31 março, 2019

Papa a católicos no Marrocos: obrigado pelo testemunho da cultura da misericórdia


 Papa Francisco encoraja comunidade católica local  (AFP or licensors)

O Pontífice encontrou a pequena comunidade católica em Marrocos para uma missa em que, através da parábola do Filho pródigo, encorajou os fiéis a continuarem o testemunho cristão no país, num esforço de fazer crescer a cultura da misericórdia, “uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença nem desvie o olhar ao ver o seu sofrimento. Continuem a ser, sinal do abraço e do coração do Pai”, incentivou o Papa.

Andressa Collet – Cidade do Vaticano 

O ponto alto da visita do Papa Francisco a Marrocos, em viagem apostólica dedica também ao diálogo inter-religioso, foi a missa celebrada na tarde deste domingo (31), no Centro Desportivo Príncipe Moulay Abdellah, em Rabat.
Na homilia para a comunidade católica, cerca de 10 mil fiéis reunidos no local, o Papa comentou a parábola do Filho pródigo, “um filho ansiosamente esperando. Um pai comovido ao vê-lo regressar”, disse o Pontífice. Diferente do outro filho que não suportou a alegria do pai e não reconheceu o regresso do irmão, preferindo “ser órfão à fraternidade”. Dentro daquela casa, refletiu Francisco, manifesta-se “o mistério da nossa humanidade”.
“Deste modo, mais uma vez vem à luz a tensão que se vive no meio da nossa gente e nas nossas comunidades, e até dentro de nós mesmos. Uma tensão que, a partir de Caim e Abel, mora em nós e a que somos convidados a encarar: quem tem direito a permanecer entre nós, ocupar um lugar à nossa mesa e nas nossas assembleias, nas nossas solicitudes e serviços, nas nossas praças e cidades? Parece continuar a ressoar aquela pergunta fratricida: Porventura sou eu o guardião do meu irmão? (cf. Gn 4, 9).” 

A luta pela fraternidade para não envenenar a esperança
Dentro daquela casa do pai misericordioso, a luta pela fraternidade impedida por “divisões e desencontros, a agressividade e os conflitos”. Mas, também, o brilho que nasce dos desejos do Pai: que ninguém sofra com “orfandade, isolamento ou amargura”.
“Sem dúvida, há tantas circunstâncias que podem alimentar a divisão e o conflito; são inegáveis as situações que podem levar a afronta-nos e a dividir-nos. Não podemos negá-lo. Estamos sempre ameaçados pela tentação de crer no ódio e na vingança como formas legítimas de obter justiça de maneira rápida e eficaz. Mas a experiência diz-nos que a única coisa que conseguem é o ódio, a divisão e a vingança é matar a alma da nossa gente, envenenar a esperança dos nossos filhos, destruir e fazer desaparecer tudo o que amamos.” 

A redescoberta de sermos irmãos
O convite, então, vindo do próprio Jesus, disse o Papa, é “contemplar o coração do Pai” para, a cada dia, “redescobrirmo-nos como irmãos”. Em condição de filhos amados, acrescentou Francisco, não medimos e nem classificamos as pessoas com base na condição moral, social, étnica e religiosa.
“Só a partir deste horizonte amplo, capaz de nos ajudar a superar as nossas míopes lógicas de divisão, é que seremos capazes de alcançar um olhar que não pretenda obscurecer ou desmentir as nossas diferenças, buscando talvez uma unidade forçada ou uma marginalização silenciosa. Só se formos capazes de, diariamente, levantar os olhos para o céu e dizer Pai Nosso, é que poderemos entrar numa dinâmica que nos possibilite olhar e ousar viver, não como inimigos, mas como irmãos.” 

O incentivo do Papa para a cultura da misericórdia
“A parábola do Evangelho deixa o final em aberto”, disse o Papa, pois não sabemos se o filho mais velho aceitou participar da festa da misericórdia do irmão. Uma lição que pode ser observada também pela gente, disse o Pontífice, já que cada um pode escrever o final “com a sua vida, o seu olhar e atitude” em relação aos outros. Como faz a comunidade católica no Marrocos que dá o seu testemunho, através do Evangelho da misericórdia.
“Obrigado pelos esforços feitos para tornarem as comunidades oásis de misericórdia. Animo e vos encoraj-vos a continuar a fazer crescer a cultura da misericórdia, uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença nem desvie o olhar ao ver o seu sofrimento (cf. Carta ap. Misericordia et misera, 20)." 
“ Continuem ao lado dos humildes e dos pobres, daqueles que são rejeitados, abandonados e ignorados; continuem a ser sinal do abraço e do coração do Pai. ”
 Veja também:
Homilia do Papa Francisco à comunidade católica de de Marrocos

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Homilia do Papa Francisco à comunidade católica de Marrocos

 
 
Homilia integral, proferida pelo Santo Padre na missa de despedida do Marrocos, realizada no CentroDesportivo Príncipe Moulay Abdellah, em Rabat.
 
HOMILIA DO SANTO PADRE
Eucaristia
(Complexo Desportivo Príncipe Moulay Abdellah - Rabat, 31 de março de 2019)

«Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos» (Lc 15, 20).

Assim nos leva o Evangelho ao coração da parábola onde se apresenta o comportamento do pai quando vê regressar o seu filho: comovido até às entranhas, não espera que ele chegue a casa, mas surpreende-o correndo ao seu encontro. Um filho ansiosamente esperado. Um pai comovido ao vê-lo regressar.

Mas não foi a única vez que o pai correu. A sua alegria seria incompleta sem a presença do outro filho. Por isso, sai também ao seu encontro, para convidá-lo a tomar parte na festa (cf. 15, 28). Contudo o filho mais velho parece não gostar das festas de boas-vindas, custava-lhe suportar a alegria do pai, não reconhece o regresso do seu irmão: «esse teu filho» (15, 30) – dizia. Para ele, o irmão continua perdido, porque já o perdera no seu coração.

Incapaz de participar na festa, não só não reconhece o irmão, mas tão-pouco reconhece o pai. Prefere ser órfão à fraternidade, o isolamento ao encontro, a amargura à festa. Custa-lhe não só compreender e perdoar a seu irmão, mas também aceitar ter um pai capaz de perdoar, disposto a esperar e velar por que ninguém fique fora; enfim, um pai capaz de sentir compaixão.

No limiar daquela casa, parece manifestar-se o mistério da nossa humanidade: por um lado, temos a festa pelo filho reencontrado e, por outro, um certo sentimento de traição e indignação por se festejar o seu regresso. Por um lado, a hospitalidade para quem experimentara tal miséria e sofrimento, que chegara ao ponto de exalar o cheiro dos porcos e querer alimentar-se com o que eles comiam; por outro, a irritação e o ressentimento por se dar lugar a alguém que não era digno nem merecedor de tal abraço.

Deste modo, mais uma vez vem à luz a tensão que se vive no meio da nossa gente e nas nossas comunidades, e até dentro de nós mesmos. Uma tensão que, a partir de Caim e Abel, mora em nós e que somos convidados a encarar: Quem tem direito a permanecer entre nós, ocupar um lugar à nossa mesa e nas nossas assembleias, nas nossas solicitudes e serviços, nas nossas praças e cidades? Parece continuar a ressoar aquela pergunta fratricida: Porventura sou eu o guardião do meu irmão? (cf. Gn 4, 9).

No limiar daquela casa, surgem as divisões e desencontros, a agressividade e os conflitos que sempre atingirão as portas dos nossos grandes desejos, das nossas lutas pela fraternidade e pela possibilidade de cada pessoa experimentar desde já a sua condição e dignidade de filho.

Mas no limiar daquela casa brilhará também em toda a sua claridade, sem lucubrações nem desculpas que lhe tirem força, o desejo do Pai: que todos os seus filhos tomem parte na sua alegria; que ninguém viva em condições desumanas como seu filho mais novo, nem na orfandade, isolamento ou amargura como o filho mais velho. O seu coração quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (cf. 1 Tm 2, 4).

Sem dúvida, há tantas circunstâncias que podem alimentar a divisão e o conflito; são inegáveis as situações que podem levar a afrontar-nos e dividir-nos. Não podemos negá-lo. Estamos sempre ameaçados pela tentação de crer no ódio e na vingança como formas legítimas de obter justiça de maneira rápida e eficaz. Mas a experiência diz-nos que a única coisa que conseguem o ódio, a divisão e a vingança é matar a alma da nossa gente, envenenar a esperança dos nossos filhos, destruir e fazer desaparecer tudo o que amamos.

Por isso, Jesus convida-nos a fixar e contemplar o coração do Pai. Só a partir dele poderemos, cada dia, redescobrir-nos como irmãos. Só a partir deste horizonte amplo, capaz de nos ajudar a superar as nossas míopes lógicas de divisão, é que seremos capazes de alcançar um olhar que não pretenda obscurecer ou desmentir as nossas diferenças, buscando talvez uma unidade forçada ou uma marginalização silenciosa. Só se formos capazes diariamente de levantar os olhos para o céu e dizer Pai Nosso, é que poderemos entrar numa dinâmica que nos possibilite olhar e ousar viver, não como inimigos, mas como irmãos.

«Tudo o que é meu é teu» (Lc 15, 31): diz o pai ao filho mais velho. E não se refere apenas aos bens materiais, mas a ser participante também do seu próprio amor e compaixão. Esta é a maior herança e riqueza do cristão. Com efeito, em vez de nos medirmos ou classificarmos com base numa condição moral, social, étnica ou religiosa, podemos reconhecer que existe outra condição que ninguém poderá apagar ou aniquilar, pois é puro dom: a condição de filhos amados, esperados e festejados pelo Pai.

«Tudo o que é meu é teu», incluindo a minha capacidade de compaixão: diz-nos o Pai. Não caiamos na tentação de reduzir a nossa filiação a uma questão de leis e proibições, de deveres e seu cumprimento. A nossa filiação e a nossa missão nascerão, não de voluntarismos, legalismos, relativismos ou integrismos, mas da imploração feita por pessoas crentes que diariamente rezam com humildade e constância: Venha a nós o vosso Reino.

A parábola do Evangelho deixa aberto o final. Vemos o pai rogar ao filho mais velho que entre e participe na festa da misericórdia; mas o evangelista nada diz acerca da decisão que ele tomou. Ter-se-á associado à festa? Podemos pensar que este final aberto sirva para cada comunidade, cada um de nós o escrever com a sua vida, o seu olhar e atitude para com os outros. O cristão sabe que, na casa do Pai, há muitas moradas; de fora, ficam apenas aqueles que não querem tomar parte na sua alegria.

Queridos irmãos, quero agradecer-vos pela forma como dais testemunho do Evangelho da misericórdia nestas terras. Obrigado pelos esforços feitos para tornardes as vossas comunidades oásis de misericórdia. Animo-vos e encorajo a continuar a fazer crescer a cultura da misericórdia, uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença nem desvie o olhar ao ver o seu sofrimento (cf. Carta ap. Misericordia et misera, 20). Continuai ao lado dos humildes e dos pobres, daqueles que são rejeitados, abandonados e ignorados; continuai a ser sinal do abraço e do coração do Pai.

Que o Misericordioso e o Clemente – como tantas vezes O invocam os nossos irmãos e irmãs muçulmanos – vos fortaleça e faça frutificar as obras do vosso amor.

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Papa: desmascarar com o diálogo quem usa diferençe para semear medo e ódio


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Encontro do Papa Francisco com os religiosos em Rabat

A força da caridade da pequena comunidade cristã presente em Marrocos e a importância do diálogo da salvação foram alguns dos temas recordados pelo Papa Francisco no encontro com o clero, os religiosos e religiosas e o Conselho Ecuménico das Igrejas. Foi o seu segundo compromisso neste domingo (31) realizado na Catedral de São Pedro, sede da Arquidiocese de Raba

Jane Nogara – Cidade do Vaticano 

Na manhã deste domingo (31), segundo dia da visita do Papa Francisco ao Marrocos, o Pontífice foi à Catedral de Rabat, sede da Arquidiocese local para encontrar o clero, as religiosas e religiosos e o Conselho Ecuménico das Igrejas. No local, depois de um breve testemunho de um sacerdote e uma religiosa seguido pela saudação de dois religiosos idosos, o Santo Padre iniciou o seu discurso aos presentes recordando que os cristãos “são em reduzido número, neste país”, e que na sua opinião isso não é um problema, embora reconheça que às vezes, para alguns, se possa tornar difícil viver. 

Fermento da mãe Igreja

Pensando nessa situação o Santo Padre disse:
“ A que é semelhante um cristão nestas terras? Com que posso compará-lo? É semelhante a um pouco de fermento que a mãe Igreja quer misturar com uma grande quantidade de farinha, até que toda a massa se levede. De facto, Jesus não nos escolheu nem enviou para que nos tornássemos os mais numerosos! Chamou-nos para uma missão ”
“A nossa missão” continuou o Papa, “não é determinada pela quantidade de espaços que se ocupa, mas pela capacidade de gerar e suscitar mudança, encanto e compaixão, pelo modo como nós vivemos no meio das pessoas”.
A seguir, advertiu:
“ Os caminhos da missão não passam através do proselitismo, que leva sempre a um beco sem saída, mas pelo nosso modo de estar com Jesus e com os outros ”
"Por conseguinte o problema não está no facto de serem pouco numerosos, mas de serem insignificantes, tornar-se sal que já não tem o sabor do Evangelho, ou uma luz que já nada ilumina”. O Papa recordou que “não podemos pensar que só seremos significativos se constituirmos a massa e ocuparmos todos os espaços”, porque a vida depende “da capacidade que temos de ‘levedar’ onde e com quem nos encontrarmos. Portanto, “ser cristão não é aderir a uma doutrina, a um templo, ou a um grupo étnico; ser cristão é um encontro. Somos cristãos, porque Alguém nos amou e veio ao nosso encontro, e não por resultados do proselitismo”. 

Diálogo de salvação

“Cientes do contexto de que sois chamados a viver”, continuou o Papa “a Igreja deve entrar em diálogo com o mundo em que vive. A Igreja faz-se palavra, faz-se mensagem, faz-se diálogo”, e entrar em diálogo “por fidelidade ao seu Senhor e Mestre, que desde o princípio, movido pelo amor, quis entrar em diálogo como amigo e convidar-vos a participar na sua amizade”, “um diálogo de salvação e amizade do qual somos os primeiros beneficiários”.

Recordando aos presentes a realidade em que vivem, o Papa continuou dizendo que “nestas terras, os cristãos aprendem a ser sacramento vivo do diálogo que Deus deseja estabelecer com cada homem e mulher”, a ser feito sempre com amor “diligente e desinteressado, sem cálculos nem limites, no respeito pela liberdade das pessoas”. Deste modo, quando a Igreja “dialoga com o mundo e se faz diálogo, participa no advento da fraternidade, que tem a sua fonte profunda, não em nós, mas na Paternidade de Deus”.
“ Enquanto pessoas consagradas", afirma o Papa, “somos convidados a viver este diálogo de salvação, antes de mais nada, como intercessão pelo povo que nos foi confiado ”
“O consagrado, o sacerdote – continuou – traz ao altar, na sua oração, a vida dos seus conterrâneos mantendo viva, como se fosse uma pequena brecha naquela terra, a força vivificante do Espírito Santo”.

Francisco recordou que se trata de um diálogo que se torna oração e que podemos concretizar todos os dias em nome da fraternidade humana. “Uma oração que não discrimina, não separa nem marginaliza, mas faz-se eco da vida do próximo; oração de intercessão, que é capaz de dizer ao Pai: ‘venha a nós o vosso reino’. Não com a violência, não com o ódio, nem com a supremacia étnica, religiosa e económica, mas com a força da compaixão espargida para todos os homens na Cruz”. 

Semear futuro e esperança

Agradecendo a Deus pelo trabalho de todos os presentes pelo diálogo, colaboração e amizade usados como instrumentos para semear o futuro e a esperança, o Papa disse que com isto é possível desmascarar e “pôr a descoberto todas as tentativas de usar as diferenças e a ignorância para semear medo, ódio e conflito. Porque sabemos que o medo e o ódio, alimentados e manipulados, desestabilizam e deixam espiritualmente indefesas às nossas comunidades”.

De segu, Francisco pediu a todos para que continuem a estar próximos “daqueles que muitas vezes são deixados para trás, dos humildes e dos pobres, dos prisioneiros e dos migrantes. Que a vossa caridade se faça sempre ativa, tornando-se assim uma via de comunhão entre os cristãos de todas as confissões presentes em Marrocos: o ecumenismo da caridade”. 

Angelus

No final do encontro o Santo Padre rezou a oração do Angelus com os presentes, pedindo a proteção da Virgem Maria.

Veja também: 

Texto integral do discurso do Santo Padre, ao Clero e Conselho Eucuménico

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Texto integral do discurso do Papa ao Clero e Conselho Ecuménico


Encontro do Papa Francisco com os religiosos e o Conselho Ecuménico em Rabat,
Marrocos  (AFP or licensors)

Discurso integral do Papa Francisco, no segundo compromisso deste domingo (31) em Marrocos, realizado na Catedral de Rabat, no encontro com sacerdotes e pessoas consagradas, e o Conselho Ecuménico das Igrejas


VIAGEM APOSTÓLICA A MARROCOS
DISCURSO DO SANTO PADRE


Queridos irmãos e irmãs!

Sinto-me imensamente feliz por poder-vos encontrar. Agradeço especialmente ao Padre Germain e à Irmã Mary pelos seus testemunhos. Desejo também saudar os membros do Conselho Ecuménico das Igrejas, que manifesta visivelmente a comunhão entre cristãos de diferentes confissões vivida aqui, em Marrocos, pelo caminho da unidade. Os cristãos são em reduzido número, neste país. A meu ver, porém, isto não é um problema, embora reconheça que às vezes, para alguns, se possa tornar difícil viver. A vossa situação faz-me lembrar esta pergunta de Jesus: «A que é semelhante o Reino de Deus e a que posso compará-lo? (…) É semelhante ao fermento que certa mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar levedada toda a massa» (Lc 13, 18.21).

Parafraseando as palavras do Senhor, podemos interrogar-nos: A que é semelhante um cristão nestas terras? Com que posso compará-lo? É semelhante a um pouco de fermento que a mãe Igreja quer misturar com uma grande quantidade de farinha, até que toda a massa se levede. De facto, Jesus não nos escolheu nem enviou para que nos tornássemos os mais numerosos! Chamou-nos para uma missão. Colocou-nos no meio da sociedade como aquela pequena porção de fermento: o fermento das bem-aventuranças e do amor fraterno, no qual todos, como cristãos, nos podemos unir para tornar presente o seu Reino.

Isto significa, queridos amigos, que a nossa missão de batizados, de sacerdotes, de consagrados não é particularmente determinada pelo número nem pela quantidade de espaços que se ocupa, mas pela capacidade de gerar e suscitar mudança, encanto e compaixão, pelo modo como nós, discípulos de Jesus, vivemos no meio das pessoas com quem partilhamos o dia-a-dia, as alegrias, as tribulações, os sofrimentos e as esperanças (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 1). Por outras palavras, os caminhos da missão não passam através do proselitismo, que leva sempre a um beco sem saída, mas pelo nosso modo de estar com Jesus e com os outros. Por conseguinte, o problema não está no facto de ser pouco numerosos, mas de ser insignificantes, tornar-se sal que já não tem o sabor do Evangelho, ou uma luz que já nada ilumina (cf. Mt 5, 13-15).

Penso que a preocupação surge quando nós, cristãos, somos atormentados pelo pensamento de que só seremos significativos, se constituirmos a massa e ocuparmos todos os espaços. Bem sabeis que a vida depende da capacidade que temos de «levedar» onde e com quem nos encontramos, embora aparentemente não nos traga benefícios tangíveis ou imediatos (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 210). Com efeito, ser cristão não é aderir a uma doutrina, a um templo, ou a um grupo étnico; ser cristão é um encontro. Somos cristãos, porque Alguém nos amou e veio ao nosso encontro, e não por resultado do proselitismo. Ser cristão é saber-se perdoado e convidado a agir no mesmo modo com que Deus agiu para connosco, pois «por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35).

Ciente do contexto em que sois chamados a viver, queridos irmãos e irmãs, a vossa vocação batismal, o vosso ministério, a vossa consagração, vem-me à mente esta palavra do Papa São Paulo VI na Encíclica Ecclesiam suam: «A Igreja deve entrar em diálogo com o mundo em que vive. A Igreja faz-se palavra, faz-se mensagem, faz-se diálogo» (n. 65). Afirmar que a Igreja deve entrar em diálogo não obedece a uma moda e, muito menos, a uma estratégia para aumentar o número dos seus membros. Se a Igreja deve entrar em diálogo, é por fidelidade ao seu Senhor e Mestre, que desde o princípio, movido pelo amor, quis entrar em diálogo como amigo e convidar-nos a participar da sua amizade (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Dei Verbum, 2). Assim, como discípulos de Jesus Cristo, somos chamados, desde o dia do nosso Batismo, a participar deste diálogo de salvação e amizade, de que somos os primeiros beneficiários.

Nestas terras, o cristão aprende a ser sacramento vivo do diálogo que Deus deseja estabelecer com cada homem e mulher, independentemente da condição em que viva; um diálogo, que somos convidados a realizar à maneira de Jesus, manso e humilde de coração (cf. Mt 11, 29), com amor diligente e desinteressado, sem cálculos nem limites, no respeito pela liberdade das pessoas. Neste espírito, encontramos irmãos mais velhos que nos mostram o caminho, pois testemunharam, com a sua vida, que isto é possível: uma «medida alta», que nos desafia e estimula. Como não evocar a figura de São Francisco de Assis que, em plena cruzada, foi encontrar o Sultão al-Malik al-Kamil? E como não mencionar o Beato Carlos de Foucault que, profundamente tocado pela vida humilde e oculta de Jesus em Nazaré, que adorava em silêncio, quis ser um «irmão universal»? Ou então aqueles irmãos e irmãs cristãos que escolheram permanecer solidários com um povo até ao dom da própria vida? Assim, quando a Igreja – fiel à missão recebida do Senhor – dialoga com o mundo e se faz diálogo, participa no advento da fraternidade, que tem a sua fonte profunda, não em nós, mas na Paternidade de Deus.

Enquanto pessoas consagradas, somos convidados a viver este diálogo de salvação, antes de mais nada, como intercessão pelo povo que nos foi confiado. Lembro-me de um sacerdote, que se encontrava como vós numa terra onde os cristãos são minoria, me contar uma vez que a oração do «Pai Nosso» tinha adquirido nele uma ressonância especial: rezando no meio de pessoas doutras religiões, sentia fortemente as palavras «o pão nosso de cada dia nos dai hoje». A oração de intercessão do missionário também por aquele povo que até certo ponto lhe fora confiado, e não para ser administrado mas para o amar, levava-o a rezar esta oração com uma tonalidade e um gosto especiais. O consagrado, o sacerdote traz ao altar, na sua oração, a vida dos seus conterrâneos mantendo viva, como se fosse uma pequena brecha naquela terra, a força vivificante do Espírito. Como é bom saber que a criação, pelas vossas vozes nos vários ângulos desta terra, pode implorar e continuar a dizer «Pai Nosso»!

Trata-se, portanto, dum diálogo que se torna oração e que podemos concretizar, todos os dias, «em nome da “fraternidade humana” que abraça todos os homens, une-os e torna-os iguais. Em nome desta fraternidade dilacerada pelas políticas de integralismo e divisão e pelos sistemas de lucro desmesurado e pelas tendências ideológicas odiosas, que manipulam as ações e os destinos dos homens» (Documento sobre A Fraternidade Humana, Abu Dhabi, 4 de fevereiro de 2019). Uma oração que não discrimina, não separa nem marginaliza, mas faz-se eco da vida do próximo; oração de intercessão, que é capaz de dizer ao Pai: «venha a nós o vosso reino». Não com a violência, não com o ódio, nem com a supremacia étnica, religiosa e económica, mas com a força da compaixão espargida para todos os homens na Cruz. Esta é a experiência vivida pela maior parte de vós.

Agradeço a Deus pelo que tendes feito, como discípulos de Jesus Cristo, aqui em Marrocos, encontrando diariamente no diálogo, na colaboração e na amizade os instrumentos para semear futuro e esperança. Assim, desmascarais e conseguis pôr a descoberto todas as tentativas de usar as diferenças e a ignorância para semear medo, ódio e conflito. Porque sabemos que o medo e o ódio, alimentados e manipulados, desestabilizam e deixam espiritualmente indefesas as nossas comunidades.

Encorajo-vos, com o único desejo de tornar visível a presença e o amor de Cristo que Se fez pobre por nós para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9): continuai a aproximar-vos daqueles que muitas vezes são deixados para trás, dos humildes e dos pobres, dos prisioneiros e dos migrantes. Que a vossa caridade se faça sempre ativa, tornando-se assim uma via de comunhão entre os cristãos de todas as confissões presentes em Marrocos: o ecumenismo da caridade. Possa também ser uma via de diálogo e colaboração com os nossos irmãos e irmãs muçulmanos e com todas as pessoas de boa vontade. A melhor oportunidade que temos para continuar a trabalhar em prol duma cultura do encontro é a caridade, especialmente para com os mais frágeis. Enfim, seja ela a via que permita às pessoas feridas, atribuladas e excluídas reconhecerem-se membros da única família humana, sob o signo da fraternidade. Como discípulos de Jesus Cristo, neste mesmo espírito de diálogo e cooperação, tende sempre a peito prestar a vossa contribuição para o serviço da justiça e da paz, da educação das crianças e dos jovens, da proteção e do acompanhamento dos idosos, dos vulneráveis, das pessoas com deficiência e dos oprimidos.

Mais uma vez agradeço a todos vós, irmãos e irmãs, pela vossa presença e a vossa missão aqui em Marrocos. Obrigado pelo vosso serviço humilde e discreto, seguindo o exemplo dos nossos anciãos na vida consagrada, dos quais me apraz saudar a decana: a Irmã Hersília. Na tua pessoa, querida Irmã, dirijo uma cordial saudação às irmãs e irmãos idosos que, devido ao próprio estado de saúde, não se encontram aqui fisicamente presentes, mas estão unidos connosco por meio da oração.

Todos vós sois testemunhas duma história que é gloriosa, porque história de sacrifícios, de esperança, de luta diária, de vida gasta no serviço, de constância no trabalho fadigoso, porque todo o trabalho é suor do nosso rosto. Mas permiti que vos diga também: «Vós não tendes apenas uma história gloriosa para recordar e narrar, mas uma grande história a construir! Olhai o futuro, para o qual vos projeta o Espírito» (Exort. ap. pós-sinodal Vita consecrata, 110), para continuardes a ser sinal vivo daquela fraternidade a qual o Pai nos chamou, sem cair em exaltações nem resignações, mas como crentes que sabem que o Senhor sempre nos precede e abre espaços de esperança onde algo coisa ou alguém parecia perdido.

O Senhor abençoe a cada um de vós e, por vós, aos membros de todas as vossas comunidades. O seu Espírito vos ajude a produzir frutos em abundância: frutos de diálogo, justiça, paz, verdade e amor, para que aqui, nesta terra amada por Deus, cresça a fraternidade humana. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!

VN

QUARESMA 2019 – 23 - Evangelho do dia – Lc 15,1-3.11-32

 
 
 
Duas vezes saíste de casa,
Senhor,
cheio de compaixão,
ao encontro do pecador.

Serei eu,
Senhor,
o que gasta tudo o que é teu,
ou o que tem ciúmes do teu amor?

Olhas-me com toda a bondade,
Senhor,
e dizes-me num belo momento,
a mais linda e pura verdade:
Não me interessa o teu pecado,
mas o teu arrependimento,
porque a única coisa que quero,
é a tua felicidade.


Marinha Grande, 31 de Março de 2019
Joaquim Mexia Alves

30 março, 2019

Papa a migrantes: sejam “porto seguro” de acolhimento entre vós

 
 
O Pontífice encontrou migrantes na sede da Cáritas em Rabat, Marrocos, e voltou a enaltecer a importância dos quatro verbos que dão dignidade à situação migratória: acolher, proteger, promover e integrar. Foi o último compromisso do Papa Francisco deste sábado (30)
 
Andressa Collet – Cidade do Vaticano

No último compromisso deste sábado (30), em Rabat, no Marrocos, o Papa Francisco visitou a sede da Caritas diocesana para se encontrar com um grupo de migrantes. No local, além da saudação pública do arcebispo de Tangeri, Dom Agrelo Martinez, o Pontífice ouviu o testemunho de dois migrantes: uma estudante africana de Microbiologia, proveniente da Nigéria, e outro europeu, da França, diplomado em Desenho Industrial.

O Pontífice começou o discurso dirigindo-se aos presentes como “queridos amigos” e agradecendo o empenho da Igreja ao serviço dos migrantes, que sofrem com “uma ferida, grande e grave, que continua a afligir o início deste séc. XXI”. Improvisando, o Papa também fez um agradecimento especial às crianças, que se apresentaram com uma dança e trajes típicos, porque elas “são a esperança e é por elas que devemos lutar”.

“Uma ferida que brada ao céu; não queremos que a indiferença e o silêncio sejam a nossa resposta (cf. Ex 3, 7). E, mais ainda, quando se constata que são muitos milhões os refugiados e outros migrantes forçados que pedem a proteção internacional, sem contar com as vítimas do tráfico e das novas formas de escravidão nas mãos de organizações criminosas. Ninguém pode ficar indiferente perante este sofrimento.”

O Papa, então, citou o Pacto Mundial para Migração Segura, Ordenada e Regular, ratificado meses atrás, em Marrocos, que desafia todos a responder ao chamamento atual das migrações contemporâneas. O Pontífice reafirmou a importância dos quatro verbos – acolher, proteger, promover e integrar – que formam um quadro de referência para dar dignidade, vida segura e solidária aos migrantes. Não basta limitar-mo-nos “a ações de se sintam os primeiros protagonistas e gestores em todo este processo”.
 
Verbo: acolher
 
O Papa começou por descrever o verbo “acolher”, que significa dar os migrantes e refugiados, entrada segura e legal nos países de destino. O próprio Pacto Mundial prevê a ampliação dos canais regulares de migração, num esforço para barrar quem se aproveita “dos sonhos e carências dos migrantes”.

“Enquanto este serviço não for plenamente implementado, deve-se enfrentar a premente realidade dos fluxos irregulares com justiça, solidariedade e misericórdia. As formas de expulsão coletiva, que não permitem uma gestão correta dos casos particulares, não devem ser aceites; ao passo que os percursos extraordinários de regularização, sobretudo nos casos de famílias e menores, se devem incentivar e simplificar.”
 
Verbo: proteger
 
Já o verbo “proteger”, acrescentou o Pontífice, é para assegurar os direitos dos migrantes, independentemente da sua situação migratória, sobretudo no que tange à violência, exploração e abusos de todo o género.

“Aqui, julgo necessário também prestar uma atenção particular aos migrantes em situação de grande vulnerabilidade, aos numerosos menores não acompanhados e às mulheres. Essencial é poder garantir a todos uma assistência médica, psicológica e social capaz de devolver dignidade a quem a perdeu ao longo do caminho, como fazem dedicadamente os operadores desta estrutura onde nos encontramos.”
 
Verbo: promover
 
Ao tratar do verbo “promover”, o Pontífice afirmou que começa “pelo reconhecimento de que ninguém é um descarte humano, mas é portador de uma riqueza pessoal, cultural e profissional que pode trazer muito valor ao local onde está”.

“A aprendizagem da língua local, enquanto veículo essencial de comunicação intercultural, há de ser vivamente encorajada, bem como toda a forma positiva de responsabilização dos migrantes face à sociedade que os acolhe, aprendendo a respeitar as pessoas e os laços sociais, as leis e a cultura, prestando assim uma contribuição mais intensa para o desenvolvimento humano integral de todos.”

O Papa, então, falou da importância da promoção humana dos migrantes inclusive nas comunidades de origem “onde, juntamente com o direito de emigrar, se deve garantir também o de não ser forçado a emigrar”, mas de encontrar na pátria condições que permitam uma vida digna.
 
Verbo: integrar
 
Ao tratar do verbo “integrar”, o Papa enalteceu o empenho de valorizar tanto a cultura da comunidade que acolhe como dos próprios migrantes para a construção de uma “sociedade intercultural e aberta”, “acolhedora, plural e solícita”, num percurso que deve ser percorrido entre os migrantes e residentes, como “autênticos companheiros de viagem”.

"Sabemos que não é nada fácil entrar numa cultura que nos é estranha – tanto para quem chega como para quem acolhe –, colocar-nos no lugar de pessoas tão diferentes de nós, entender os seus pensamentos e as suas experiências. Por isso, muitas vezes renunciamos ao encontro com o outro e erguemos barreiras para nos defender (cf. Homilia no Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, 14 de janeiro de 2018).”

O Papa então garantiu que a Igreja está a esforçar-se para fazer esse caminho com os migrantes, pois conhece as angústias e sofre com eles. O agradecimento também foi a todas as associações do mundo que estão ao serviço dos migrantes e refugiados, afinal, “para o cristão, «não se trata apenas de migrantes», mas é o próprio Cristo que bate à nossa porta”.
“ O Senhor, que durante a sua vida terrena viveu na própria carne a angústia do exílio, abençoe cada um de vós, dê a força necessária para não desanimarem e para serem, uns para os outros, «porto seguro» de acolhimento. ”

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Papa encoraja católicos e cristãos em Marrocos: sejam promotores de fraternidade

 
 
A oração do Papa pela prosperidade do Marrocos e o crescimento da fraternidade e solidariedade entre cristãos e muçulmanos, foi o que pediu o Papa Francisco na mensagem escrita no Livro de Honra, no final da visita aos túmulos dos soberanos do país, na esplanada da “Tour Hassan”
 
Gabriella Ceraso - Cidade do Vaticano
 
No final do primeiro discurso oficial de sua viagem apostólica ao Marrocos, proferido diante do povo, das autoridades e de representantes da sociedade civil e do corpo diplomático na Esplanada da “Tour Hassan”, o Papa Francisco entrou no Mausoléu Mohammed V.

Ao lado do rei e de várias autoridades com quem conversou longamente, Francisco visitou os túmulos de Mohammed V, considerado o pai da moderna nação marroquina, sultão de 1927 a 1953, e de Hassan II, rei de Marrocos de 1961 a 1999. Um tributo floral e a assinatura do livro de honra marcaram a visita a esta tradicional construção de mármore branco, resultado do trabalho de centenas de artesãos e da assinatura do arquiteto vietnamita Eric Vo Toan.

No livro de honra a oração do Papa a Deus Pai Onipotente "pela prosperidade do Reino de Marrocos" e pelo "crescimento da fraternidade e solidariedade entre cristãos e muçulmanos". Ao Papa também como presente, dado pelo Conservador do Mausoléu, um troféu e um livro sobre a história do monumento sepulcral.

No final da visita ao Mausoléu, a transferência do Papa de carro para o Palácio Real, residência oficial e administrativa dos soberanos do Marrocos desde 1785, para continuar o diálogo em particular com o rei, para saudar sua família e para a tradicional troca de presentes.

Francisco partiu do aeroporto romano de Fiumicino às 11h00 - (hopra de Roma) - e chegou ao aeroporto de Rabat após três horas de viagem. Durante suas Viagens Apostólicas, o Santo Padre costuma enviar telegramas aos Chefes de Estado dos países sobrevoados. Desta vez, enviou aos Presidentes da Itália, Sergio Mattarella, e da França, Emmanuel Macron, e ao Rei de Espanha, Sua Majestade Felipe VI.
 
Papa encontra povo de Marrocos
 
Ao chegar a terras marroquinas, Francisco dirigiu-se à Esplanada da Mesquita “Tour Hassan II”, em Rabat, para a cerimónia de boas-vindas. Ali, o Santo Padre manteveo seu primeiro encontro com o povo marroquino, as autoridades civis e religiosas e o Corpo Diplomático, do qual participaram 25 mil pessoas.

O Santo Padre iniciou o seu discurso com a saudação em árabe “As-Salam Alaikum”, desejando a Paz para todos:

Estou feliz por pisar o solo deste país, rico de muitas belezas naturais, defensor dos vestígios de antigas civilizações e testemunha de uma história fascinante... Esta visita é, para mim, motivo de alegria e gratidão, porque permite-me descobrir as riquezas desta terra, deste povo e das suas tradições, como também pela grande oportunidade de promover o diálogo inter-religioso e o conhecimento mútuo entre os fiéis das nossas duas religiões”.

Aqui, o Santo Padre recordou o histórico encontro entre São Francisco de Assis e o Sultão al-Malik al-Kamil, há oitocentos anos. Este evento profético demonstra a coragem deste encontro e da mão estendida que representam “um caminho de paz e harmonia” para a humanidade, em situações onde o extremismo e o ódio são fatores de divisão e destruição. E o Papa acrescentou:
“ Desejo que a estima, o respeito e a colaboração entre nós possam contribuir para aprofundar os nossos laços de sincera amizade, a fim de permitir às nossas comunidades preparar um futuro melhor às novas gerações. ”
O desafio do diálogo inter-religioso
 
Naquela terra, ponte natural entre a África e a Europa, o Papa  reiterou a necessidade de unir os esforços, de muçulmanos e católicos, para dar novo impulso à construção de um mundo mais solidário, mais comprometido com um diálogo honesto, corajoso e necessário, no respeito das riquezas e especificidades de cada povo e de cada pessoa:
“ Este é um desafio que todos somos chamados a assumir, sobretudo neste tempo em que se corre o risco de fazer das diferenças e mútuo desconhecimento motivos de rivalidade e desagregação. ”
Por isso, - afirmou Francisco -, para participar na construção de uma sociedade aberta, pluralista e solidária, é essencial desenvolver e assumir, com constância e sem cessar, a cultura do diálogo, a colaboração como conduta, o conhecimento recíproco como método e critério:
“ Eis o caminho que somos convidados a percorrer, sem cessar, para nos ajudar a superar, juntos, as tensões e os mal-entendidos, as máscaras e os estereótipos, que levam sempre ao medo e à contraposição. E assim, abrir alas para um espírito de mútua colaboração frutuosa, com base no respeito. ”
Com efeito, disse Francisco, “é indispensável contrapor ao fanatismo e ao fundamentalismo a solidariedade de todos os fiéis, com base nas nossas ações os valores que nos acomunam”. Nesta perspetiva, o Papa irá visitar, logo a seguir, o Instituto Mohammed VI, criado pelo rei Mohammed VI, para imames pregadores e pregadoras, com o objetivo de proporcionar uma formação adequada e sadia contra todas as formas de extremismo, que, muitas vezes, levam à violência e ao terrorismo e constituem uma ofensa à religião e ao próprio Deus. E o Papa ponderou:

Um diálogo autêntico convida-nos a não subestimar a importância do fator religioso para construir pontes entre os homens e enfrentar com êxito os desafios. De facto, no respeito das nossas diferenças, a fé em Deus leva-nos a reconhecer a dignidade e os direitos do ser humano”.
 
A construção de pontes entre os povos
 
Acreditamos – afirmou Francisco - que Deus criou os seres humanos iguais em direitos, deveres e dignidade, e os chamou a viver como irmãos, segundo os valores do bem, da caridade e da paz. Por isso, a liberdade de consciência e a liberdade religiosa – que não se limitam à liberdade de culto, mas consente viver segundo a própria convicção religiosa – estão inseparavelmente ligadas à dignidade humana:
“ Neste sentido, a construção de pontes entre os homens, na perspetiva do diálogo inter-religioso, deve ser encarada sob o signo da convivência, da amizade e da fraternidade. ”
Ao terminar o seu primeiro discurso em terras marroquinas, o Santo Padre recordou a grave crise migratória, que constitui para todos um urgente apelo para erradicar as suas causas. Sabemos que a consolidação de uma paz verdadeira passa pela busca da justiça social.
 
Comunidade católica e ação pastoral em Marrocos 
 
Enfim, falando dos cristãos, que ocupam o seu lugar na sociedade marroquina, Francisco disse que “querem colaborar para a edificação de uma nação solidária, próspera e do bem comum”. Aqui, recordou a ação pastoral da Igreja Católica em Marrocos: obras sociais, educação em escolas abertas a estudantes de todas as confissões, religiões e proveniência.

Enfim, encorajou os católicos e os cristãos a serem, em Marrocos, servidores, promotores e defensores da fraternidade humana. Shukran bi-saf! Obrigado a todos!

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