coração. Pedro e Paulo apresentaram-se assim transparentes diante de Deus.”

Pedro disse-o imediatamente a Jesus: «Sou um homem pecador». Paulo escreve que era «o menor dos apóstolos, nem [era] digno de ser chamado Apóstolo». E, na vida, mantiveram-se nesta humildade até ao fim, prosseguiu o Papa. 

Testemunhas de perdão

Qual foi o segredo que, no meio das fraquezas, os fez continuar por diante? O perdão do Senhor, disse Francisco. “Descubramo-los, pois, como testemunhas de perdão.

“Nas suas quedas, descobriram a força da misericórdia do Senhor, que os regenerou. No seu perdão, encontraram uma paz e alegria irreprimíveis. Com o mal que fizeram, poderiam viver com sentimentos de culpa: quantas vezes terá Pedro pensado na sua negação! Quantos escrúpulos para Paulo, que fizera mal a tantas pessoas inocentes! Humanamente, faliram; mas encontraram um amor maior do que os seus fracassos, um perdão tão forte que curava até os seus sentimentos de culpa. Só quando experimentamos o perdão de Deus é que renascemos verdadeiramente. Recomeça-se daqui: do perdão.” 

Testemunhas de Jesus

Testemunhas de vida, testemunhas de perdão, Pedro e Paulo são sobretudo testemunhas de Jesus, continuou o Pontífice. “Para a testemunha, mais do que um personagem da história, Jesus é a pessoa da vida: é o novo, não o já visto; a novidade do futuro, não uma lembrança do passado. Por isso, não é testemunha quem conhece a história de Jesus, mas quem vive uma história de amor com Jesus. Porque, no fundo, o que a testemunha anuncia é apenas isto: Jesus está vivo e é o segredo da vida”, disse ainda.

Diante destas testemunhas, interroguemo-nos: Renovo eu cada dia o encontro com Jesus? Talvez sejamos curiosos sobre Jesus, talvez nos interessemos por coisas de Igreja ou notícias religiosas. Abrimos sites e jornais, e conversamos sobre coisas sagradas. Mas, assim, ficamos no que dizem os homens, nas sondagens, no passado. Mas isto, a Jesus, interessa-Lhe pouco. Não quer repórteres do espírito, e muito menos cristãos de capa de revista. Ele procura testemunhas, que Lhe digam dia a dia: «Senhor, Tu és a minha vida», ressaltou o Papa.
“Os Apóstolos, tendo encontrado Jesus e experimentado o seu perdão, testemunharam uma vida nova: não mais se pouparam, deram-se a si mesmos. Não se contentaram com meias medidas, mas adotaram a única medida possível para quem segue Jesus: a de um amor sem medida.”
Francisco exortou-nos a pedir “a graça de não sermos cristãos tíbios, que vivem de meias medidas, que deixam resfriar o amor. Encontremos as nossas raízes na relação diária com Jesus e na força do seu perdão. Como a Pedro, Jesus pergunta-te também: Quem sou Eu para ti? Tu Amas-me? Deixemos que estas palavras penetrem dentro de nós e acendam o desejo de não nos contentarmos com o mínimo, mas de apontar para o máximo: sermos, também nós, testemunhas vivas de Jesus”, exortou o Papa.. 

Os pastores não vivem para si mesmos, mas para as ovelhas

Francisco concluiu referindo-se aos pálios precedentemente por ele abençoados no início da celebração eucarística. Destacou que o pálio recorda a ovelha a que o Pastor é chamado a carregar aos ombros: “é sinal de que os Pastores não vivem para si mesmos, mas para as ovelhas; é sinal de que, para possuir a vida, é preciso perdê-la, dá-la”.

Por fim, Francisco saudou a Delegação do Patriarcado Ecuménico, presente na celebração, “segundo uma bela tradição”, frisou. “A vossa presença lembra-nos que não nos podemos poupar no caminho rumo à plena unidade entre os crentes, na comunhão a todos os níveis.”

VN

28 junho, 2019

Papa ao Apostolado da Oração: o coração da missão da Igreja é a oração

 
 Papa Francisco na audiência ao Apostolado da Oração, na Sala Paulo VI - Vaticano
 
"A oração suscita sempre sentimentos de fraternidade, abate as barreiras, supera os confins, cria pontes invisíveis, mas reais e eficazes, abre horizontes de esperança", disse Francisco ao receber em audiência esta sexta-feira (28/06) a Rede Mundial de Oração pelo Papa que completa 175 anos de fundação. A associação pública de fiéis é também conhecida como "Apostolado da Oração"
 
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano

“Um serviço mais do que nunca necessário, que ressalta o primado de Deus na vida das pessoas, favorecendo a comunhão na Igreja”: assim Francisco definiu a atividade desempenhada pela Rede Mundial de Oração do Papa, ao receber em audiência na Sala Paulo VI, no Vaticano, ao meio-dia desta sexta-feira (28/06), seis mil membros do “Apostolado da Oração” provenientes do mundo inteiro, dos quais, 850 do continente americano presentes com doze delegações.

O Santo Padre expressou a alegria de encontrá-los e acolhê-los nesta ocasião dos 175 anos da Rede Mundial, agradecendo pelo empenho de oração e de apostolado a favor da missão da Igreja. 

Testemunhos

Agradecendo também pelos testemunhos precedentemente dados, no seu discurso aos presentes o Pontífice ateve-se a estes, nos quais descreveram os vários aspetos do serviço de animação espiritual do “Apostolado da Oração”.

Pe. Matthew, que trabalha em Taiwan, disse Francisco, ofereceu-nos informações interessantes acerca da versão de Clique para rezar em chinês. 

Oração cria pontes invisíveis, mas reais e eficazes

“É belo saber que os chineses, para além das dificuldades de diferentes naturezas, podem sentirem-se realmente unidos na oração, encontrando nela um válido auxílio no conhecimento e no testemunho do Evangelho. A oração suscita sempre sentimentos de fraternidade, abate as barreiras, supera os confins, cria pontes invisíveis, mas reais e eficazes, abre horizontes de esperança.”

Seguidamente, o Santo Padre referiu-se ao testemunho de Marie Dominique, que contou a missão do Apostolado da Oração em França, onde esta realidade nasceu há 175 anos atrás. Do seu testemunho, ressaltou o Papa, entendemos que as intenções de oração tornam concreta a missão de Jesus no mundo. 

Na oração, assumir as alegrias e sofrimentos das pessoas

“A Igreja, através da sua rede de oração e as intenções para cada mês, fala ao coração dos homens e das mulheres  do  nosso tempo”, acrescentou.
“ Todos nós, pastores, consagrados e fiéis leigos, somos chamados a entrar na história concreta das pessoas que estão ao nosso lado sobretudo rezando por elas, assumindo na oração as suas alegrias e os seus sofrimentos. Deste modo responderemos ao apelo de Jesus que nos pede para abrir o nosso coração aos irmãos, especialmente aos que são provados no corpo e no espírito. ”
É oportuno, neste dia da solenidade do Sagrado Coração de Jesus, recordar o fundamento da nossa missão, como fez Betina (Argentina), destacou o Papa referindo-se ao que disse mais uma das pessoas que deram seu testemunho no âmbito da missão realizada pelo “Apostolado da Oração”. 

Testemunhas e mensageiros da misericórdia de Deus

“Trata-se de uma missão de compaixão pelo mundo, podemos dizer, um ‘caminho do coração’, ou seja, um itinerário orante que transforma a vida das pessoas. O coração de Cristo é tão grande que deseja acolher-nos a todos na revolução da ternura”, frisou Francisco, acrescentado que “somos chamados a ser testemunhas e mensageiros da misericórdia de Deus, para oferecer ao mundo uma perspectiva de luz onde há trevas, de esperança onde reina o desespero, de salvação onde abunda o pecado”.

O Papa aludiu ainda ao testemunho da religiosa etíope, Irmã Selam, que com os jovens do Movimento Eucarístico Juvenil, frisou Francisco, “ajuda a contemplar a ação do Espírito Santo naquela terra. É importante ajudar as novas gerações a crescer na amizade com Jesus através do encontro íntimo com Ele na Oração, na escuta da sua Palavra, recebendo a Eucaristia para ser dom de amor ao próximo”. 

Na oração, o encontro entre avós e netos

O Santo Padre referiu-se ao entusiasmo de Diego (Guatemala) – mais uma das testemunhas - a favorecer o encontro entre avós e netos na oração pela paz no mundo e pelos grandes desafios da humanidade de hoje.

Na Rede de oração do Papa encontram-se várias gerações, disse Francisco, “é bonito pensar como os avós podem ser exemplo para os jovens, indicando-lhes o percorrer do caminho da oração”. 

Mundo digital: missão da Igreja nos areópagos modernos

O Pontífice agradeceu o testemunho de Pe. António (Portugal), que disse como o Apostolado da Oração, entrando no mundo digital, aproxima anciãos e jovens, ajudando-os a dar nova vitalidade ao tradicional apostolado da oração.

“É preciso que a missão da Igreja se adeque aos tempos e utilize os instrumentos modernos que a técnica coloca à disposição. Trata-se de entrar nos areópagos modernos para anunciar a misericórdia e a bondade de Deus.” 

Servirmo-nos da Internet sem nos tornarmos servos

Por fim, o Papa disse ser preciso, porém, prestar atenção, ao servirem-se destes meios, especialmente da rede de Internet, sem tornarem-se servos dos meios. É preciso evitar torna-mo-nos reféns de uma rede que nos prende, ao invés de ‘pescar peixes’, ou seja, atrair almas para levá-las ao Senhor.

“O apostolado da Oração, com a sua Rede mundial de oração pelo Papa e em comunhão com ele, recorda que o coração da missão da Igreja é a oração”, concluiu Francisco.

VN

27 junho, 2019

Papa à FAO: falta de alimento combate-se com compaixão e vontade política

 
 
Na origem do drama da fome, o Papa apontou sobretudo a falta de compaixão, o desinteresse de muitos e uma escassa vontade social e política no momento de responder às obrigações internacionais. Francisco agradeceu "de coração" o trabalho de Graziano da Silva, que deixa a direção da FAO depois de dois mandatos.
 
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

O Papa Francisco recebeu no final da manhã desta quinta-feira (27/06) os cerca de 500 participantes da 41ª Sessão da Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O tema em debate é “Migrações, agricultura e desenvolvimento rural”.

No início do seu discurso, o Pontífice manifestou agradecimento e reconhecimento ao Diretor-Geral, José Graziano da Silva, que daqui a poucas semanas concluirá o seu serviço à frente da FAO. "Obrigado de coração pelo seu trabalho." O Papa felicitou o sucessor, também presente na audiência, o chinês Qu Dongyu. 

Desafio do "Fome Zero"

Em mérito ao tema da Conferência, Francisco afirmou que o objetivo “Fome Zero” permanece ainda um grande desafio, mesmo reconhecendo que nas últimas décadas houve um grande avanço.

O Pontífice recordou que para combater a falta de alimento e acesso à agua potável, é preciso trabalhar sobre as causas que as provocam. E na origem deste drama, o Papa apontou sobretudo a falta de compaixão, o desinteresse de muitos e uma escassa vontade social e política no momento de responder às obrigações internacionais.
“ A falta de alimento e de água não é um assunto interno e exclusivo dos países mais pobres e frágeis, mas diz respeito a cada um de nós. Todos somos chamados a escutar o grito desesperado dos nossos irmãos. ”
Como um dos meios ao nosso alcance, Francisco indicou a redução do desperdício de alimentos e de água; para isso, a educação e a sensibilização social é um investimento a curto e longo prazos. 

O problema de um é o problema de todos

O Papa reiterou a conexão que existe entre a fragilidade ambiental, a insegurança alimentar e os movimentos migratórios.

“O aumento do número de refugiados no mundo durante os últimos anos demonstrou-nos que o problema de um país é o problema de toda a família humana”, afirmou Francisco.

Para isso, é necessário promover um desenvolvimento agrícola nas regiões mais vulneráveis, fortalecendo a resiliência e a sustentabilidade do território.

O Pontífice reforçou a legitimimidade da FAO como instituição para coordenar medidas incisivas, em parceria com outras organizações internacionais. “O esforço conjunto de todos fará tornar realidade as metas e os compromissos assumidos.”

O Papa concluiu reafirmando a disponibilidade da Santa Sé para cooperar com a FAO, apoiando o esforço internacional para a eliminação da fome no mundo e garantindo um futuro melhor para o nosso planeta e a humanidade inteira.

VN

Bento XVI: o Papa é um só, Francisco

 
Papa Francisco e o Papa emérito Bento XVI 
 
O Papa emérito recorda, numa entrevista, que a história da Igreja foi sempre marcada por lutas internas e cismas: mas a unidade deve prevalecer sempre
 
Cidade do Vaticano

“A unidade da Igreja está sempre em perigo, há séculos. Foi assim em toda a sua história. Guerras, conflitos internos, ameaças de cismas. Mas sempre prevaleceu a consciência de que a Igreja é e deve ficar unida. A sua unidade foi sempre mais forte do que as lutas e as guerras internas”. Esta é a certeza de Bento XVI que recorda a todos: “O Papa é um só, Francisco”.

A sua preocupação pela unidade da Igreja é ainda mais forte nos tempos atuais, nos quais os cristãos mostram-se muitas vezes divididos em público e confrontam-se também em exaltadas discussões, muitas vezes usando de modo absolutamente impróprio o nome de Ratzinger. As palavras de Bento foram concedidas ao jornal Corriere della Sera, que anuncia a próxima publicação de um diálogo com o Papa emérito.

Unidade nas diversidades

São palavras que recordam o grande compromisso em reforçar a comunhão eclesial que caracterizou todo o pontificado de Bento XVI, até ao último dia do seu ministério petrino: “Permaneçamos unidos, queridos Irmãos – disse no seu último discurso aos cardeais em 28 de fevereiro de 2013 – “nesta unidade profunda”, onde as diversidades – expressão da Igreja universal – concorram sempre para a harmonia superior e concordia” e assim servimos a Igreja e a humanidade inteira”. E prometeu a sua oração para a eleição do seu sucessor: “Que o Senhor vos mostre o que Ele quer. E entre vós, entre o Colégio Cardinalício, está também o futuro Papa ao qual já hoje prometo a minha reverência e obediência incondicional”.

VN

26 junho, 2019

A tristeza do Papa pelo pai e a filha que morreram no Rio Grande

 
 Corpos do pai e da filha no Rio Grande
 
A foto acima foi obtida por uma jornalista na fronteira entre México e Estados Unidos. Mostra os corpos de um pai com a sua filha que procuravam abrigo nos Estados Unidos e, em vez disso, morreram no Rio Grande. Ali, nas margens do rio, em 2016, o Papa Francisco gritou: “Nunca mais morte e exploração!”
 
Benedetta Capelli/Mariangela Jaguraba – Cidade do Vaticano

Tristeza imensa e dor profunda. Assim disse o Papa Francisco, segundo o diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti, depois de ver a imagem do pai e da sua filha, mortos, afogados no Rio Grande, enquanto tentavam atravessar a fronteira entre México e Estados Unidos.

Gisotti explicou aos jornalistas que “o Papa está profundamente entristecido com as presentes mortes, reza por eles e por todos os migrantes que perderam as suas vidas tentando fugir da guerra e da pobreza”. 

Angie Valeria como Aylan
 
As calças de Angie Valeria são da mesma cor da camisa de Aylan. Não é só o vermelho que liga essas pequenas vidas ceifadas. Por trás deles está o desejo dos pais de oferecer um futuro diferente, há um drama da imigração que perdura há anos e que o Papa Francisco não para de denunciar, procurando acender sempre uma luz sobre as fadigas e o desespero de homens e mulheres que fogem em busca de uma vida melhor. Em 2 de setembro de 2015, a imagem de Aylan Kurdi, menino morto afogado que foi encontrado na praia turca de Bodrum, causou emoção e indignação. Hoje, os mesmos sentimentos são para Angie Valeria, de 2 anos, que morreu com o seu pai, Oscar. 

Em fuga de S. Salvador
 
Oscar Alberto Martínez, segundo a reconstrução da jornalista Julia Le Duc que tirou a foto publicada no jornal mexicano “La Jornada”, aguardava asilo há dois anos. Tinha feito o pedido às autoridades xoz Estados Unidos.  

No domingo, partiu junto com a menina e a sua esposa Tania Vanessa Ávalos. Queria atravessar o rio e entrar em Brownsville, no Texas. Oscar e Angie Valeria conseguem chegar à margem, mas Vanessa fica para trás. Então, ele volta para pegá-la depois de deixar a menina do outro lado do Rio, mas a criança atirou-se à água para seguir o seu pai. A correnteza envolveu-os, levando os seus sonhos, esperanças e planos futuros diante dos olhos de uma mãe que, do outro lado, viu tudo e permaneceu com o coração despedaçado. 

Uma viagem muito arriscada
 
Os corpos serão repatriados nos próximos dias, enquanto o Ministério das Relações Exteriores de S. Salvador convidou a nunca se arriscarem a uma viagem tão difícil. Outras 4 pessoas foram encontradas mortas perto do Rio Grande. Trata-se de uma mulher jovem, duas crianças e um recém-nascido. As autoridades afirmam que as vítimas provavelmente morreram de desidratação e exposição ao calor excessivo. 

Uma crise formada de rostos, histórias, nomes e famílias
 
Em fevereiro de 2016, o Papa Francisco celebrou uma missa em Ciudad Juarez, na fronteira entre México e Estados Unidos, com os fiéis de ambos os lados do muro que os divide.

Naquela dia, o Pontífice, na sua homilia, lembrou que não se pode negar “a crise humanitária que nos últimos anos significou a migração de milhares de pessoas, de comboio, de carro ou mesmo a pé, atravessando centenas de quilómetros por montanhas, desertos e estradas rudes”.

“Esta tragédia humana que a migração forçada representa é um fenómeno global nos dias de hoje. Esta crise, que pode ser medida em números, queremos que seja medida com nomes, histórias e famílias. São irmãos e irmãs que partem, movidos pela pobreza e violência, pelo narcotráfico e pelo crime organizado.”

Francisco pediu para rezar, pedindo a Deus “o dom da conversão, o dom das lágrimas”. “Nunca mais morte e exploração! Há sempre tempo para mudar, há sempre uma saída e há sempre uma oportunidade, há sempre tempo para implorar a misericórdia do Pai”, concluiu.

VN

Audiência: não há lugar para o egoísmo na alma do cristão

 
 
A primeira comunidade cristã foi o tema da catequese do Pontífice. O Papa Francisco fará uma pausa nas Audiências Gerais no mês de julho. O próximo encontro está marcado para 7 de agosto.
 
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

O Papa Francisco reuniu~-se com cerca de 15 mil fiéis e peregrinos na Praça de São Pedro para a Audiência Geral desta quarta-feira (26/06) – a última antes da pausa de verão. O Pontífice retomará o seu encontro semanal no dia 7 de agosto.

Sob um forte sol, o Papa deu continuidade ao seu ciclo sobre os Atos dos Apóstolos e hoje comentou a vida da primeira comunidade cristã de Jerusalém.

O extraordinário faz-se ordinário

Esta primeira comunidade nasceu no dia de Pentecostes com a efusão do Espírito Santo e é considerada o paradigma de toda a comunidade. Cerca de três mil pessoas ingressaram naquela fraternidade, que é o “habitat” dos fiéis e o fermento eclesial da obra de evangelização. “O extraordinário faz-se ordinário e a cotidianidade torna-se o espaço da manifestação de Cristo vivo”, explicou o Papa.

A narração de Lucas permite observar dentro dos muros da “domus” onde os primeiros cristãos se recolhem como família de Deus, espaço da “koinonia”, isto é, da comunhão de amor entre irmãos e irmãs em Cristo.

Eles vivem de uma maneira bem clara: “perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão, na fração do pão e nas orações” (2, 42).

Eis os traços do bom cristão: ouvir assiduamente o ensinamento apostólico, praticar uma alta qualidade de relações interpessoais, fazer memória do Senhor através da Eucaristia e dialogar com Deus na oração. 

Divisões não têm vez
 
Diferentemente da sociedade humana, onde se tende a procurar os próprios interesses, inclusive em detrimento dos outros, a comunidade dos fiéis baniu o individualismo para favorecer a partilha e a solidariedade. Autorreferencialidade, antagonismos e divisões não têm vez.
“ Não há lugar para o egoísmo na alma do cristão. Se és egoísta, não és cristão. És um mundano que pensas no próprio lucro. A proximidade e a unidade é o estilo dos redimidos. ”
Francisco recordou a importância de nos colocarmos no lugar do outro, de nos preocuparmos, não para fofocar, mas para ajudar, dar esmola, visitar os doentes e quem necessita de consolação.

E nesta estrada de comunhão e partilha com os necessitados, os primeiros cristãos eram capazes de seguir uma autêntica vida litúrgica.

O Papa então concluiu: “Peçamos ao Espírito Santo para que faça das nossas comunidades locais, acolher e praticar a vida nova, as obras de solidariedade e de comunhão, locais em que as liturgias sejam encontro com Deus, que se torna comunhão com os irmãos e irmãs, locais que sejam portas abertas sobre a Jerusalém celeste.”

VN

25 junho, 2019

A PORTA ESTREITA


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Que “dieta” devo fazer,
Senhor,
para passar na porta estreita?
Devo deixar de comer,
deixar de beber,
ter alimentação perfeita?

Diz-me,
Senhor,
o que fazer,
para passar na porta estreita?

Alimentar-me de amor,
a Ti primeiro,
aos outros também,
afastar-me do mal,
fazendo o bem,
sendo de Ti mensageiro.

Ser “magro” de mim,
mas cheio de Ti,
para que com a vida refeita,
pelo Teu amor,
Senhor,
possa passar por fim,
pela Tua porta estreita.


Monte Real, 25 de Junho de 2019
Joaquim Mexia Alves