13 setembro, 2018

Papa aos bispos: distribuam no mundo o vinho novo que é Cristo

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Papa encontra bispos que participam de curso em Roma  (Vatican Media) 

Num forte discurso, na Sala do Consistório, no Vaticano, o Papa voltou a falar sobre a missão da Igreja, no mundo de hoje. O discurso foi dirigido aos bispos que participam num curso em Roma 

Andressa Collet – Cidade do Vaticano 

No final da manhã desta quinta-feira (13), o Papa Francisco recebeu em audiência cerca de 150 novos bispos que participam no curso promovido pela Congregação para os Bispos que termina hoje.

Na Sala do Consistório, no Vaticano, o Papa Francisco começou o seu discurso saudando os novos Pastores da Igreja “com o toque de Cristo, Evangelho de Deus que aquece o coração, reabre os ouvidos e solta os lábios para a alegria que não falha e não desaparece, porque nunca é comprada ou merecida, pelo contrário, é pura graça!”.

Ao relembrar o presente precioso de Deus que receberam ao entrar no ministério episcopal, Francisco disse que quase “por acaso” encontraram “o tesouro da vida”. E, então, abordou o tema da santidade, “a tarefa mais urgente” para os Pastores:

“Vocês não são resultado de um escrutínio meramente humano, mas de uma escolha do Alto. Por isso, exige-se de vós, não uma dedicação intermitente, uma fidelidade em fases alternadas, uma obediência seletiva, mas vocês são chamados a se consumarem noite e dia.”] 

A Igreja precisa de responder ao Povo de Deus

O Papa Francisco observou a necessidade de ficar sempre vigilante “quando a luz desaparece” ou quando surgem as tentações; ser fiel inclusive quando, no calor do dia, diminuem “as forças da perseverança”. tudo isto porque, segundo o Pontífice, o povo de Deus tem o direito de encontrar “nos lábios, no coração e na vida” dos bispos a mensagem tão esperada oferecida pela “paternidade de Deus”.

“A Igreja não é nossa, mas é de Deus! Ele veio antes de nós e estará depois de nós! O destino da Igreja, do pequeno rebanho, é vitoriosamente escondido na cruz do Filho de Deus. Os nossos nomes estão esculpidos no seu coração; a nossa sorte está nas suas mãos”, afirmou o Santo Padre. E acrescentou: “Cristo seja a vossa alegria, o Evangelho seja o nutrimento”, principalmente diante das famílias que frequentam as paróquias.
“ Lá, onde nos corações há a frágil, mas indestrutível certeza que a verdade prevalece, que amar não é vão, que o perdão tem o poder de mudar e de reconciliar, que a unidade vence sempre a divisão, que a coragem de esquecer-se a si próprio para o bem do outro é mais satisfatório do que a primazia intangível do eu. ”
Um ministério perseverante diante das próprias comunidades dos bispos, onde “o bem normalmente não faz barulho, não é tema dos blogs e não aparece nas primeiras páginas”. Um bem que precisa de crescer mesmo perante as novas realidades do individualismo e indiferença que bloqueiam os pontos de referência do Povo de Deus: “inclusive as suas feridas pertencem-nos”, recordou o Papa.

Veja também: Papa: o bispo é o homem de oração, de anúncio e homem de comunhão
https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2018-09/papa-francisco-bispo-e-homem-de-oracao-anuncio-comunhao.html 

A missão de distribuir o vinho novo aos fiéis
 
“Este é o objetivo da Igreja: distribuir no mundo este vinho novo que é Cristo. Nada nos pode desviar dessa missão. Temos necessidade contínua de odres novos (Mc 2,22), e tudo aquilo que fazemos não é nunca suficiente para nos tornar dignos do vinho novo que são chamados a conter e a distribuir. Mas, justamente por isso, os recipientes saibam que sem o vinho novo serão, de qualquer forma, jarros de pedra fria, capazes de recordar a falta, mas não de doar a totalidade. Nada os distraia dessa meta: doar a totalidade!”

O Papa Francisco, então, enfatizou que a santidade – consciente - não deve ser fruto do isolamento. Aconselhou que os bispos acolham a Igreja, como “esposa para amar, virgem para proteger, mãe para fazer fecunda”; num terreno que precisa “de ser fértil para a semente do Verbo e jamais pisado por javalis” (Sal 80,14).

“Não serve a contabilidade das nossas virtudes, nem um programa de levantamentos, uma academia de esforços pessoais ou uma dieta que se renova de uma segunda-feira a outra, como se a santidade fosse resultado somente da vontade. A fonte da santidade é a graça de nos encostarmos na alegria do Evangelho e deixar que seja ela a invadir a nossa vida, de modo que não se poderá viver mais diversamente.”

"Não se envergonhem da carne das suas Igrejas"

O Papa Francisco finalizou o seu discurso alertando os bispos para que se interroguem sobre o que podem fazer para tornar mais santa a Igreja, sem “apontar o dedo aos outros, produzir bodes expiatórios”, mas trabalhando juntos e em comunhão.

“Por isso, insisto para que não se envergonhem da carne das suas Igrejas. Entrem em diálogo com os seus questionamentos. Peço uma atenção especial ao clero e aos seminários. Não podemos responder aos desafios que temos em relação a eles sem atualizar os nossos processos de seleção, acompanhamento, análise. Mas as nossas respostas serão privadas de futuro se não alcançarem a profundeza espiritual que, não em poucos casos, permitiu fraquezas escandalosas.”
Três cursos para bispos em Roma

O curso para os novos bispos, que teve como tema “Servidores da alegria do Evangelho”, é um dos três da atualização que estão a ser realizados nestes dias em Roma, além daquele para quem completou 10 anos de episcopado e de outro para 74 pastores dos Territórios de Missão – promovido pela Congregação para a Evangelização dos Povos. O curso da Congregação para os Bispos acontece a cada seis meses.

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 VATICAN NEWS

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