31 maio, 2019

A liturgia é um “elemento central” da evangelização

No Dia Diocesano da Liturgia, o Cardeal-Patriarca de Lisboa apresentou a liturgia como o centro da ação evangelizadora da Igreja. Na Igreja da Boa Nova, no Estoril, D. Manuel Clemente afirmou estar seguro de que este dia e os encontros formação litúrgica nas vigararias contribuíram para uma “melhor compreensão e vivência da liturgia” na diocese.

 
No final do Dia Diocesano da Liturgia, o Cardeal-Patriarca de Lisboa sublinhou estar convencido de que esta iniciativa, juntamente com os encontros de formação litúrgica que se realizaram, ao longo do ano pastoral, nas 18 vigararias, contribuiu para uma melhor compreensão e vivência da liturgia na diocese. “Tudo isto faz crescer a consciência de que a liturgia é um modo fundamental de participação naquilo que nos faz cristãos, que é a vida de Cristo, assim como a Palavra, a que dedicámos o ano anterior, e a caridade, no próximo ano e onde tudo isto se concretiza”, salientou D. Manuel Clemente, aos jornalistas.
Ao longo do ano pastoral, somaram-se quase 100 encontros de formação litúrgica que reuniram, entre outubro de 2018 e abril de 2019, milhares de leigos. “São ações que envolvem a diocese inteira, a partir dos seus departamentos, vigararias, paróquias, movimentos, institutos religiosos e seculares e que nos fazem crescer como Igreja de Cristo, que é isso que nós somos”, acrescentou.

Nova Evangelização
Na intervenção da manhã, que decorreu no auditório da Boa Nova, o Cardeal-Patriarca recordou a caminhada sinodal, na qual a Diocese de Lisboa se encontra no tempo de “receção ativa”. Depois, lembrou alguns documentos do Papa João Paulo II para apresentar a situação presente, na qual os cristãos são chamados a dar testemunho. “Na carta Encíclica ‘Redemptoris Missio’, de 1990, o Papa João Paulo II, no que diz respeito à evangelização, isto é, ao anúncio do Evangelho, apresenta-nos três situações distintas. A primeira é a missio ad gentes. Falamos de territórios, populações que não conhecem e não sabem quem é Cristo. Há muita gente no mundo que precisa deste primeiro anúncio. Depois, uma segunda situação que é a aquela que conhecemos nas nossas paróquias e que o Papa João Paulo II chama de ação pastoral da Igreja. Nesta, já houve o anúncio e, a partir desse anúncio, aconteceu aquilo que os Atos dos Apóstolos contam que acontecia com Paulo e com o seu grupo: chegavam a determinada localidade, anunciavam Jesus Cristo como vencedor da morte. Com os que acreditavam, nascia uma comunidade cristã. Essa é a segunda aceção da evangelização, a de sustentar pela Palavra, pelos sacramentos e pela caridade a vida de Cristo naquele local”, apresentou D. Manuel Clemente. Há, porém, uma terceira situação e que é igualmente a “situação atual da Diocese de Lisboa”. “Onde a ação pastoral habitual que nós desenvolvemos nas nossas comunidades não chega suficientemente e onde há muita gente para quem a fé já não é uma realidade viva, é preciso – nas palavras do Papa João Paulo II – uma reevangelização ou Nova Evangelização, que seja nova no ardor, nova no entusiasmo com que se faz o anúncio de Jesus Cristo, nova nos métodos”, sublinhou o Cardeal-Patriarca, apontando como exemplo dessa preocupação os Congressos Internacionais para a Nova Evangelização, que decorreram em várias cidades europeias, entre 2003 e 2007, entre as quais Lisboa, em 2005.
  • Leia a entrevista completa na edição do dia 2 de junho do Jornal VOZ DA VERDADE, disponível nas paróquias ou em sua casa.
Patriarcado de Lisboa

Papa: o pão da memória para reforçar as nossas raízes cristãs



"Ao pedir o pão de cada dia, suplicamos também o pão da memória, a graça de reforçar as nossas raízes cristãs". O terceiro compromisso do Papa Francisco nesta sexta-feira (31/05) na Roménia foi uma visita à Nova Catedral Ortodoxa da cidade onde o Santo Padre depois de uma saudação rezou o Pai Nosso. O encontro foi marcado por cantos do Pai Nosso em latim e romeno 

Jane Nogara - Cidade do Vaticano 

Na sua saudação Francisco expressou a sua gratidão e emoção por se encontrar no templo sagrado, e disse: “Jesus convidou os irmãos André e Pedro a deixar as redes, para se tornarem, juntos, pescadores de homens. A vocação pessoal – continuou o Papa - não está completa sem a do irmão”. Na oração do Pai Nosso “encerra-se a nossa identidade de filhos e hoje, de modo particular, a de irmãos que rezam um ao lado do outro”. 

Palavras da oração

Em seguida o Papa falou sobre as palavras da oração:
“ Sempre que dizemos ‘Pai-Nosso’, reafirmamos que a palavra Pai não pode subsistir sem dizer nosso. Unidos na oração de Jesus, unimo-nos também na sua experiência de amor e intercessão, que nos leva a dizer: Pai meu e Pai vosso, Deus meu e Deus vosso”. Para Francisco, “é o convite para que o ‘meu’ se transforme em nosso, e o nosso se faça oração ”
“A Vós, que estais nos céus – continua - pedimos a concórdia que não soubemos guardar na terra. Pedimo-la pela intercessão de tantos irmãos e irmãs na fé que moram no vosso céu”. “Como eles, também nós queremos santificar o vosso nome, colocando-o no centro de todos os nossos interesses”. 

Renunciemos às lógicas guiadas pelo dinheiro

“Estamos à espera que venha o vosso reino: pedimo-lo e desejamo-lo porque vemos que as dinâmicas do mundo não o favorecem”. São dinamicas “guiadas pelas lógicas do dinheiro, dos interesses, do poder. Enquanto nos encontramos mergulhados num consumismo cada vez mais desenfreado, que cega com fulgores cintilantes mas efêmeros, ajudai-nos, Pai” - é a oração do Pontífice – a crer naquilo que rezamos:
“ Renunciar às seguranças cómodas do poder, às seduções enganadoras da mundanidade, à vazia presunção de nos crermos auto-suficientes, à hipocrisia de cuidar das aparências. Assim, não perderemos de vista aquele Reino a que nos chamais ”
“Seja feita a vossa vontade, não nossa. E a vontade de Deus é que todos se salvem. Precisamos, Pai, de alargar os horizontes, a fim de não restringirmos dentro dos nossos limites a vossa misericordiosa vontade salvífica, que quer abraçar a todos”. 

Reforçar as raízes comuns da nossa identidade cristã

“Diariamente temos necessidade d’Ele, pão nosso de cada dia. Ele é o pão da vida que nos faz sentir filhos amados e sacia toda a nossa solidão e orfandade. Ele é o pão do serviço: repartindo-Se aos pedaços para Se fazer nosso servo”.

Francisco evidencia que
“ Ao pedir o pão de cada dia, suplicamos-Vos também o pão da memória, a graça de reforçar as raízes comuns da nossa identidade cristã, raízes indispensáveis num tempo em que a humanidade, particularmente as gerações jovens, correm o risco de se sentirem desenraizadas no meio de tantas situações líquidas, incapazes de fundamentar a existência ”
O Papa observa que “o pão que hoje pedimos é também aquele de que muitos carecem todos os dias, enquanto poucos o têm de sobra”. O Pai Nosso não é oração que nos acomoda, é grito perante as carestias de amor do nosso tempo, perante o individualismo e a indiferença que profanam o vosso nome, Pai”.

“Cada vez que rezamos, pedimos para nos serem perdoadas as nossas ofensas. É preciso coragem para isso, já que simultaneamente nos comprometemos a perdoar a quem nos tem ofendido. Temos, pois, de encontrar a força para perdoar do íntimo do coração ao irmão como Vós – Pai – perdoai os nossos pecados”.

Por fim o Papa recorda que “quando o mal, encostado na porta do coração, nos induzir a fecharmo-nos em nós mesmos; quando a tentação de nos isolarmos se tornarr mais forte, ajudai-nos (…) encorajai-nos a encontrar, no irmão, aquele apoio que colocastes ao nosso lado a fim de caminharmos para Vós e, juntos, termos a ousadia de dizer: ‘Pai-Nosso’".

Leia:

Texto integral da saudação do Papa na Or5ação dp Pai Nosso


Veja:
 
Oração na Catedral ortodoxa Salvação do Povo, em Bucareste
 

VN

Texto integral da saudação do Papa na Oração do Pai Nosso

 
 Papa Francisco e o Patriarca Daniel  (AFP or licensors)
 
Saudação do Papa Francisco por ocasião da oração do Pai Nosso na Nova Catedral Ortodoxa de Bucareste
 
ORAÇÃO DO PAI-NOSSO

Nova Catedral Ortodoxa, Bucareste 

Beatitude, irmão querido; amados irmãos e irmãs!

Quero expressar a gratidão e emoção que sinto por me encontrar neste templo sagrado, que nos congrega em unidade. Jesus convidou os irmãos André e Pedro a deixar as redes, para se tornarem, juntos, pescadores de homens (cf. Mc 1, 16-17). A vocação pessoal não está completa sem a do irmão. Hoje queremos elevar um ao lado do outro, do coração do país, a oração do Pai-Nosso. Nela se encerra a nossa identidade de filhos e hoje, de modo particular, a de irmãos que rezam um ao lado do outro. A oração do Pai-Nosso contém a certeza da promessa feita por Jesus aos seus discípulos: «Não vos deixarei órfãos» (Jo 14, 18) e dá-nos a confiança para receber e acolher o dom do irmão. Por isso, gostaria de partilhar algumas palavras introdutórias à oração, que rezarei pelo nosso caminho de fraternidade e pela Roménia para que possa ser sempre casa de todos, terra de encontro, jardim onde florescem a reconciliação e a comunhão.

Sempre que dizemos «Pai-Nosso», reafirmamos que a palavra Pai não pode subsistir sem dizer nosso. Unidos na oração de Jesus, unimo-nos também na sua experiência de amor e intercessão, que nos leva a dizer: Pai meu e Pai vosso, Deus meu e Deus vosso (cf. Jo 20, 17). É convite para que o «meu» se transforme em nosso, e o nosso se faça oração. Ajudai-nos, Pai, a levar a sério a vida do nosso irmão, a assumir a sua história. Ajudai-nos a não julgar o irmão pelas suas ações e os seus limites, mas aceitá-lo antes de mais nada como vosso filho. Ajudai-nos a vencer a tentação de nos sentirmos o filho mais velho, que, à força de estar no centro, esquece o dom do outro (cf. Lc 15, 25-32).

A Vós, que estais nos céus – os céus que abraçam a todos e onde fazeis nascer o sol para os bons e os maus, para os justos e os injustos (cf. Mt 5, 45) –, pedimos a concórdia que não soubemos guardar na terra. Pedimo-la pela intercessão de tantos irmãos e irmãs na fé que moram juntos no vosso céu, depois de ter acreditado, amado e sofrido muito – mesmo em nossos dias – pelo simples facto de serem cristãos.

Como eles, também nós queremos santificar o vosso nome, colocando-o no centro de todos os nossos interesses. Que seja o vosso nome, Senhor, – e não o nosso – a mover-nos e despertar-nos para o exercício da caridade. Ao rezar, quantas vezes nos limitamos a pedir dons e enumerar pedidos, esquecendo que a primeira coisa a fazer é louvar o vosso nome, adorar a vossa pessoa, para depois reconhecer, na pessoa do irmão que colocastes junto de nós, o vosso reflexo vivo. No meio de tantas coisas que passam e pelas quais nos afadigamos, ajudai-nos, Pai, a procurar aquilo que permanece: a presença vossa e a do irmão.

Estamos à espera que venha o vosso reino: pedimo-lo e desejamo-lo porque vemos que as dinâmicas do mundo não o favorecem. Dinâmicas guiadas pelas lógicas do dinheiro, dos interesses, do poder. Enquanto nos encontramos mergulhados num consumismo cada vez mais desenfreado, que cega com fulgores cintilantes mas efémeros, ajudai-nos, Pai, a crer naquilo que rezamos: renunciar às seguranças cómodas do poder, às seduções enganadoras da mundanidade, à vazia presunção de nos crermos auto-suficientes, à hipocrisia de cuidar das aparências. Assim, não perderemos de vista aquele Reino a que Vós nos chamais.

Seja feita a vossa vontade, não nossa. E a vontade de Deus é que todos se salvem (cf. 1 Tim 2, 4). Precisamos, Pai, de alargar os horizontes, a fim de não restringir dentro dos nossos limites a vossa misericordiosa vontade salvífica, que quer abraçar a todos. Ajudai-nos, Pai, enviando-nos – como no Pentecostes – o Espírito Santo, autor da coragem e da alegria, para que nos incite a anunciar a boa nova do Evangelho para além das fronteiras das nossas afiliações, línguas, culturas, nações.

Diariamente temos necessidade d’Ele, pão nosso de cada dia. Ele é o pão da vida (cf. Jo 6, 35.48), que nos faz sentir filhos amados e sacia toda a nossa solidão e orfandade. Ele é o pão do serviço: repartindo-Se aos pedaços para Se fazer nosso servo, pede-nos para servirmos uns aos outros (cf. Jo 13, 14). Pai, ao mesmo tempo que nos dais o pão de cada dia, alimentai em nós a nostalgia do irmão, a necessidade de o servir. Ao pedir o pão de cada dia, suplicamo-Vos também o pão da memória, a graça de reforçar as raízes comuns da nossa identidade cristã, raízes indispensáveis num tempo em que a humanidade, particularmente as gerações jovens, correm o risco de se sentirem desenraizadas no meio de tantas situações líquidas, incapazes de fundamentar a existência. O pão que pedimos, com a sua longa história que vai do grão semeado à espiga, da ceifa à mesa, inspire em nós o desejo de ser cultivadores de comunhão pacientes, que não se cansam de fazer germinar sementes de unidade, fermentar o bem, atuar sempre lado a lado com o irmão: sem suspeitas nem distanciamentos, sem forçar nem nivelar, na convivência das diferenças reconciliadas.

O pão que hoje pedimos é também aquele de que muitos carecem todos os dias, enquanto poucos o têm de sobra. O Pai-Nosso não é oração que nos acomoda, é grito perante as carestias de amor do nosso tempo, perante o individualismo e a indiferença que profanam o vosso nome, Pai. Ajudai-nos a ter fome de nos doarmos. Sempre que rezarmos, lembrai-nos que, para viver, não precisamos de nos poupar, mas de nos repartir em pedaços; de partilhar, não de acumular; de matar a fome aos outros mais do que encher-nos a nós mesmos, porque o bem-estar só é digno deste nome quando pertence a todos.

Cada vez que rezamos, pedimos para nos serem perdoadas as nossas ofensas. É preciso coragem para isso, já que simultaneamente nos comprometemos a perdoar a quem nos tem ofendido. Temos, pois, de encontrar a força para perdoar do íntimo do coração ao irmão (cf. Mt 18, 35), como Vós – Pai – perdoais os nossos pecados: deixar para trás o passado e abraçar, juntos, o presente. Ajudai-nos, Pai, a não ceder ao medo, nem ver um perigo na abertura; a ter a força de nos perdoarmos e prosseguir, a coragem de não nos contentarmos com a vida tranquila, mas de procurar sempre, com transparência e sinceridade, o rosto do irmão.

E quando o mal, deitado à porta do coração (cf. Gn 4, 7), nos induzir a fechar-nos em nós mesmos; quando a tentação de nos isolarmos se fizer mais forte, ocultando a substância do pecado, que é distância de Vós e do nosso próximo, ajudai-nos de novo, Pai. Encorajai-nos a encontrar, no irmão, aquele apoio que colocastes ao nosso lado a fim de caminharmos para Vós e, juntos, termos a ousadia de dizer: «Pai-Nosso». Amen.

E agora rezemos a oração que o Senhor nos ensinou...

Oração na Catedral ortodoxa Salvação do Povo, em Bucareste


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Papa em Bucareste: Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos



“Olhando para Maria e tantos rostos maternos, experimenta-se e alarga-se o espaço à esperança, que gera e abre o futuro. Digamo-lo com força: no nosso povo, há espaço para a esperança. Por isso, Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos”, disse o Papa na Missa celebrada em Bucareste na tarde desta sexta-feira (31/05), primeiro dia de sua visita à Roménia. Esta 30ª Viagem Apostólica Internacional de Francisco tem como lema "Caminhemos juntos" 

Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano 

“Contemplar Maria permite-nos estender o olhar sobre tantas mulheres, mães e avós destas terras que, com sacrifício sem alarde, abnegação e empenho moldam o presente e tecem os sonhos do futuro.” Foi o que disse o Papa na missa celebrada no final da tarde desta sexta-feira (31/05) na Catedral de São José em Bucareste, último compromisso de Francisco no primeiro dia de sua visita à Romênia, na 30ª viagem apostólica internacional do seu Pontificado, viagem esta que tem como lema “Caminhemos juntos”. O Santo Padre estará até este domingo, 2 de junho, no país do Leste Europeu.

Tratou-se do primeiro encontro propriamente do Pontífice com a pequena comunidade católica da Roménia, país de maioria cristã ortodoxa (86%), onde os católicos representam cerca de 7% da população.

Partindo do Evangelho do dia (Lc 1,39-56), que narra a visita de Nossa Senhora a sua prima Isabel e nos traz também o Magnificat, em que Maria canta as maravilhas que o Senhor realizou na sua humilde serva, Francisco evocou o canto de esperança que – ressaltou – “nos quer despertar também a nós convidando-nos a entoá-lo hoje por meio de três elementos preciosos que nascem da contemplação da primeira discípula: Maria caminha, Maria encontra, Maria rejubila”. A homilia do Papa foi desenvolvida a partir daí. 

Maria caminha

“Maria caminha... de Nazaré até à casa de Zacarias e Isabel: é a primeira das viagens de Maria que narra a Sagrada Escritura. A primeira de muitas. Irá da Galileia a Belém, onde nascerá Jesus; fugirá para o Egipto, a fim de salvar o Menino de Herodes; além disso dirigir-Se-á cada ano a Jerusalém pela Páscoa, até à última em que seguirá o Filho até ao Calvário. Estas viagens têm uma característica: nunca foram caminhos fáceis, exigiram coragem e paciência. Dizem-nos que Nossa Senhora conhece as subidas, conhece as nossas subidas: é nossa irmã no caminho.”

Especialista em trabalhar duro, prosseguiu o Santo Padre, Nossa Senhora “sabe como tomar-nos pela mão nas asperezas, quando nos encontramos perante as viragens mais acentuadas da vida. Como boa mãe, Maria sabe que o amor se concretiza nas pequenas coisas diárias. Amor e inventiva materna, capaz de transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura”.

“Olhando para Maria e tantos rostos maternos, experimenta-se e alarga-se o espaço à esperança, que gera e abre o futuro. Digamo-lo com força: no nosso povo, há espaço para a esperança. Por isso, Maria caminha e convida-nos a caminhar juntos”, acrescentou. 

Maria encontra

“Maria encontra Isabel já de idade avançada. Mas é ela, a idosa, que fala do futuro, que profetiza: «cheia do Espírito Santo» proclama Maria «feliz» porque acreditou, antecipando a última bem-aventurança dos Evangelhos: felizes os que crêem. E assim a jovem vai ao encontro da idosa procurando as raízes, e a idosa renasce e profetiza acerca da jovem, dando-lhe futuro. Assim se encontram jovens e anciãos, abraçam-se e cada um é capaz de despertar o melhor do outro.”

É o milagre suscitado pela cultura do encontro, ressaltou Francisco, “na qual ninguém é descartado nem rotulado; antes pelo contrário, todos são procurados, porque são necessários para fazer transparecer o rosto do Senhor. Não têm medo de caminhar juntos e, quando isto acontece, Deus chega e realiza prodígios no seu povo”.
“Maria, que caminha e encontra Isabel, lembra-nos onde Deus quis habitar e viver, qual é o seu santuário e onde podemos auscultar as palpitações do seu coração: no meio do seu Povo. Lá habita, lá vive, lá nos espera.”
Sintamos dirigido a nós o convite do profeta a não temer, a não cruzar os braços, exortou o Pontífice, “porque o Senhor, nosso Deus, está no meio de nós, é um salvador poderoso. Este é o segredo do cristão: Deus está no meio de nós como poderoso salvador”. 

Maria rejubila

“Maria rejubila, porque é a portadora do Emanuel, do Deus connosco. «Ser cristão é alegria no Espírito Santo». Sem alegria, permanecemos paralisados, escravos das nossas tristezas. Muitas vezes, o problema da fé não é tanto a falta de meios e estruturas, de quantidade, nem sequer a presença de quem não nos aceita; o problema da fé é a falta de alegria. A fé vacila, quando nos arrastamos na tristeza e no desânimo. Quando vivemos na desconfiança, fechados em nós mesmos, contradizemos a fé, porque, em vez de nos sentirmos filhos pelos quais Deus faz grandes coisas, reduzimos tudo à medida dos nossos problemas e esquecemo-nos de que não somos órfãos: temos no meio de nós um Pai, salvador e poderoso.”

“Pensemos nas grandes testemunhas destas terras!” – disse o Santo Padre concluindo sua reflexão. “Pessoas simples, que confiaram em Deus no meio das perseguições. Não colocaram a sua esperança no mundo, mas no Senhor, e assim continuaram por diante. Quero agradecer a estes vencedores humildes, a estes santos da porta ao lado que nos apontam o caminho.”

“Sede vós os promotores duma cultura do encontro que desminta a indiferença e a divisão e permita a esta terra cantar, com força, as misericórdias do Senhor”, disse por fim.


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Papa na Roménia: uma sociedade é civil quando cuida dos mais pobres

 
 
No seu primeiro discurso em terras romenas, o Pontífice recordou a visita de São João Paulo II que esteve no país há 20 anos, e afirmou que a Igreja Católica quer colocar-se ao serviço da dignidade e do bem comum 
 
Jane Nogara – Cidade do Vaticano

O Papa Francisco deixou o Vaticano, na manhã desta sexta-feira (31/5), para mais uma Viagem Apostólica do seu Pontificado, é a sua 30ª viagem, que o leva à Roménia.

Após ter sido acolhido no aeroporto de Bucareste o Papa fez uma visita de cortesia ao Presidente romeno Klaus Werner Iohannis no Palácio presidencial, local do encontro com as Autoridades, a Sociedade civil, os Representantes de várias confissões religiosas e o Corpo Diplomático.

Terminadas as palavras de boas-vindas do Presidente, o Papa Francisco pronunciou o seu discurso expressando a sua alegria:
“ Estou feliz por me encontrar nesta "ţară frumoasă, terra formosa, vinte anos depois da visita de São João Paulo II e no semestre em que a Roménia – pela primeira vez desde que começou a fazer parte da União Europeia – preside o Conselho Europeu ”
Depois de lembrar os 30 anos passados depois da Roménia se  ter libertado do regime que oprimia a liberdade civil e religiosa, o Papa elogiou a reconstrução e o trabalho feito através “do pluralismo das forças políticas e sociais e do seu diálogo mútuo através do reconhecimento fundamental da liberdade religiosa e da plena integração do país no mais amplo cenário internacional”.

Fenómeno da emigração

Porém continuou Francisco,
“ É preciso reconhecer que as transformações, tornadas necessárias pela abertura de uma nova era, acarretaram consigo – juntamente com as conquistas positivas – o aparecimento de inevitáveis obstáculos que se devem superar e de consequências para a estabilidade social e a própria administração do território, nem sempre fáceis de gerir ”
Neste ponto recordou o fenómeno da emigração da população à procura de novas oportunidades de trabalho, levando ao “despovoamento de muitas localidades” que pesa inevitavelmente “na qualidade de vida em tais terras e enfraquecimento das raízes culturais e espirituais que sustentam nas adversidades”.

Caminhar juntos

Para enfrentar estes problemas, afirma o Papa “é preciso aumentar a colaboração positiva das forças políticas, económicas, sociais e espirituais"
“ É necessário caminhar juntos e que todos se comprometam, convictamente, a não renunciar à vocação mais nobre a que deve aspirar um Estado: ocupar-se do bem comum do seu povo ”
“Assim – continua o Pontífice – pode-se construir uma sociedade inclusiva, na qual cada um, disponibilizando os seus próprios talentos e competências (…) se torne protagonista do bem comum”. De facto, conclui “quanto mais uma sociedade se dedica aos mais desfavorecidos, tanto mais se pode dizer verdadeiramente civil”.

E para alcançar estes objetivos: "É preciso que tudo isto tenha uma alma, um coração e uma direção clara de marcha, imposta, (…) pela consciência da centralidade da pessoa humana e dos seus direitos inalienáveis”. E o Papa continua “para um desenvolvimento sustentável harmonioso (…) não é suficiente atualizar as teorias económicas, nem bastam – apesar de necessárias – as técnicas e capacidades profissionais. Com efeito, trata-se de desenvolver, juntamente com as condições materiais, a alma de todo o povo”.

A Igreja Católica quer dar a sua contribuição

“ Neste sentido as Igrejas cristãs podem ajudar a reencontrar e alentar o coração pulsante de onde fazer fluir uma ação política e social que parta da dignidade da pessoa e leve a empenhar-se, leal e generosamente, pelo bem comum da coletividade ”
Por fim, falando do trabalho das Igrejas cristãs esclarece que “a Igreja Católica quer colocar-se neste sulco, quer dar a sua contribuição para a construção da sociedade, deseja ser sinal de harmonia, esperança de unidade e colocar-se ao serviço da dignidade humana e do bem comum”.

O Papa concluiu o seu discurso desejando à Roménia “paz e prosperidade” e invocando sobre “toda a população abundância de bênçãos divinas”.

Veja também:


Discurso do Papa às Autoridades romenas



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