30 novembro, 2018

Papa: anunciar Cristo não é marketing, mas coerência de vida


Papa celebra a missa na Casa de Santa Marta  (Vatican Media)

Na missa na Casa de Santa Marta, Francisco rezou pela unidade dos cristãos, no dia em que a Igreja festeja Santo André, padroeiro da Igreja de Constatinopla. 

Giada Aquilino – Cidade do Vaticano 

Na festa de Santo André (30/11), o Papa Francisco celebrou a missa na capela da Casa Santa Marta, convidando os fiéis a estarem "próximos da Igreja de Constantinopla", a Igreja de André, rezando “pela unidade das Igrejas”. 

Coerência ao anunciar Cristo

Na homilia, o Pontífice exortou a deixar de lado “aquela atitude, o pecado, o vício” que cada um de nós tem “dentro” de si, para ser “mais coerente” e anunciar Jesus de modo que as pessoas creiam com o nosso testemunho.

Refletindo sobre a Primeira Leitura, em que São Paulo explica como a fé provenha da escuta e a escuta diz respeito à Palavra de Cristo, o Papa recordou como é “importante o anúncio do Evangelho”, o anúncio de que “Cristo nos salvou, de que Cristo morreu e ressuscitou por nós”. De facto, o anúncio de Jesus Cristo não é levar "uma simples notícia”, mas “a única grande Boa Notícia”. Francisco explicou então o que significa o anúncio:

Não é um trabalho de publicidade, fazer propaganda para uma pessoa muito boa, que fez o bem, curou tantas pessoas e nos ensinou coisas belas. Não, não é publicidade. Tampouco é fazer proselitismo. Se alguém vai falar de Jesus Cristo, pregar Jesus Cristo para fazer proselitismo, não, isso não é anúncio de Cristo: isso é um trabalho, de pregador, feito com a lógica do marketing. O que é o anúncio de Cristo? Não é nem proselitismo nem propaganda nem marketing: vai muito além. Como é possível compreender isto? É, antes de tudo, ser enviado.

Portanto, ser enviado “à missão”, fazendo entrar “em jogo a própria vida”. O apóstolo, o enviado que “leva o anúncio de Jesus Cristo”, explicou Francisco, “fá-lo com a condição de que coloca em jogo a própria vida, o próprio tempo, os próprios interesses, a própria carne”. O Papa citou um ditado argentino, que implica “colocar a própria carne sobre o fogo”, isto é, colocar-se em jogo.

Esta viagem, de ir ao anúncio, arriscando a vida, porque jogo a minha vida, a minha carne – esta viagem – tem somente passagem de ida, não de volta. Voltar é apostasia. Anunciar Jesus Cristo com o testemunho. Testemunhar significa colocar em jogo a própria vida. Faço aquilo que digo. 

Os mártires experimentam o verdadeiro anúncio

A palavra, “para ser anúncio”, deve ser testemunho, reiterou Francisco, que fala de “escândalo” a propósito dos cristãos que dizem sê-lo e depois vivem “como pagãos, como descrentes”, como se não tivessem “fé”.

O Papa então convida à “coerência entre a palavra e a própria vida: isto – evidenciou – chama-se testemunho”. O apóstolo, o anunciador, “aquele que leva a Palavra de Deus, é uma testemunha”, que coloca em jogo a própria vida “até o fim”, e é “também um mártir”. Do outro lado, foi Deus Pai que para "fazer-se conhecer" enviou “o seu Filho em carne, arriscando a própria vida”. Um facto que “escandalizava assim tanto e continua a escandalizar”, porque Deus fez-se “um de nós”, numa viagem “com passagem somente de ida”.

O diabo tentou convencê-lo a tomar outra estrada, e Ele não quis, fez a vontade do Pai até ao fim. E anúncio Dele deve ir para a mesma estrada: o testemunho, porque Ele foi a testemunha do Pai feito carne. E nós devemo-nos fazer carne, isto é, fazer-nos testemunhas: fazer, fazer aquilo que dizemos. E isto é o anúncio de Cristo. Os mártires são aqueles que [demonstram] que o anúncio foi verdadeiro. Homens e mulheres que deram a vida – os apóstolos deram a vida – com o sangue; mas também tantos homens e mulheres escondidos na nossa sociedade e nas nossas famílias, que dão testemunho todos os dias, em silêncio, de Jesus Cristo, mas com a própria vida, com aquela coerência de fazer aquilo que dizem. 

Um anúncio frutuoso

O Papa recordou que todos nós, com o Batismo, assumimos “a missão” de anunciar Cristo”: vivendo como Jesus “nos ensinou a viver”, “em harmonia com aquilo que pregamos”, o anúncio será “frutuoso”. Se, ao contrário, vivemos “sem coerência”, “dizendo uma coisa e fazendo outra contrária”, o resultado será o escândalo. E o escândalo dos cristãos, concluiu, faz muito mal “ao povo de Deus”.

Ouça um trecho da homilia do Santo Padre

VN

29 novembro, 2018

Papa: abrir o coração com esperança e afastar a “paganização” da vida

 
 Papa celebra a missa na Casa de Santa Marta  (Vatican Media)
 
Na missa matutina, Francisco convida a pensar nas babilónias do nosso tempo. “Este será o fim também das grandes cidades de hoje – afirmou – e assim acabará a nossa vida se continuarmos a levá-la neste caminho de paganização”. 
 
Adriana Masotti - Cidade do Vaticano

O fim do mundo e o fim de cada um de nós: este é o tema que a liturgia da semana propõe e foi o tema também da homilia do Papa ao celebrar a missa esta manhã (29/11) na capela da Casa de Santa Marta.

A primeira leitura, extraída do livro do Apocalipse de São João, descreve a destruição de Babilónia, a cidade símbolo da mundanidade, “do luxo, da autossuficiência, do poder deste mundo”, disse Francisco. 

Devastação
 
A segunda leitura, do Evangelho de Lucas, narra a devastação de Jerusalém, a cidade santa. No dia do juízo, Babilónia será destruída com um grito de vitória. A grande prostituta cairá condenada pelo Senhor e mostrará a sua verdade: “morada de demónios, abrigo de todos os espíritos maus”. Sob a sua magnificência, mostrará a corrupção, as suas festas parecerão de falsa felicidade. A sua destruição será violentada e ninguém mais a encontrará”:

O som dos músicos, dos tocadores de harpa, de flauta e de trombeta, não se ouvirá mais de ti; - não haverá belas festas, não… - nenhum artista de arte alguma se encontrará mais em ti; – porque não és uma cidade de trabalho, mas de corrupção – o canto do moinho não se ouvirá mais em ti; a luz da lâmpada não brilhará mais em ti; - será talvez uma cidade iluminada, mas sem luz, não luminosa; esta é a civilização corrompida – a voz do esposo e da esposa não se ouvirá mais em ti. 

O Senhor dirá: chega
 
Chegará um dia, disse o Papa, em que o Senhor dirá: chega. “Esta é a crise de uma civilização que se julga orgulhosa, suficiente, ditatorial e acaba assim”.

Jerusalém, prosseguiu o Papa, verá a sua ruína devido a outro tipo de corrupção, “a corrupção da infidelidade ao amor; não foi capaz de reconhecer o amor de Deus no seu Filho”. A cidade santa “será espezinhada pelos pagãos”, punida pelo Senhor, porque abriu as portas do seu coração aos pagãos.

Há a paganização da vida, no nosso caso, cristã. Vivemos como cristãos? Parece que sim. Mas na verdade, a nossa vida é pagã quando acontecem estas coisas, quando entra nesta sedução de Babilónia e Jerusalém, vive como Babilónia. Quer fazer-se uma síntese que não se pode fazer. E ambas serão condenadas. És cristão? És cristã? Vive como cristão. Não se pode misturar a água com o óleo. Sempre diferente. O fim de uma civilização contraditória em si mesma que diz ser cristã e vive como pagã. 

Salvação
 
Retomando a narração das duas leituras, o Papa afirma que depois da condenação das duas cidades, ouvir-se-á a voz do Senhor; depois da destruição, haverá a salvação. “E o anjo disse: ‘Felizes são os convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro!’. A grande festa, a verdadeira festa!”

Existem tragédias, inclusive na nossa vida, mas diante destas coisas, é preciso olhar para o horizonte, porque fomos redimidos e o Senhor virá para nos salvar. E isto indigna-nos de viver as provações do mundo não num pacto com a mundanidade ou com a ‘paganidade’ que nos leva à destruição, mas na esperança, afastando-nos desta sedução mundana e pagã e olhando para o horizonte, esperando Cristo, o Senhor. A esperança é a nossa força: vamos em frente. Mas devemos pedir ao Espírito Santo.

Por fim, Francisco convida a pensar nas babilónias do nosso tempo, nos inúmeros impérios poderosos, por exemplo do século passado, que mau. “E este será o fim também das grandes cidades de hoje – afirmou – e assim acabará a nossa vida se continuarmos a levá-la neste caminho de paganização”. O Papa concluiu dizendo que permanecerão somente aqueles que depositam a sua esperança no Senhor. Portanto: “Abramos o coração com esperança e afastemo-nos da paganização da vida”.

VN

28 novembro, 2018

Papa na Audiência Geral: Decálogo é a "radiografia" de Cristo


O Espírito gera uma vida que, seguindo esses desejos, suscita
em nós a esperança, a fé e o amor”, disse o Papa na sua catequese 
(Vatican Media)

Somente em Cristo o Decálogo deixa de ser condenação, tornando-se “a autêntica verdade da vida humana, isto é, desejo de amor, de alegria, de paz, de magnanimidade, benevolência, bondade, fidelidade, brandura, domínio de si”, disse o Papa Francisco ao concluir a sua série de catequeses sobre os Mandamentos.
 
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

O Papa Francisco concluiu a série de catequeses sobre os Mandamentos iniciada na Audiência Geral de 23 de junho, usando o tema-chave dos “desejos”, que permite repassar o caminho feito e reassumir as etapas percorridas lendo o texto do Decálogo “à luz da plena revelação em Cristo”. Devido ao frio, o tradicional encontro das quartas-feiras foi realizado na Sala Paulo VI.

Falando aos 7 mil presentes, Francisco recordou que “partimos da gratidão como base da relação de confiança e de obediência: Deus não pede nada antes de ter dado muito. “Ele convida-nos à obediência para nos resgatar das idolatrias que tanto poder têm sobre nós”, pois esvaziam e escravizam-nos, enquanto que, aquilo “que nos dá estatura e consistência é a relação com Ele, que em Cristo nos torna filhos a partir de sua paternidade”. 

Chamamento à beleza da fidelidade, generosidade e autenticidade

“Isto – observou – implica um processo de bênção e de libertação, que são o repouso autêntico”:

“Esta vida libertada torna-se a aceitação da nossa história pessoal e reconcilia-nos com aquilo que vivemos da infância ao presente, fazendo-nos adultos e capazes de dar a justa medida às realidades e às pessoas da nossa vida. Por este caminho entramos na relação com o próximo que, a partir do amor que Deus mostra em Jesus Cristo, é um chamamento à beleza da fidelidade, da generosidade e da autenticidade”. 

Coração novo

Para isto, temos necessidade de “um coração novo”, que se realiza pelo “dom de desejos novos”, que são “semeados em nós pela graça de Deus, em particular pelos Dez Mandamentos levados ao seu termo por Jesus”, como ensinou no Sermão da Montanha.

 “Na contemplação da vida descrita no Decálogo – uma existência agradecida, livre, autêntica, que abençoa,  custódia e amante da vida, fiel, generosa e sincera - nós, quase sem perceber, nos encontramos diante de Cristo”.

Decálogo, “radiografia” de Cristo

O Decálogo – disse o Pontífice – “é a sua “radiografia”, o descreve como um negativo fotográfico que deixa aparecer a sua face – como no Santo Sudário”.

Desta forma, “o Espírito Santo fecunda o nosso coração, colocando nele os desejos que são um dom seu, os desejos do Espírito. Os desejos do Espírito, desejar segundo o Espírito. Desejar no ritmo do Espírito, desejar com a música do Espírito". “E o Espírito gera uma vida que, seguindo esses desejos, suscita em nós a esperança, a fé e o amor”. 

Com o Espírito, a lei torna-se vida

Assim, é possível descobrir o que significa que “o Senhor Jesus não veio para abolir a lei”, mas levá-la ao seu cumprimento, para fazê-la crescer."

Se a lei segundo a carne era uma série de prescrições e de proibições, "segundo o Espírito, a lei torna-se vida, “porque não é mais uma norma, mas a própria carne de Cristo, que nos ama, nos procura, nos perdoa, nos consola e no seu Corpo recompõe a comunhão com o Pai, perdida pela desobediência do pecado”:

"E assim (...), a negatividade na expressão do Mandamento: "não roubar, não insultar, não matar", aquele "não", transforma-se numa atitude positiva: amar, dar lugar aos outros no meu coração, desejos que semeiam positividade. E esta é a plenitude da lei que Jesus veio trazer-nos".

Somente em Cristo – explicou o Papa – o Decálogo deixa de ser condenação, tornando-se “a autêntica verdade da vida humana, isto é, desejo de amor. Aqui nasce um desejo de bem, de fazer o bem, desejo de alegria, de paz, de magnanimidade, benevolência, bondade, fidelidade, brandura, domínio de si. Daquele "não" passa-se a este "sim". Atitude positiva de um coração que se abre com a força do Espírito Santo". 

Santos desejos

“Quando o homem segue o desejo de viver segundo Cristo, então está a abrir a porta à salvação (...). Deus Pai é generoso, tem sede que nós tenhamos sede dele”.

Em contraposição aos maus desejos que arruínam o homem, “o Espírito coloca no nosso coração os seus santos desejos, que são o germe da vida nova”.

A vida nova – disse o Papa – “não é um titânico esforço para sermos coerentes com uma norma, mas o próprio Espírito de Deus que começa a guiar-mos até oas seus frutos, numa feliz sinergia entre a nossa alegria de ser amados e a sua alegria de amar-nos. Encontram-se as duas alegrias." 

“Contemplar Cristo para abrir-nos a receber o seu coração, os seus desejos, o seu Santo Espírito”, eis o que é o Decálogo para nós cristãos, disse o Santo Padre ao concluir.

Veja um  trecho da catequese do Santo Padre


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Papa: empresa seja “família” ao serviço do bem comum


 Papa Francisco com trabalhadores na Praça de São Pedro  (Vatican Media)

"Quando uma empresa se torna “família”, em que a administração se preocupa com o facto de que as condições de trabalho estejam sempre ao serviço da comunidade, os trabalhadores, por sua vez, tornam-se “fonte de enriquecimento”, ressalta o Papa. 

Cidade do Vaticano 

O Papa Francisco enviou recentemente uma mensagem aos participantes do 26° Congresso Mundial da União Internacional de Associações de Diretores Católicos (Uniapac), realizado em Lisboa, Portugal, de 22 a 24 deste mês.

Segundo o texto, o Pontífice convida as empresas a construírem uma sociedade mais humana e fraterna que possa “tornar os bens deste mundo mais acessíveis a todos”.

A Uniapac foi fundada, em 1931, como Conferência Internacional de Associações de Empresários Católicos entre as federações de Holanda, Bélgica e França e com observadores da Itália, Alemanha e República Tcheca.

O seu nascimento ocorreu por ocasião do 40º aniversário da Encíclica “Rerum Novarum” de Leão XIII. Depois da II Guerra Mundial, a Uniapac expandiu-se para outros países da Europa e América Latina e em 1949 mudou o seu nome para a versão francesa “Union Internationale des Associations Patronales Catholiques”. Em 1962, a Uniapac tornou-se uma associação ecuménica com a nova denominação “International Christian Union of Business Executives”, mantendo as suas iniciais. 

Princípios da Doutrina social cristã

Segundo o Papa, “desde as suas origens, cerca de 80 anos atrás, esta federação procurou traduzir os princípios e diretrizes da Doutrina social cristã em termos económicos e financeiros à luz da mudança dos tempos. O atual contexto de globalização da atividade económica e do comércio influenciou profundamente as perspetivas, objetivos e formas de conduzir o comércio. A sua decisão de refletir sobre a vocação e a missão dos líderes económicos e empresariais é essencial e necessária mais do que nunca. Com a intensificação dos ritmos de vida e trabalho (...) os objetivos dessa mudança rápida e constante não são necessariamente orientados ao bem comum e ao desenvolvimento humano, sustentável e integral, mas torna-se preocupante quando se muda parta a deterioração do mundo e da qualidade de vida de grande parte da humanidade”(Laudato Si', 18). 

Centralidade da pessoa humana 

“Na vida profissional encontram-se muitas vezes situações de tensão em que é necessário tomar decisões práticas importantes de investimento e gestão. Pode ser útil recordar três princípios existentes no Evangelho e no ensinamento social da Igreja. O primeiro, é a centralidade de cada pessoa, com as suas capacidades, aspirações, problemas e dificuldades. Quando uma empresa se torna “família”, em que a administração se preocupa com o facto de que as condições de trabalho estejam sempre ao serviço da comunidade, os trabalhadores, por sua vez, tornam-se “fonte de enriquecimento”. Eles são incentivados a colocar os seus talentos e capacidades ao serviço do bem comum, sabendo que sua dignidade e nas suas circunstâncias são respeitadas e não simplesmente exploradas”. 

Regra do bem comum
 
 “No exercício desse discernimento económico”, prossegue o Papa, os objetivos a serem fixados devem ser sempre guiados pela regra do bem comum. Este princípio fundamental do pensamento social cristão ilumina e, como uma bússola, orienta a responsabilidade social das empresas, a sua pesquisa e tecnologia, e os seus serviços de controle de qualidade, para a construção de uma sociedade mais humana e fraterna que possa “tornar os bens deste mundo mais acessíveis a todos” (Evangelii Gaudium, 203). O princípio do bem comum indica o caminho para o crescimento equitativo, onde “as decisões, programas, mecanismos e processos são especificamente orientados para uma melhor distribuição de rendimentos, a criação de emprego e uma promoção integral dos pobres que vá além de uma simples mentalidade assistencial” (Evangelii Gaudium, 204). 

Valor moral e económico do trabalho 

No terceiro ponto, o Papa Francisco ressalta que jamais devemos perder de vista o valor moral e económico do trabalho, nosso meio de colaborar com Deus numa “criação permanente”, que acelera a vinda do Reino de Deus, promovendo a justiça e a caridade social e respeitando as duas dimensões individual e social da pessoa humana. A nobre vocação dos líderes empresariais será evidente na medida em que toda atividade humana se torna testemunha de esperança para o futuro e um estímulo a uma maior responsabilidade social e preocupação, através do uso sábio dos talentos e habilidades de cada um. Como a primeira comunidade de apóstolos, escolhidos para acompanhar Jesus ao longo do seu caminho, vós também, como diretores e empresários cristãos, são chamados a empreender um caminho de conversão e testemunho com o Senhor, permitindo-lhe inspirar e guiar o crescimento da nossa ordem social contemporânea”.

VN

27 novembro, 2018

Papa: é sábio pensar no fim, será um encontro de misericórdia com Deus


Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano  (Vatican Media)

O Papa Francisco, na homilia proferida na Missa na Casa de Santa Marta, fala do nosso fim e do fim do mundo, "a colheita" do livro do Apocalipse. "Como será o meu fim? Como gostaria que o Senhor me encontrasse quando me chamar? Pensar nisso é sábio e ajuda-nos a seguir em frente, até ao encontro com Deus, uma prestação de contas mas também um momento de "alegria". 

Alessandro Di Bussolo - Cidade do Vaticano 

"Como será o meu fim? Como gostaria que o Senhor me encontrasse quando me chamar?" É sábio pensar no fim", “ajuda-nos a seguir em frente”,  a fazer um exame de consciência sobre que coisas eu deveria corrigir e quais “levar em frente porque são boas".

O Papa Francisco dedicou a sua homilia matutina na Casa de Santa Marta, ao fim do mundo e da própria vida, porque "nesta última semana do ano litúrgico, a Igreja faz-nos refletir sobre isso, e “é uma graça", comenta o Papa, "porque não gostamos de pensar no fim", "adiamos sempre esta reflexão para amanhã”.

Na primeira leitura, tirada do livro do Apocalipse, São João fala do fim do mundo "com a figura da colheita", com Cristo e um Anjo armado com uma foice. Quando chegar nossa hora, prossegue Francisco, deveremos "mostrar a qualidade do nosso trigo, a qualidade da nossa vida". E acrescenta: "Talvez alguém entre vós diga: 'Padre, não seja tão sombrio, porque estas coisas não nos agradam ...', mas é a verdade":

“É a colheita, onde cada um de nós se encontrará com o Senhor. Será um encontro e cada um de nós dirá ao Senhor: "Esta é a minha vida. Este é meu trigo. Esta é minha qualidade de vida. Errei? "- todos deveremos dizer isto, porque todos erramos - "Fiz coisas boas" - todos fazemos coisas boas; e mostrar um pouco ao Senhor o trigo”.

O que eu diria, pergunta-se ainda o Pontífice, "se hoje o Senhor me chamasse? 'Ah, nem percebi, estava distraído ...'. Nós não sabemos nem o dia nem a hora. 'Mas padre, não fale assim porque eu sou jovem' - 'Mas olha quantos jovens partem, quantos jovens são chamados ...'. Ninguém tem a própria vida assegurada ".

Em vez disso, é certo que todos nós teremos um fim. Quando? Somente Deus o sabe:

“Far-nos-á bem nesta semana pensar no fim. Se o Senhor me chamasse hoje, o que eu faria? O que eu diria? Que trigo mostrava.lhe? o pensamento do fim ajuda-nos a seguir em frente; não é um pensamento estático: é um pensamento que avança  porque é levado em frente pela virtude, pela esperança. Sim, haverá um fim, mas esse fim será um encontro: um encontro com o Senhor. É verdade, será uma prestação de contas daquilo que fiz, mas também será um encontro de misericórdia, de alegria, de felicidade. Pensar no fim, no final da criação, no fim da própria vida é sabedoria; os sábios fazem isso”.

Assim, conclui o Papa Francisco, a Igreja convida-nos esta semana a interrogar-mo-mos: "como será o meu fim? Como gostaria que o Senhor me encontrasse quando me chamar? Devo fazer  "um exame de consciência" e avaliar "que coisas eu deveria corrigir, porque não estão bem? Que coisas devo apoiar e levar em frente porque são boas? Cada um de nós tem tantas coisas boas!". E neste pensamento não estamos sozinhos: "há o Espírito Santo que nos ajuda":  

“Esta semana peçamos ao Espírito Santo a sabedoria do tempo, a sabedoria do fim, a sabedoria da ressurreição, a sabedoria do encontro eterno com Jesus; que nos faça entender essa sabedoria que existe na nossa fé. Será um dia de alegria o encontro com Jesus. Rezemos para que o Senhor nos prepare. E cada um de nós, esta semana, a termine pensando no final: "Eu acabarei. Eu não permanecerei eternamente. Como gostaria de acabar?”

Veja um trecho da homilia do Santo Padre


VN

26 novembro, 2018

Papa: atenção com o consumismo; a generosidade alarga o coração

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Papa celebra a missa na Casa Santa Marta  (Vatican Media)

O Evangelho desta segunda-feira (Lc 21,1-4) inspirou a homilia do Papa Francisco na Casa de Santa Marta, em que advertiu para a "doença do consumismo". 

Debora Donnini - Cidade do Vaticano 

O Papa começou a semana celebrando a missa na capela da Casa de Santa Marta. Na homilia, o Pontífice comentou o Evangelho do dia, onde há um contraste entre ricos e pobres.

O Papa destacou como muitas vezes no Evangelho Jesus faz este contraste e alguém poderia “etiquetar” Cristo como “comunista”, mas “o Senhor, quando dizia essas coisas, sabia que por trás das riquezas havia sempre o espírito maligno: o senhor do mundo”. Por isso, disse uma vez: “Não se pode servir a dois senhores, servir a Deus e servir às riquezas”. 

A generosidade nasce da confiança em Deus

Também no Evangelho de hoje há um contraste entre os ricos que “depositavam ofertas no tesouro” e uma viúva pobre que depositava duas pequenas moedas. Estes ricos são diferentes do rico Epulão: “não são maus”, destacou o Papa. “Parecem ser pessoas boas que vão ao Templo dar uma oferta”. Trata-se, portanto, de um contraste diferente. O Senhor quer dizer-nos outra coisa ao afirmar que a viúva lançou mais do que todos porque deu “tudo quanto tinha para viver”. “A viúva, o órfão, o migrante, o estrangeiro eram os mais pobres na vida de Israel” ao ponto de que quando se queria falar dos mais pobres, fazia-se referência a eles. Esta mulher “deu o pouco que tinha para viver” porque confiava em Deus, era uma mulher das bem-aventuranças, era muito generosa: “dá tudo porque o Senhor é mais que tudo. A mensagem desta trecho do Evangelho é um convite à generosidade”, evidenciou o Papa.  

Fazer o bem 

Diante das estatísticas da pobreza no mundo, das crianças que morrem de fome, que não têm nada para comer, não têm remédios, tanta pobreza – que se ouve todos os dias nos telejornais e nos jornais – é uma atitude positiva questionar-se: “Mas como posso resolver isto?”. Nasce da preocupação de fazer o bem. E quando uma pessoa que tem um pouco de dinheiro se interroga se o pouco que tem serve, o Papa responde que sim, “como as duas pequenas moedas da viúva”.

Um chamamento à generosidade. E a generosidade é algo de todos os dias, é uma coisa que devemos pensar: como posso ser mais generoso com os pobres, com os necessitados... como posso ajudar mais? “mas o senhor sabe, padre, que nós mal chegamos ao final do mês” – “mas sobra alguma pequena moeda? Pense: é possível ser generoso com estas... Pense. As pequenas coisas: façamos, por exemplo, uma viagem nos nossos quartos, uma viagem no nosso armário. Quantos sapatos tenho? Um, dois, três, quatro, 15, 20... cada um pode dizer. Demasiados... Eu conheci um monsenhor que tinha 40... mas se tem tanto calçado, dê metade. Quantas peças de roupa que não uso ou uso uma vez por ano? É um modo de ser generoso, de dar o que temos, de partilhar. 

A doença do consumismo

Depois, Francisco contou ter conhecido uma senhora que quando fazia compras no supermercado comprava sempre para os pobres 10% do que gastava: dava o “dízimo” aos pobres, destacou.

Nós podemos fazer milagres com a generosidade. A generosidade das pequenas coisas, poucas coisas. Talvez não fazemos isso porque não pensamos. A mensagem do Evangelho faz-nos pensar: como posso ser mais generoso? Um pouco mais, não muito... “É verdade, padre, é assim, mas... não sei porquê, mas há sempre o o medo...” Mas há outra doença, que é a doença contra a generosidade hoje: a doença do consumismo.

Doença que consiste em comprar sempre coisas. O Papa recordou que quando vivia em Buenos Aires “todos os finais de semana tinha um programa de turismo-compras”: o avião partia cheio na sexta à noite dirigindo-se a um país a cerca de 10 horas de voo e todos os sábados e parte do domingo ficavam a comprar. Depois voltavam.

Uma doença séria, a do consumismo, de hoje! Eu não digo que todos nós fazemos isto, não. Mas o consumismo, o gastar mais do que precisamos, uma falta de austeridade de vida: este é um inimigo da generosidade. E a generosidade material – pensar nos pobres, “isso, posso dar para que possam comer, para que se vistam” – estas coisas, têm outra consequência: alarga o coração e o leva à magnanimidade. 

Pedir a graça da generosidade

Trata-se, portanto, de ter um coração magnânimo onde todos entram. Concluindo, o Papa exortou a percorrer o caminho da generosidade, iniciando com um “controle em casa”, isto é, pensando “naquilo que não me serve, que servirá a outra pessoa, para um pouco de austeridade”. É preciso pedir ao Senhor “para que nos liberte” daquele mal tão perigoso que é o consumismo, que nos torna escravos, uma dependência do gastar. “É uma doença psiquiátrica.” O Papa concluiu: “Peçamos esta graça ao Senhor: a generosidade, que alarga o nosso coração e nos leva à magnanimidade.”

Veja um trecho da homilia do Santo Padre

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Bento XVI: diálogo com os judeus, não missão

 
 Bento XVI  (Vatican Media)
 
O Papa Emérito "corrige" artigo do teólogo Michael Böhnke e rejeita as acusações como uma insinuação absolutamente falsa.
 
Cidade do Vaticano

Não se trata de "missão", mas de "diálogo": é o que Bento XVI diz numa "correção" enviada à revista católica alemã "Herder Korrespondenz" sobre um artigo assinado pelo teólogo de Wuppertal, Michael Böhnke, que na edição de setembro da revista tinha comentado o pensamento do Papa emérito sobre a relação entre judeus e cristãos.

O judaísmo e o cristianismo - afirma Bento XVI - são "duas maneiras de interpretar as Escrituras". Para os cristãos, as promessas feitas a Israel são a esperança da Igreja e "quem se apega a elas não questiona de modo algum os fundamentos do diálogo judaico-cristão". As acusações contidas no artigo - continua -, são "absurdos grotescos e não têm nada a ver com o que eu disse sobre isso. Por isso rejeito o seu artigo como uma insinuação absolutamente falsa".

Entre outras coisas, Böhnke escrevera que Bento XVI teria mostrado, num artigo publicado em julho passado na revista "Communio", uma compreensão problemática do judaísmo e mantido silêncio sobre os sofrimentos que os cristãos causaram aos judeus.

Na sua "retificação", Bento XVI aborda - ao lado de outros aspectos teológicos – também a delicada questão da missão aos judeus, isto é, à questão se a Igreja deve anunciar aos judeus a Boa Nova de Cristo. "Uma missão aos judeus não está prevista e nem é necessária", escreve literalmente Ratzinger. É verdade que Cristo enviou os seus discípulos em missão a todos os povos e culturas. Por essa razão, "o mandato da missão é universal - com uma exceção: a missão aos judeus não estava prevista e não era necessária simplesmente porque só eles, entre todos os povos, conheciam o 'Deus desconhecido'".

Quanto a Israel, portanto - explica Bento XVI - não se trata de missão, mas de diálogo sobre a compreensão de Jesus de Nazaré: é "o Filho de Deus, o Logos", esperado - de acordo com as promessas feitas ao seu próprio povo - por Israel e, inconscientemente, por toda a humanidade? Retomar esse diálogo é "a tarefa que nos coloca o momento presente".

A "correção", relatada por Kna, está incluída na edição de dezembro de "Herder Korrespondenz" e é assinada "Joseph Ratzinger-Bento XVI".

Recordamos que o escrito pelo Papa emérito na revista "Communio" foi considerado como um aprofundamento de um novo Documento publicado em 2015 pela Comissão da Santa Sé para as relações religiosas com o judaísmo intitulado "Porque os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis" Rom 11,29). Reflexões sobre questões teológicas relacionadas com as relações católico-judaicas" por ocasião do 50º aniversário da Declaração conciliar Nostra aetate. O documento foi apresentado entre outros pelo cardeal Kurt Koch, presidente da Comissão para as relações religiosas com o Judaísmo. No parágrafo 6 do texto, lemos:

"É fácil entender que a chamada ‘missão dirigida aos judeus’ é uma questão muito difícil e sensível para os judeus, pois, aos seus olhos, diz respeito à própria existência do povo judeu. Também para os cristãos, é uma questão delicada, porque consideram de fundamental importância o papel salvífico universal de Jesus Cristo e a consequente missão universal da Igreja. A Igreja, portanto, deve entender a evangelização dirigida aos judeus, que acreditam no único Deus, de uma maneira diferente daquela dirigida àqueles que pertencem a outras religiões ou têm outras visões do mundo. Isto significa concretamente que a Igreja Católica não conduz ou encoraja qualquer missão institucional dirigida especificamente aos judeus. Tendo presente a rejeição - por princípio - de uma missão institucional dirigida aos judeus, os cristãos são chamados a testemunhar a sua fé em Jesus Cristo também diante dos judeus; porém, devem fazê-lo com humildade e sensibilidade, reconhecendo que os judeus são portadores da Palavra de Deus e tendo em mente a grande tragédia da Shoah".

VN

25 novembro, 2018

Homilia na Ordenação Episcopal de D. Daniel Henriques e D. Rui Valério

Foto: Filipe Amorim


Celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, este ano com a feliz Ordenação Episcopal de D. Daniel Henriques e D. Rui Valério – o primeiro para Bispo Auxiliar de Lisboa e o segundo para Bispo das Forças Armadas e de Segurança.
Saúdo fraternalmente os dois, bem como todos os irmãos no Episcopado, com especial menção de D. Manuel Linda, a quem D. Rui Valério sucede. Saudação alargada aos irmãos sacerdotes e diáconos, bem como a todo o Povo de Deus aqui jubilosamente reunido. Destaco respeitosamente todas as autoridades civis e militares que estão connosco e as famílias dos dois novos Bispos – incluindo a família religiosa de D. Rui Valério, caros amigos Monfortinos.

O facto de celebrarmos Cristo Rei, com o Evangelho que acabamos de ouvir, leva-me a partilhar convosco uma breve reflexão. Partilho-a com todos, mas poderá incidir especialmente nos Ordinandos e no ministério eclesial que desempenharão.
Trata-se da realeza de Cristo, como Ele a viveu e confessou. Trata-se da Igreja, que é o seu Corpo neste mundo, como Ele quer continuar com todos, em qualquer tempo e circunstância. Trata-se, sobretudo, da nossa adequação ao seu modo de ser e de estar, que é unicamente o do serviço.
Lembremos como sempre se furtou a qualquer outro tipo de soberania, fosse diante das multidões que o aclamavam, fosse diante dalgum discípulo equivocado. Lembremos como opôs a realeza do serviço à realeza da imposição. Lembremos que se apresentou como servo de todos e disse ser essa a verdadeira grandeza (cf. Mt 20, 25-28). Lembremos que a única coroa que teve foi a de espinhos e o único trono a que subiu foi a cruz.
Lembramos certamente que assim foi. Neste momento, porém, confirmamos com a nossa presença aqui a verdade realizada do que também predisse: «Quando for erguido da terra atrairei todos a mim» (Jo 12, 32).
É este o seu trono e realeza. Se, muito especialmente nesta aceção, a Igreja é Corpo de Cristo, não poderá ser doutra maneira. Atrai porque se oferece, reina quando serve. Só assim somos membros de Cristo, profeta, sacerdote e rei, como cada batizado deve ser deveras.

Se, quando Cristo pronunciou tais frases, contava apenas com a fé dos primeiros ouvintes, hoje conta também com dois mil anos de evidência.
Diante de Pilatos esclareceu que o seu Reino não é deste mundo, nem se defende como se defendem os outros, no respetivo nível. Mas disse mais, disse que quem fosse da verdade escutaria a sua voz. Ao dizer isto definia a sua realeza, como nos mantém consigo (cf. Jo 18, 36-37).
Assim foi com os primeiros súbditos que a sua verdade própria granjeou; assim foi e continua a ser em tantas gerações acrescentadas, O grande reino e império que Pilatos representava acabaria por ruir. O novo Reino que diante dele se propunha, naquele Jesus que ali estava, cresceu depois e cresce agora, pela verdade inteira que transporta.
Verdade sobre Deus, pois quem o vê, vê o Pai (cf. Jo 14, 9); verdade sobre o homem, como o próprio Pilatos indicou sem avaliar o que dizia: “Eis o homem!” (Jo 19, 5); verdade sobre o único sentimento em que Deus se define, para nos definir a nós - «Deus é amor» (1 Jo 4, 8). Com o sentido concreto de servir totalmente, pois «ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15, 13).
Assim cresceu e cresce o Reino que o Crucificado – Ressuscitado assinala com os que aderem à verdade que revela e nos revela a nós, no que temos de mais essencial e profundo. Mas atenção: só assim cresce e se garante.
Pelo contrário, como demonstram tantos séculos já somados, quando isto se esquece ou contrafaz, não assinalamos o Reino, não crescemos como Igreja de Cristo, não desafiamos os reinos deste mundo, para serem o que devem ser, ao serviço dos homens. Não nos admiremos que depois suceda como o próprio Cristo preveniu: «Se o sal se corromper […] não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens» (Mt 5, 13).

Venhamos aos nossos dias, perguntemo-nos pelo Reino de Cristo, divisemos os seus contornos. Certamente aqui e como estamos, nesta bela celebração. Somos o seu Corpo de batizados, ouvimos a sua Palavra, invocaremos o Espírito que compartilha com o Pai, faremos os seus gestos sacramentais. Reviveremos o chamamento que fez dos Doze, agora sucedidos em mais dois. Mais ainda do que a beleza da Liturgia e de tudo com que o tempo a decorou, é na verdade do que vivemos e convivemos, na consistência do serviço prestado, que o Reino se celebra e acontece.
Como é aqui, neste esplendoroso templo dos Jerónimos, Santa Maria de Belém. Como é onde for, na simplicidade e até clandestinidade dalgum espaço que se consiga, onde a Igreja é pobre ou perseguida. Como é na família, que seja verdadeira comunidade de vida e amor, no serviço mútuo, na saúde e na doença, da infância à velhice.
Como é naquela escola, que seja verdadeira comunidade educativa, respeitando e transmitindo valores comprovadamente humanos e humanizadores, base segura de qualquer progresso. Como é naquela empresa, em que o Evangelho é critério de relação e o lucro material é também um ganho humano para todos os que nela trabalham. Como é naquela clínica, hospital ou lar, em que a vida é bem cuidada, da conceção à morte natural.
Como é no serviço, particular ou estatal, em que o bem comum se acrescenta para a felicidade de todos, sem faltar a ninguém; e é resultado da colaboração dos vários corpos intermédios, sem omitir, antes estimulando, o contributo de cada um, pessoa ou grupo.
É este o Reino de Cristo, alargando no mundo o que Ele nos trouxe, tudo refazendo e preenchendo intimamente com o Espírito que derrama. Esse mesmo que nos faz amar como Ele amou e servir como Ele serviu. Espirito de Cristo, alma do seu Reino, que pode até chegar antes de nós e além de nós, mas havemos de reconhecer em quer que seja, como esclareceu: «Quem não é contra nós é por nós» (Mt 9, 40).
Caríssimos D. Daniel e D. Rui: Que felicidade a nossa, por reconhecermos no vosso percurso eclesial a marca do Espírito de Cristo e os sinais vivos do seu Reino! Nesta hora abençoada das vossas vidas é a bênção de Deus que mais uma vez se concretiza para todos nós. Para nós e para muitos, que darão graças a Deus pelo vosso serviço total e garantido!                      

Santa Maria de Belém, 24 de novembro de 2018
+ Manuel, Cardeal-Patriarca



Patriarcado de Lisboa

Papa: paz, liberdade e plenitude de vida a quem acolhe o reino de Deus


 Papa Francisco da janela do apartamento pontifício saúda os fiéis na Praça São Pedro (ANSA)

O reino de Deus é um reino "fundado no amor e enraíza-se nos corações, dando àqueles que o acolhem, paz, liberdade e plenitude de vida”, não é alcançado por meios humanos, está acima do poder político, e não se realiza "com a revolta, a violência e a força das armas", destacou o Papa Francisco no Angelus da Solenidade de Cristo Rei. 

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano 

O reino de Jesus não é deste mundo, é um reino de amor que não é alcançado por meios humanos. O seu pedido hoje, é deixarmos que Ele se torne nosso rei. Mas Jesus somente poderá dar um novo sentido à nossa vida, com a condição de que não sigamos as lógicas do mundo e dos seus "reis". 

Senhor da história e de toda a criação

O Papa Francisco começou por explicar aos milhares de fiéis e turistas presentes na Praça de São Pedro, num dia chuvoso, que a Solenidade de Jesus Cristo Rei do universo celebrada neste domingo,  “é colocada no final do ano litúrgico e recorda que a vida da criação não avança por acaso, mas prossegue em direção a uma meta final: a manifestação definitiva de Cristo, Senhor da história e de toda a criação. A conclusão da história será o seu reino eterno”.

A alocução do Santo Padre é inspirada na passagem do Evangelho de São João (Jo 18, 33b-37)  proposto pela liturgia do dia, que relata “a situação humilhante em que Jesus encontrou-se depois de ter sido preso no Getsêmani: amarrado, insultado, acusado e levado perante as autoridades de Jerusalém”.

É apresentado à autoridade romana como alguém que atenta contra o poder político para se tornar rei dos judeu. Num “interrogatório dramático”, por duas vezes Pilatos o questiona se é um rei. Primeiro Jesus responde que o seu reino "não é deste mundo" e depois: "Tu o dizes: eu sou rei".

Jesus não tinha ambições políticas, observa o Papa, recordando que após o milagre da multiplicação dos pães o povo queria proclamá-lo rei “para derrubar o poder romano e restaurar o reino de Israel”, mas "Ele retira-se para a montanha para rezar". 

Poder do amor

O reino para Jesus – explica Francisco – “é outra coisa, e não se realiza, certamente, com a revolta, a violência e a força das armas”. Como disse a Pilatos, "se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus”:

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Angelus de 25 de novembro de 2018


“Jesus quer deixar claro que acima do poder político existe outro muito maior, que não é alcançado por meios humanos. Ele veio à Terra para exercer esse poder, que é amor, dando testemunho da verdade. Trata-se da verdade divina que, em última análise, é a mensagem essencial do Evangelho: "Deus é amor" e quer estabelecer no mundo o seu reino de amor, de justiça e de paz”.

E este – reitera o Pontífice – “é o reino do qual Jesus é o rei, e que se estende até ao fim dos tempos”.

Como a história nos ensina – recordou o Papa – “os reinos fundados no poder das armas e na prevaricação são frágeis e, mais cedo ou mais tarde, caem”.
“ Mas o reino de Deus é fundado no amor e enraíza-se nos corações, dando àqueles que o acolhem paz, liberdade e plenitude de vida. ”
"Todos nós queremos paz, todos nós queremos liberdade e queremos plenitude. E como se consegue isso? Deixe que o amor de Deus, o reino de Deus, o amor de Jesus se enraíze no teu coração e terás paz, terás liberdade e plenitude". 

Deixar Jesus ser nosso rei

Jesus pede-nos hoje para deixarmos que Ele se torne nosso rei:

Um rei que com a sua palavra, o seu exemplo e a sua vida imolada na Cruz nos salvou da morte, e indica - este rei - o caminho para o homem perdido, dá nova luz à nossa existência marcada pela dúvida, pelo medo e pelas provações do dia-a-dia”.  

Mas não devemos esquecer – disse Francisco - que o reino de Jesus não é deste mundo”:

Ele poderá dar um novo sentido à nossa vida - às vezes colocada  à dura prova também pelos nossos erros e pecados - somente com a condição de que nós não sigamos as lógicas do mundo e dos seus 'reis'”.

Que a Virgem Maria - disse o Papa ao concluir - nos ajude a acolher Jesus como o rei da nossa vida e a difundir o seu reino, dando testemunho da verdade que é amor.

VN