26 janeiro, 2019

Hoje, assim como à 2000 anos atrás, o “escândalo” de abraçar os pecadores

 
Papa na visita ao Centro de Reabilitação para Menores  (Vatican Media)
 
A evangelização baseia-se na centralidade da compaixão. Uma mensagem que coloca em discussão inclusive algumas atitudes da mídia católica, que diariamente se dedica à condenação.
 
Andrea Tornielli - Panamá
Na festa do padroeiro dos jornalistas (24/01), São Francisco de Sales, falando aos bispos centro-americanos o Papa alertou algumas mídias católicas. Antes de tudo, disse que o resultado da evangelização não se baseia na riqueza de meios ou na quantidade de eventos que organizamos, mas «na centralidade da compaixão».


«Preocupa-me ver como a compaixão perdeu a sua centralidade na Igreja, acrescentou Francisco. Até mesmo os grupos católicos a perderam – ou estão a perdê-la, para não sermos pessimistas. Mesmo nos meios de comunicação social católicos, a compaixão não existe. Há a estigmatização, a condenação, a maldade, a obstinação, a supervalorização de si mesmo, a denúncia de heresia…». É a “fotografia” de uma realidade infelizmente sob os olhos de todos: o difundir-se até mesmo entre a mídia que se proclama católica, o hábito de querer julgar tudo e todos, colocando-se num pedestal e criticando especialmente os irmãos na fé que têm opiniões diferentes. E não se deve acreditar que esta atitude tão profundamente anticristã (mesmo se veiculada por canais “católicos”) seja um fenómeno transitório, ligado somente à crítica cotidiana do atual pontificado. Na origem desta atitude, de facto, está algo mais profundo e menos contingente: o acreditar que, para existir e afirmar-se, a minha identidade necessite diariamente de identificar um inimigo contra o qual combater. Alguém para atacar, alguém para condenar, alguém para julgar herético.
Também a respeito, o testemunho de Jesus apresenta-se como uma transformação total, que desenraiza tradições adquiridas e comportamentos solidificados, desafiando os “intelectuais” de todas as épocas e lugares. Vimos isso mais uma vez no encontro que no dia 25 de janeiro Francisco teve no “Centro de Cumplimento de Menores Las Garzas di Pacora”, com a JMJ panamenha que, por algumas horas, entrou na prisão, aproximando-se daqueles jovens impossibilitados de participar nos eventos. Um comovente testemunho de compaixão e misericórdia que não nasce de um manual, mas porque aquela compaixão e misericórdia foram vividas na primeira pessoa para poder dirigir o olhar ao outro, ao pecador, a quem errou.

Francisco explicou aos hóspedes do centro de reabilitação que Jesus não teve medo de se aproximar de quem, por vários motivos, carregava o peso do ódio social. Comia na casa de publicanos e pecadores, escandalizando a todos. Porque «Jesus se aproxima, se compromete, coloca em jogo a sua reputação e convida sempre a olhar para um horizonte capaz de renovar a vida e a história». Mas muitos não suportam esta escolha do Filho de Deus, preferem congelar e estigmatizar os comportamentos de quem errou, rotulando não somente o passado, mas também o presente. E fazendo assim, explicou Francisco, só produz divisão, separando os bons e os maus, os justos e os pecadores. Elevam-se muros invisíveis acreditando que, marginalizando e isolando, resolve-se o problema. Ao invés, quase cada página do Evangelho mostra-nos uma atitude diferente, uma revolução copernicana, que passa através dos olhos de Jesus, capazes de olhar as pessoas não pelos erros, pelos pecados e pelos crimes que cometeram, mas por aquilo que a sua vida pode tornar-se se tocada pela misericórdia, pela compaixão, pelo amor infinito de um Deus que abraça antes de julgar.

Esse olhar, disse o Papa, nasce do coração de Deus. «Comendo com publicanos e pecadores – acrescentou Francisco falando aos menores encarcerados –, Jesus quebra a lógica que separa, exclui, isola e divide falsamente entre «bons e maus». E fá-lo, não por decreto ou com boas intenções, nem com voluntarismos ou sentimentalismo, mas criando vínculos capazes de permitir novos processos; apostando e fazendo festa em cada passo possível». Porque o olhar do Senhor, que podemos experimentar no sacramento da penitência, «não vê rótulos nem condenação. Mas vê filhos».


VN

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