31 janeiro, 2019

Viagem aos Emirados Árabes. Papa: a fé une, não divide



Foi divulgada na quinta-feira (31/01) a mensagem do Papa Francisco nas vésperas da sua viagem aos Emirados Árabes Unidos, de 3 a 5 de fevereiro. 

Cidade do Vaticano 

A fé em Deus “une e não divide, aproxima não obstante a distinção, afasta da hostilidade e da aversão": este é um trecho da mensagem do Papa Francisco divulgada nas vésperas da sua viagem aos Emirados Árabes Unidos, de 3 a 5 de fevereiro. 

Respeito das diversidades

“Somos irmãos mesmo sendo diferentes”, afirma o Papa, saudando em árabe a população do país: “Al Salamu Alaikum, a paz esteja convosco”. Francisco declara-se “feliz” em visitar os Emirados Árabes Unidos, uma “terra que – destaca o Pontífice – procura ser um modelo de convivência, de fraternidade humana e de encontro entre as diferentes civilizações e culturas, onde muitos encontram um lugar seguro para trabalhar e viver livremente, no respeito das diversidades”. 

Verdadeira riqueza

O Pontífice prepara-se para encontrar um povo “que vive o presente com o olhar voltado para o futuro”, citando o fundador dos Emirados Árabes Unidos o Xeque Zayed, que declarava que a verdadeira riqueza “não reside somente nos recursos materiais”, mas nos “homens”, “nas pessoas que constroem o futuro da sua nação”. 

Fraternidade humana

Francisco agradece ao Xeque Mohammed bin Zayed bin Sultan Al Nahyan pelo convite para participar “no encontro inter-religioso sobre o tema ‘Fraternidade humana’”, que se realizará na segunda-feira à tarde no Founder’s Memorial de Abu Dhabi.

Na ótica da viagem, cujo lema é extraído da oração atribuída a São Francisco de Assis: “Senhor, faz de mim um instrumento da tua paz”, o Papa define-se ainda “grato” às demais autoridades dos Emirados Árabes Unidos “pela ótima colaboração, a generosa hospitalidade e o fraterno acolhimento oferecidos nobremente para realizar” a visita. 

O Grande Imã de Al-Azhar

Por fim, o Santo Padre agradece ao “amigo e querido irmão o Grande Imã de Al-Azhar, Dr. Ahmed Al-Tayeb, e aos que colaboraram na preparação do encontro” pela “coragem” e a “vontade” de afirmar que a fé em Deus une, e não divide. Com “alegria”, conclui Francisco, "preparo-me para encontrar e saudar ‘eyal Zayid fi dar Zayid, os filhos de Zayid na casa de Zayid”, uma terra “de prosperidade e paz”, “de sol e harmonia”, “de convivência e encontro".
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Papa: que os padres sejam alegres como Dom Bosco

 
 Missa na Capela da Casa de Santa Marta  (Vatican Media)
 
O Papa Francisco inspirou a sua homilia da Missa matutina celebrada na Casa de Santa Marta, em São João Bosco, cuja memória é recordada hoje pela Igreja. O cerne de sua exortação é que os sacerdotes não sejam funcionários, mas tenham a coragem de olhar a realidade com olhos de homem e de Deus.
 
Cidade do Vaticano

O Papa Francisco celebrou a missa na Casa de Santa Marta e a sua homilia foi sobre a figura de São João Bosco que a Igreja recorda, nesta quinta-feira (31/01).

O Pontífice lembrou que no dia de sua ordenação, a mãe de São João Bosco, uma mulher humilde e camponesa, “que não tinha estudado na faculdade de teologia”, disse-lhe: “Hoje, começarás a sofrer”. Queria enfatizar uma realidade, mas também chamar a atenção, porque se o seu filho pensou que não haveria sofrimento, significava que algo não estava certo. “É uma profecia de mãe”, uma mulher simples, mas com um coração cheio do espírito. Para um sacerdote, o sofrimento é um sinal de que tudo vai bem, mas não porque ele seja um “faquir”, mas pelo que fez Dom Bosco, que teve a coragem de olhar a realidade com os olhos de homem e com os olhos de Deus. “Ele, disse o Papa Francisco, “naquela época maçónica, anticlerical”, de “uma aristocracia fechada, onde os pobres eram realmente os pobres, o descarte, viu aqueles jovens nas ruas e disse: “Não pode ser!”.

“Olhou com os olhos de homem, um homem que é irmão e pai também, e disse: “Mas não, isto não pode ser assim! Estes jovens talvez acabarão condenados e precisarão do apoio do pe. Cafasso. Não, não pode ser assim”, comoveu-se como homem e como homem começou a pensar nas maneiras de fazer crescer os jovens, amadurecer os jovens. Estradas humanas. E depois teve a coragem de olhar com os olhos de Deus e ir até Deus e dizer: “Mostra-me isto... isto é uma injustiça... o que fazer diante disto ... Criaste estas pessoas para uma plenitude e elas estão numa verdadeira tragédia...”. E assim, olhando para a realidade com o amor de um pai, pai e mestre, diz a liturgia de hoje, e olhando para Deus com os olhos de um mendigo que pede algo de luz, começa a seguir em frente.

Pe. Giuseppe Cafasso confortava os encarcerados, em Turim, no século XIX e muitas vezes acompanhava até à forca, os condenados à morte. Ele ficou conhecido como “o padre da forca” e foi um grande amigo de São João Bosco.

O sacerdote, reiterou o Papa, deve ter “estas duas polaridades”: “olhar a realidade com os olhos de homem e com os olhos de Deus”. Isto significa passar “muito tempo diante do tabernáculo”.

“Olhar desta maneira fez-lhe ver o caminho, pois ele não foi somente com o Catecismo e o Crucifixo , para dizer: “façam isso...”. Os jovens teriam-lhe dito: “Deixa pra lá! Vemo-os amanhã”. Não, não: ele estava próximo deles, com a vivacidade deles. Fez os jovens distrair, também em grupo, como irmãos. Ele foi, caminhou com eles, ouviu com eles, viu com eles, chorou com eles e levou-os em frente, assim. Um sacerdote que olha humanamente as pessoas, que está ao alcance de todos.”

O Papa enfatiza assim, que os sacerdotes não devem ser funcionários ou empregados que recebem, por exemplo, "das 15 às 17h30". "Temos tantos funcionários, bons - continua ele - que fazem o seu trabalho, como devem fazer os funcionários. Mas o padre não é um funcionário, não pode sê-lo".

Francisco então exorta a olhar com os olhos de homem e "virá a ti aquele sentimento, aquela sabedoria de entender que são seus filhos, seus irmãos. E depois, ter coragem de ir e lutar lá: o sacerdote é alguém que luta ao lado de Deus".

O Papa sabe que “ existe sempre o risco de olhar muito o humano e nada o divino, ou muito o divino e nada o humano", mas "se não arriscarmos, não faremos nada na vida", adverte.

Um pai, de facto, arrisca pelo filho, um irmão arrisca-se por um irmão quando existe amor. Isto, certamente comporta sofrimentos, começam as perseguições, a tagarelice: "Este padre está lá, na rua", com aqueles jovens mal-educados que "~partem o vidro da janela com a bola".

O Papa então agradece a Deus por nos ter dado São João Bosco que desde criança começou a trabalhar, sabia o que era ganhar o pão em cada dia e tinha entendido o que era a piedade, "qual era a verdadeira piedade". Este homem - sublinha ainda Francisco ao concluir - teve de Deus um grande coração de pai e mestre:

“E qual é o sinal de que um padre está a fazer bem, olhando para a realidade com os olhos de homem e com os olhos de Deus? A alegria. A alegria. Quando um padre não encontra alegria por dentro, pare imediatamente e pergunte o porquê. E a alegria de Dom Bosco é conhecida: é o mestre da alegria, hein! Porque ele alegrava os outros  e a si próprio. E ele sofria. Peçamos hoje ao Senhor, por intercessão de Dom Bosco, a graça de que os nossos sacerdotes sejam alegres: alegres porque têm o verdadeiro sentido de olhar para as coisas da pastoral, o povo de Deus, com os olhos de homem e com os olhos de Deus”.

Veja um trecho da homilia do Santo Padre
 


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30 janeiro, 2019

Papa Francisco: a próxima Jornada será em português!



Ao saudar os os fiéis e peregrinos de língua portuguesa durante a Audiência Geral, o Papa recordou que a "próxima Jornada será em português!", em referência a Lisboa, que acolherá o evento em 2022.
 
Cidade do Vaticano

O Papa Francisco brincou com os fiéis e peregrinos de língua portuguesa durante a Audiência Geral de 30 de janeiro. Ao saudá-los, recordou que a "próxima Jornada será em português!", em referência a Lisboa, que acolherá o evento em 2022.

"Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, particularmente o grupo do Colégio São José de Coimbra. Queridos amigos, o mundo precisa de uma Igreja jovem, alegre e acolhedora: renovemos o nosso compromisso para que as nossas comunidades se convertam em lugares onde se faz a experiência do amor de Deus, que não exclui a ninguém. E a próxima Jornada será em português! Que o Senhor vos abençoe a todos!"
 
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Papa na Audiência Geral: os jovens são fermento de paz no mundo

 
 
O Papa, na habitual catequese, deteve-se na sua recente Viagem Apostólica ao Panamá, convidando os fiéis a darem com ele, graças a Deus, “por esta graça” que o Senhor “quis doar à Igreja e ao povo daquele amado país”. 
 
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano

A Sala Paulo VI, no Vaticano, ficou repleta de fiéis que participaram da Audiência Geral com o Papa Francisco, nesta quarta-feira (30/01).

O Papa, na habitual catequese, deteve-se na sua recente Viagem Apostólica ao Panamá, convidando os fiéis a darem com ele, graças a Deus, “por esta graça” que o Senhor “quis doar à Igreja e ao povo daquele amado país”.

Francisco agradeceu o acolhimento caloroso e familiar do presidente do Panamá e demais autoridades, e também dos voluntários e das pessoas que corriam para saudá-lo “com grande fé e entusiasmo”.

O Papa disse que as pessoas levantavam as crianças, como se estivessem a dizer: “Eis o meu orgulho, eis o meu futuro! Quanta dignidade nesse gesto, e quanto é eloquente para o inverno demográfico que estamos a viver na Europa”, disse ele. 

Jornada Mundial da Juventude

“O motivo desta viagem foi a Jornada Mundial da Juventude. Todavia, nos encontros com os jovens realizaram-se outros, ligados à realidade do país: com as autoridades, bispos, jovens detidos, consagrados e uma casa-família. Tudo foi contagiado e amalgamado pela presença alegre dos jovens: uma festa para eles e uma festa para o Panamá, e também para toda a América Central, marcada por várias situações e necessitada de esperança e paz.”
 
Francisco recordou que antes da Jornada Mundial da Juventude, foram realizados os encontros dos jovens indígenas e afro-americanos, “uma iniciativa importante que manifestou ainda melhor o rosto multiforme da Igreja na América Latina. Depois com a chegada de grupos de várias partes do mundo, formou-se uma grande sinfonia de rostos e línguas, típica desse evento. Ver todas as bandeiras desfilarem juntas, dançando nas mãos dos jovens alegres por se encontrarem, é um sinal profético, um sinal contracorrente em relação à triste tendência atual dos nacionalismos conflituosos. É um sinal de que os jovens cristãos são fermento de paz no mundo”. 

Forte impressão mariana

O Papa disse ainda que esta JMJ teve uma forte impressão mariana, pois o seu tema foram as palavras da Virgem ao Anjo: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”.

Segundo Francisco, foi forte ouvir as palavras nos seus rostos. Enquanto houver novas gerações capazes de dizer “eis-me aqui” a Deus, haverá um futuro para o mundo.

O Pontífice recordou alguns momentos da JMJ como a Via-Sacra com os jovens, afirmando que no Panamá “os jovens levaram com Jesus e Maria o peso da condição de muitos irmãos e irmãos que sofrem na América Central e no mundo inteiro. Entre eles encontram-se muitos jovens, vítimas de várias formas de escravidão e pobreza. 

Responsabilidade dos adultos

A seguir, recordou a Liturgia Penitencial com os jovens reclusos, no Centro Correcional de Menores e a visita ao Lar do Bom Samaritano que acolhe os portadores de Hiv/Aids.

O Papa falou também da Vigília e da missa com os jovens, ressaltando que na celebração eucarística “fez um apelo à responsabilidade dos adultos para que não faltem às novas gerações, educação, trabalho, comunidade e família”.

Para Francisco, o encontro com os bispos da América Central foi um momento de consolo. “Juntos deixam-mo-nos instruir pelo testemunho de São Óscar Romero, a fim de aprender melhor o “sentir com a Igreja”, que era o seu lema episcopal, estando próximos dos jovens, dos pobres, dos sacerdotes e do santo povo fiel de Deus.” 

Jovens discípulos missionários

Teve um forte valor simbólico a consagração do altar da Igreja de Santa Maria La Antigua que foi restaurada. “Um sinal da beleza reencontrada, para a glória de Deus, para a fé e a festa do seu povo”, disse o Papa.

“Que a família da Igreja no Panamá e no mundo inteiro possa obter sempre, do Espírito Santo, nova fecundidade, para que continue e se difunda na terra a peregrinação dos jovens discípulos missionários de Jesus Cristo”, concluiu Francisco.

Veja também:

Audiência Geral de 30 de janeiro de 2019


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29 janeiro, 2019

Papa: degradação ambiental tem a ver com degradação humana e social

 
 Segundo o Papa, os ambientes humano e natural caminham de mãos dadas
e podem-se degradar juntos
 
Na mensagem aos participantes da IV Conferência Internacional “Pelo equilíbrio do mundo”, em Cuba, Francisco diz que "vários acontecimentos ocorridos no planeta contribuíram significativamente para colocar em risco o equilíbrio da civilização atual"
 
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano

O Papa Francisco enviou uma mensagem, nesta terça-feira (29/01), aos participantes da IV Conferência Internacional “Pelo equilíbrio do mundo”.

O Congresso teve início, nesta segunda-feira (28/01), em Havana, Cuba, e se concluirá na próxima quinta-feira, 31, “como parte da comemoração de uma data significativa para aquele querido país, como o nascimento de José Martí. O objetivo é unir esforços que contribuam, através de um diálogo frutífero, a fortalecer os laços de fraternidade entre as nações”, afirma o Papa no texto. 

Ambientes humano e natural caminham de mãos dadas 
 
“É fácil constatar como os vários acontecimentos ocorridos no planeta contribuíram significativamente para colocar em risco o equilíbrio da civilização atual. Por esta razão, os homens de bem se devem unir e encontrarem-se em eventos desta natureza, num quadro de pluralidade, a fim de alcançar uma autêntica promoção humana, sabendo também que «todos aqueles que estão empenhados na defesa da dignidade das pessoas podem encontrar, na fé cristã, as razões mais profundas para tal compromisso»”, ressalta Francisco na mensagem, citando um trecho da Encíclica Laudato si’.

Segundo o Papa, “o ambiente humano e o natural caminham de mãos dadas e podem-se se degradar juntos. A degradação ambiental não pode ser enfrentada de forma adequada se não compreendermos as causas que têm a ver com a degradação humana e social. Por este motivo, eu expressei-me durante a minha visita pastoral a Cuba, que uma “cultura do encontro” deveria ser cultivada, sobretudo entre os jovens, por meio da promoção da ‘amizade social’, que nos una num objetivo comum de promoção das pessoas”. 

Civilização cada vez mais fraterna
 
Francisco incentivou os participantes a procurarem alternativas eficazes em torno do pensamento de José Martí, “homem de luz”, conforme definido por São João Paulo II durante a sua visita a Cuba, em 1998.

“Que os ensinamentos deste mestre e escritor cubano ressoem dentro de nós e nos lembrem, com as suas palavras, que «todas as árvores da terra se concentrarão no final numa, que dará na eternidade um aroma suave: a árvore do amor, de ramos robustos e copiosos, que no seu nome abrigarão todos os homens, sorridentes e em paz»”.

O Papa concluiu, desejando “que esses dias de trabalho e reflexão dêem frutos de compreensão e diálogo na conquista de uma civilização cada vez mais fraterna”.

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Preparação do matrimónio: é preciso ser Igreja e não só, ir à Igreja


Preparação ao matrimónio é uma preocupação do Papa Francisco  (Vatican Media)

O vigário judicial da Diocese de Volta Redonda (RJ), Padre Vanderley Oliveira, lida diariamente com as causas de nulidade matrimonial e reflete sobre a importância da iniciação da vida cristã. 

Bianca Fraccalvieri 

O Papa Francisco voltou a falar da preparação do matrimónio no discurso de inauguração do Ano Judiciário do Tribunal da Rota Romana.
Ao ressaltar que a unidade e a fidelidade são dois bens irrenunciáveis e constitutivos do matrimónio, o Pontífice recomendou que a Igreja esteja próxima das famílias, para acompanhá-las no decorrer da sua formação e desenvolvimento.
“É preciso uma tríplice preparação do matrimónio: remota, próxima e permanente”, disse o Papa. 

O casamento é um ato de fé
O vigário judicial da Diocese de Volta Redonda (RJ), Padre Vanderley Oliveira, partilha as indicações de Francisco.
Lidando diariamente com as causas de nulidade matrimonial, o Padre Vanderley conta casos que exemplificam a falta de sentido de pertença.
“ O casamento é um ato de fé. Se não há fé, as pessoas vão fazer uma dramatização do momento, que não vai continuar, porque não foi um ato de fé, mas apenas um ato social. Muitos casam-se sem conhecimento, mesmo participando na preparação. É como se fosse algo obrigatório: tenho que fazer para me casar. ”
A catequese pré-matrimonial
As pessoas vão à Igreja, mas não são Igreja, afirma o vigário judicial, reafirmando a importância da iniciação da vida cristã:

Leia também:

«Papa - cuidar da unidade e fidelidade, bem precioso do matrimónio»

“As pessoas não têm uma vivência cristã da vida. Então o sacramento é algo desconhecido. Então eles vão fazer a preparação porque têm que casar. Não entra nada. Já dei muita formação: as pessoas dormem, ficam no whatsapp, numa indiferença.... A importância da iniciação da vida cristã: Precisa de uma nova catequese, um novo anúncio, as pessoas perderam a amizade com Cristo, do ser Igreja. Vou à Igreja, mas não sou Igreja, sem sentimento de pertença.”
VN

Papa: cuidar da unidade e fidelidade, bens preciosos do matrimónio

 
 
O Papa Francisco, na audiência desta terça-feira (29/01), no Vaticano, com os colaboradores do Tribunal Apostólico da Rota Romana, interpretou o matrimónio através de "dois bens irrenunciáveis e constitutivos" do Sacramento: a unidade e a fidelidade. O Pontífice também orientou sobre "o cuidado pastoral constante e permanente da Igreja para o bem do matrimónio e da família".
 
Andressa Collet - Cidade do Vaticano

O Papa Francisco inaugurou nesta terça-feira (29/01) o Ano Judiciário recebendo em audiência, na Sala Clementina, no Vaticano, oficiais, advogados e colaboradores do Tribunal Apostólico da Rota Romana. No discurso aos presentes, o Pontífice interpretou o Sacramento do matrimónio em relação ao momento vivido pela atual sociedade “sempre mais secularizada” e que não “favorece o crescimento da fé”. 

Unidade e fidelidade no matrimónio

Nesse contexto, afirmou o Papa, a Igreja precisa de agir ao serviço do matrimónio cristão, oferecendo um suporte espiritual e pastoral adequado. Os membros da Rota Romana, recordou o Pontífice, podem trabalhar em cima de dois bens matrimoniais como valores importantes e necessários entre os cônjuges, fundamentais da teologia e do direito matrimonial canónico, mas também da “própria essência da Igreja de Cristo”: a unidade e a fidelidade.
“ Estes dois bens irrenunciáveis e constitutivos do matrimónio requerem ser ilustrados adequadamente não só aos futuros casados, mas solicitam a ação pastoral da Igreja, especialmente dos bispos e dos sacerdotes, para acompanhar a família nas diversas etapas da sua formação e do seu desenvolvimento. […] É necessária uma preparação tripla do matrimónio: remota, próxima e permanente. ”
Cuidado pastoral da Igreja pelo bem da família
 
A etapa permanente, salientou o Papa, refere-se à formação da vida conjugal, mediante um acompanhamento que ajude a fazer crescer, no casal, a consciência dos valores e dos compromissos da vocação. E aí entra “a responsabilidade primária” dos pastores, em virtude do próprio ofício e ministério, e a “participação ativa” dos componentes das comunidades eclesiais, sob orientação do bispo e do pároco. Francisco aqui fez referência aos mais fiéis companheiros da missão de São Paulo, os cônjuges Áquila e Priscila, com fé robusta e espírito apostólico.

“O cuidado pastoral constante e permanente da Igreja para o bem do matrimónio e da família precisa de ser realizado com os vários meios pastorais: a aproximação à Palavra de Deus, especialmente mediante a lectio divina; os encontros de catequese; o envolvimento na celebração dos Sacramentos, sobretudo a Eucaristia; a conversa e a direção espiritual; a participação em grupos familiares e de serviços beneficentes para fazer um paralelo com outras famílias e a abertura às necessidades dos mais desfavorecidos”.
 
Testemunhas de fidelidade
 
O Papa Francisco, então, citou os casais que já representam “uma ajuda preciosa pastoral à Igreja” ao viverem o matrimónio “na unidade generosa e com amor fiel”. Eles são testemunhas da fecundidade da Igreja e “uma oração silenciosa para todos”, todos os dias, mesmo que esse “casal que vive há tantos anos juntos não faz notícia - é triste -, enquanto os escândalos, as separações e os divórcios fazem notícia” (cfr. Homilia na Santa Marta de 18 de maio de 2018).
“ Os casados que vivem na unidade e na fidelidade refletem bem a imagem e a semelhança de Deus. Essa é a boa notícia: que a fidelidade é possível porque é um dom, nos casados como nos presbíteros. Essa é a notícia que deveria tornar mais forte e encorajante também o ministério fiel e cheio de amor evangélico de bispos e sacerdotes; como foram de conforto para Paulo e Apolo o amor e a fidelidade conjugal do casal Áquila e Priscila. ”
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28 janeiro, 2019

Coonferência de imprensa. O Papa: “no confessionário entendi o drama do aborto”


Conferência de impresna no voo papal  (Vatican Media)

Francisco no voo de retorno a Roma: "Às mulheres que têm essa angústia eu digo: o seu filho está no céu, fale com ele, cante-lhe a canção de ninar que não pôde cantar-lhe". Para a Venezuela pede uma solução pacífica: "Assusta-me o derramamento de sangue". No encontro de fevereiro para a proteção dos menores: "Devemos conscientizar-nois do drama e ter protocolos, os bispos devem saber o que fazer". 

Andrea Tornielli – Cidade do Vaticano 

Para entender o drama do aborto é preciso estar no confessionário e ajudar as mulheres a reconciliarem-se com o filho não nascido. Para fazer é preciso "sentir" as pessoas, fazer-se ferir com encontros que que são feitos, pelas pessoas que nos atingem com as suas histórias e os seus dramas, levando tudo diante do Senhor para que os confirme na fé. No encontro de fevereiro sobre abuso, é necessário "tomar consciência" do que significam um menino ou uma menina abusados, para ficar do lado daqueles que sofreram essa violência terrível. E nessa idêntica perspectiva está a preocupação pela Venezuela, que leva Francisco a pedir uma solução pacífica e evitar o derramamento de sangue. O Papa, que disse estar "destruído" pela intensidade de uma viagem na qual não se poupou, dialoga por cinquenta minutos com os jornalistas no voo que o trouxe de volta a Roma, na primeira conferência de imprensa guiada pelo diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti.

Qual o impacto que a sua missão teve no Panamá? Que impacto lhe provocou?

"A minha missão numa Jornada Mundial da Juventude é a missão de Pedro, confirmar na fé e isso não com mandatos" frios "ou precetivos, mas deixando-me tocar o coração e respondendo ao que acontece ali. Eu a vivo assim, custa-me pensar que alguém possa realizar uma missão só com a cabeça. Para realizar uma missão deve-se sentir, e quando se sente, você é atingido. Isso afeta a sua vida, você é atingido por problemas. No aeroporto eu estava a saudar o Presidente e trouxeram um menino de cor, simpático, pequeno assim. E ele me disse-me: "Olha, esta criança estava a atravessar a fronteira da Colômbia, a sua mãe morreu, e ele ficou sozinho. Ele tem cinco anos de idade. Vem de África, mas ainda não sabemos de qual país porque não fala inglês, nem português, nem francês. Ele fala apenas a língua da sua tribo. Nós num certo sentido o adotamos". O drama de uma criança abandonada pela vida, porque a sua mãe morreu e um polícia a entregou às autoridades para tomar conta dela, afeta-lhe, e assim a missão começa a tomar cor, faz-lhe dizer algo, faz-lhe acariciar. A missão envolve-lhe sempre. Pelo menos a mim envolve. Eu digo sempre aos jovens: vocês o que fazem na vida devem fazê-lo caminhando e com as três linguagens: a da cabeça, a do coração, e a das mãos. E as três linguagens harmonizadas, de modo que pensem o que sentem e o que fazem, sintam o que pensam e o que fazem, façam o que sentem e o que pensam. Eu não posso fazer um balanço da missão. Com tudo isto eu vou diante do Senhor para rezar, às vezes adormeço diante do Senhor, mas levo todas estas coisas que vivi na missão e peço a Ele para confirmá-los na fé através de mim. É assim que eu procuro viver a missão de Papa e como eu a vivo."

A JMJ no Panamá correspondeu às suas expectativas?

"Sim, o termómetro é a fadiga e eu estou destruído."


Existe um problema que  é comum em toda a América Central, incluindo o Panamá e grande parte da América Latina: gravidez precoce. Só no Panamá foram dez mil no ano passado. Os detratores da Igreja Católica culpam-na por resistir à educação sexual nas escolas. Qual é a opinião do Papa?

"Creio que nas escolas é preciso dar educação sexual. Sexo é um dom de Deus não é um monstro. É o dom de Deus para amar e se alguém o usa para ganhar dinheiro ou explorar o outro, é um problema diferente. Precisamos de  oferecer uma educação sexual objetiva, como é, sem colonização ideológica. Porque se nas escolas é dada uma educação sexual embebida de colonizações ideológicas, destrói a pessoa. O sexo como dom de Deus deve ser educado, não rigidamente. Educado, de "educere", para fazer emergir o melhor da pessoa e acompanhá-la no caminho. O problema está nos responsáveis ​​pela educação, quer a nível nacional, quer local, como também em cada unidade escolar: quem são os professores para isso, que livros de textos usar... Eu vi de todos os tipos, há coisas que amadurecem e outras que causam danos. Digo isso sem entrar nos problemas políticos do Panamá: precisamos de  dar educação sexual para as crianças. O ideal é que comecem em casa, com os pais. Nem sempre é possível por causa de muitas situações familiares, ou porque não sabem como fazê-lo. A escola compensa isso e deve fazê-lo, caso contrário, resta um vazio que é preenchido por qualquer ideologia."

Nestes dias o senhor falou com várias pessoas e muitos jovens. Falou também com os jovens que se distanciaram da Igreja. Quais são os motivos que os afastaram?

“São muitos, alguns são pessoais. Mas a mais geral é a falta de testemunho dos cristãos, dos padres e dos bispos. Não digo dos Papas porque é demais, mas ... também. Se um pastor é um empreendedor ou organizador de um plano pastoral, se não está próximo das pessoas, não dá um testemunho de pastor. O pastor deve estar com as pessoas. O pastor deve estar na frente do rebanho, para indicar o caminho. No meio do rebanho para sentir o cheiro das pessoas e entender o que as pessoas sentem e o que precisam. Deve estar atrás do rebanho para proteger a retaguarda. Mas se um pastor não vive com paixão, as pessoas sentem-se abandonadas ou sentem um certo sentido de desprezo. Sentem-se órfãs. Falei sobre os pastores, mas há também os cristãos, os católicos. Existem os católicos hipócritas que vão à missa todos os domingos e não pagam o décimo terceiro, pagam por fora, exploram as pessoas. Depois, vão às Caraíbas de férias com o que exploram das pessoas. Se faz isso, dá um contratestemunho. A meu ver, isto é o que distancia mais as pessoas da Igreja. Sugeriria aos leigos: não diga que é católico, se não dá testemunho. Em vez disso, pode dizer: sou de educação católica, mas sou morno, sou mundano, peço desculpa, não me olhem como exemplo. Isso é o que se deve dizer. Tenho medo de católicos assim, que acreditam que  são perfeitos. A história repete-se, o mesmo aconteceu com Jesus com os doutores da Lei que rezavam, dizendo: “Obrigado, Senhor, por não ser como estes pecadores.”

Vimos por quatro dias os jovens a rezar com muita intensidade, podemos pensar que muitos tenham a vocação. Talvez alguns deles estão a hesitar, porque não se podem casar. É possível que o senhor permita aos homens casados tornarem-se padres na Igreja católica de rito latino, como acontece nas Igrejas orientais?

“Na Igreja católica de rito oriental eles podem fazer isso, fazem a opção celibatária ou de esposo antes do diaconato. Quanto ao rito latino, lembro-me de uma frase de São Paulo VI: “Prefiro dar a vida antes de mudar a lei do celibato”. Isso me veio à mente e quer afirmá-lo porque é uma frase corajosa. Ele disse em 1968-1970, num momento mais difícil do que o atual. Pessoalmente, penso que o celibato seja um dom para a Igreja e não concordo em permitir o celibato opcional. Não. Permaneceria alguma possibilidade nos lugares mais distantes, penso nas ilhas do Pacífico, mas é algo em que pensar quando há necessidade pastoral. O pastor deve pensar nos fiéis. Existe um livro do pe. Lobinger, interessante. É uma coisa em discussão entre os teólogos, não há uma decisão minha. A minha decisão é: não ao celibato opcional antes do diaconato. É uma coisa minha, pessoal. Eu não o farei, isso é claro. Sou fechado? Talvez, mas não sinto capaz de colocar-me diante de Deus com esta decisão. Padre Lobinger diz: “A Igreja faz a eucaristia e a Eucaristia faz a Igreja. Mas onde não há Eucaristia há comunidade, pense nas ilhas do Pacífico. Lobinger pergunta: quem faz a Eucaristia? Os diretores e organizadores dessas comunidades são diáconos, religiosas ou leigos. Lobinger diz: se poderia ordenar sacerdote um idoso casado, esta é a sua tese. Mas que exercite apenas o munus sanctificandi, isto é, celebre a missa, administre o Sacramento da Reconciliação e dê a unção dos enfermos. A ordenação sacerdotal dá aos três munera: o munus regendi (o pastor que guia), o munus docendi (o pastor que ensina) e o munus sanctificandi. O bispo só lhe daria a licença para o munus sanctificandi. Esta é a tese, o livro é interessante e talvez isso possa ajudar a responder ao problema. Acredito que o tema deve ser aberto nesse sentido para os lugares onde existe um problema pastoral, por falta de sacerdotes. Não digo que deve ser feito, não refletir, não rezei o suficiente sobre isso. Mas os teólogos debatem sobre isso, devem estudar. Estava conversando com um oficial da Secretaria de Estado, um bispo que teve que trabalhar num país comunista no início da revolução, e quando viram como essa revolução chegava aos anos 50, os bispos ordenaram secretamente camponeses, bons e religiosos. Depois que a crise passou, trinta anos depois, a coisa resolveu-se. Ele contou-me a emoção que sentiu quando numa celebração viu esses camponeses com mãos de camponeses colocarem as suas vestes para concelebrar com os bispos. Na história da Igreja isto se verificou. É algo a ser pensado e sobre o qual rezar. Por fim, esqueci-me de citar o Anglicanorum coetibus, de Bento XVI, para os sacerdotes anglicanos que se tornaram católicos, mantendo as suas vidas como se fossem orientais. Lembro-me de ter visto muitos deles com o colarinho clerical e com mulheres e crianças, numa audiência de quarta-feira.”

Durante a Via-Sacra um jovem pronunciou palavras muito fortes sobre o aborto: “Há um túmulo que brada ao céu e denuncia a terrível crueldade da humanidade, é o túmulo que se abre no ventre das mães... Deus nos conceda defender com firmeza a vida e fazer de modo que as leis que matam a vida sejam eliminadas para sempre”. Trata-se de uma posição muito radical. Gostaria de saber se essa posição respeita também o sofrimento das mulheres nesta situação e se corresponde a sua mensagem de misericórdia.

“A mensagem da misericórdia é para todos, inclusive para a pessoa humana que é gestante. Após este falimento, há também a misericórdia. Mas uma misericórdia difícil, porque o problema não é conceder o perdão, mas acompanhar uma mulher que tomou consciência de ter abortado. São dramas terríveis. Uma mulher quando pensa naquilo que fez... É preciso estar no confessionário, ali deve dar consolação e por isso concedi a todos os padres a faculdade de absolver o aborto, por misericórdia. Muitas vezes, mas sempre, elas devem “encontrar-se” com o filho. Quando choram e têm essa angústia eu muitas vezes as aconselho assim: o seu filho está no céu, fala consigo, cante-lhe o nana neném que não pôde cantar-lhe. E ali se encontra um caminho de reconciliação da mãe com o filho. Com Deus já existe a reconciliação, Deus perdoa sempre. Mas ela também deve elaborar o ocorrido. O drama do aborto, para ser bem entendido, precisa de estar num confessionário. É terrível.”

O senhor disse no Panamá fazer-se muito próximo dos venezuelanos e pediu uma solução justa e pacífica, no respeito pelos direitos humanos de todos. Os venezuelanos querem entender: o que significa? A solução passa mediante o reconhecimento de Juan Guaidó que foi apoiado por muitos países? Outros pedem eleições livres em breve tempo. O povo quer ouvir o seu apoio, a sua ajuda e o seu conselho.

“Eu apoio neste momento todo o povo da Venezuela porque está a sofrer, os de um lado e os de outro. Se eu ressaltasse aquilo que diz este ou aquele país, estaria expressando-me sobre algo que não conheço, seria uma imprudência pastoral de minha parte e seria danoso. As palavras que eu disse foram por mim pensadas e repensadas. E creio que com elas expressei a minha proximidade, aquilo que sinto. Eu sofro com o que está a acontecer neste momento na Venezuela e por isso peço que haja uma solução justa e pacífica. O que me espanta é o derramamento de sangue. E peço grandeza na ajuda por parte daqueles que podem ajudar a resolver o problema. O problema da violência aterroriza-me, após todo o processo de paz na Colômbia, pensem naquele atentado outro dia na escola dos cadetes, algo terrificante. Por isso devo ser... não gosto da palavra “equilibrado”, quero ser pastor e se há necessidade de uma ajuda, que peçam de comum acordo.”

Uma jovem estadunidense contou-nos que durante o seu almoço com os jovens o senhor lhe falou da dor pela crise dos abusos. Muitos católicos estadunidenses sentem-se traídos e abatidos após as notícias de abusos e encobrimentos por parte de alguns bispos. Quais são as suas expetativas e esperanças para o encontro de fevereiro, a fim de que a Igreja possa reconstruir a confiança?

“A ideia deste encontro nasceu no C9 porque nós vimos que alguns bispos não entendiam bem ou não sabiam o que fazer ou faziam uma coisa boa e outra errada. Sentimos a responsabilidade de dar uma “catequese” sobre esse problema às conferência episcopais e para isso os presidentes dos episcopados foram chamados. Primeiro: que se tome consciência do drama, de que se trata devum menino ou uma menina vítima de abuso. Recebo regularmente pessoas vítimas de abuso. Recordo uma pessoa: 40 anos sem poder rezar. É terrível, o sofrimento é terrível. Segundo: que saibam o que deve ser feito, qual é o procedimento. Porque às vezes o bispo não sabe o que fazer. É algo que cresceu muito forte e não alcançou todos os lugares. E ademais, que sejam feitos programas gerais, mas que cheguem a todas as conferências episcopais: sobre aquilo que o bispo deve fazer, e aquilo que devem fazer o arcebispo metropolitano e o presidente da conferência episcopal. Que haja protocolos claros. Esse é o objetivo principal. Mas antes das coisas que devem ser feitas, é preciso tomar consciência. No encontro rezar-se-á, haverá alguns testemunhos para se tomar consciência, alguma liturgia penitencial para pedir perdão por toda a Igreja. Estão a trabalhar bem na preparação do encontro. Permito-me dizer ter percebido uma expectativa de certo modo exagerada. É preciso moderar as expectativas em relação a estes pontos que lhes disse, porque o problema dos abusos continuará, é um problema humano, em todos os lugares. Noutro dia li uma estatística. Diz: 50% dos casos são denunciados, e somente para 5% destes há uma condenação. É terrível. É um drama humano do qual tomar consciência. Também nós, resolvendo o problema na Igreja, ajudaremos a resolvê-lo na sociedade e nas famílias, onde a vergonha cobre tudo. Mas primeiro devemos tomar consciência e ter os protocolos.”

O senhor disse que é absurdo e irresponsável considerar os migrantes como portadores do mal social. Em Itália as novas políticas sobre os migrantes levaram ao fechar do centro de acolhimento “Castelnuovo di Porto”, que o senhor conhece bem. No Centro havia claros sinais de integração, as crianças frequentavam a escola e agora correm o risco de marginalização.

“Ouvi falar sobre o que estava a acontecer em Itália, mas estava imerso nesta viagem. Não conheço os factos com precisão, mas posso imaginá-los. É verdade, o problema é muito complexo. É preciso memória. Devemos perguntar se a minha pátria é formada por migrantes. Nós, argentinos, somos todos migrantes. Os Estados Unidos, todos migrantes. Um bispo escreveu um artigo muito bonito sobre o problema da falta de memória. Usou palavras que eu uso: receber, o coração aberto para receber. Acompanhar, ajudar a crescer e integrar. O governante deve usar a prudência, porque a prudência é a virtude dos que governam. É uma equação difícil. Recorda-me o exemplo sueco, que nos anos 1970, com as ditaduras na América Latina recebeu muitos imigrantes, e todos foram integrados na sociedade. Recordo também do trabalho que é feito pela Comunidade de Santo Egídio, por exemplo: preocupa-se em integrar logo os migrantes. Mas no ano passado os suecos disseram: teremos que diminuir a entrada porque não conseguimos completar o percurso de integração. E esta é a prudência do governante. É um problema de caridade, de amor, de solidariedade. Reitero que as nações mais generosas em receber foram a Itália e a Grécia e um pouco também a Turquia. A Grécia foi muito generosa assim como a Itália, muito mesmo. É verdade que se deve pensar com realismo. Também há outra coisa: um modo de resolver o problema das migrações é ajudar os países de onde vêm os migrantes. Eles vêm por causa da fome ou da guerra. A Europa tem a possibilidade de investir onde há fome, e este é um modo de ajudar aqueles países a crescerem. Mas há sempre aquela imaginação popular que temos na inconsciência: África deve ser explorada! Isto pertence à história e faz mal! Os migrantes do Médio Oriente encontraram outras saídas: O Líbano é uma maravilha na sua generosidade, hospeda mais de um milhão de sírios. A Jordânia, faz o mesmo. E fazem o que podem, tentando integrá-los. A Turquia também recebeu migrantes. Nós também, em Itália recebemos alguns. É um problema complexo sobre o qual se deve falar sem preconceitos.”

“Agradeço a todos pelo seu trabalho – concluiu o Papa – gostaria de dizer uma coisa sobre o Panamá: ali senti um novo sentimento, veio-me esta palavra: o Panamá uma nação nobre. Encontrei nobreza. E também gostaria de dizer outra coisa, que nós na Europa, não vemos o que eu vi no Panamá. Vi pais que erguiam os seus filhos nos braços e diziam: esta é a minha vitória, este é o meu orgulho, este é o meu futuro. No inverno demográfico que vivemos na Europa – e em Itália é abaixo de zero – deve-nos fazer pensar. Qual é o meu orgulho? O turismo, as férias, a casa, o cachorrinho? Ou o filho?."

VN