30 setembro, 2018

Papa no Angelus: amar a nossa comunidade sem ciúmes e fechamentos

 
 Papa Francisco no Angelus deste domingo  (Vatican Media)
 
“O comportamento dos discípulos de Jesus é muito humano, muito comum, e podemos encontrá-lo nas comunidades cristãs de todos os tempos, provavelmente também em nós mesmos", disse Francisco.
 
Cidade do Vaticano

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, deste domingo (30/09), com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

Na alocução que precedeu a oração, o Pontífice ressaltou que “o Evangelho deste domingo apresenta-nos um daqueles particulares muito instrutivos da vida de Jesus com os seus discípulos”.

“Eles tinham visto que um homem, que não fazia parte do grupo dos seguidores de Jesus, expulsava os demónios em nome de Jesus, e por isso queriam proibi-lo. João, com o entusiasmo zeloso típico dos jovens, refere o facto ao Mestre procurando o seu apoio; mas, Jesus, ao contrário, responde: «Não lhe proíbam, pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois pode falar mal de mim. Quem não está contra nós, está a nosso favor».” 

Discípulos manifestam atitude de fechamento

Segundo o Papa, “João e os outros discípulos manifestam um comportamento de fechamento diante de um acontecimento que não entra nos seus esquemas, neste caso a ação, mesmo sendo boa, de uma pessoa ‘externa’ ao grupo de seguidores”.
“ Em vez disso, Jesus parece muito livre, plenamente aberto à liberdade do Espírito de Deus, que não é limitado na sua ação por nenhum confim e por nenhum recinto. Jesus quer educar os seus discípulos, e também, hoje, a nós, a esta liberdade interior. ”
Francisco disse que “nos faz bem refletir sobre este episódio e fazer um pouco de exame de consciência”.
 
Medo da concorrência

“O comportamento dos discípulos de Jesus é muito humano, muito comum, e podemos encontrá-lo nas comunidades cristãs de todos os tempos, provavelmente também em nós mesmos.”

“De boa fé, aliás, com zelo, se gostaria de proteger a autenticidade de uma certa experiência, tutelando o fundador ou o líder dos falsos imitadores.”

Segundo o Papa, “ao mesmo tempo, existe o medo da ‘concorrência’ de que alguém possa atrair novos seguidores, e então não se consegue apreciar o bem que os outros fazem: não é bom porque ele “não é um dos nossos”. É uma forma de auto-referencialidade. De facto, aqui está a raiz do proselitismo. E a Igreja, disse o Papa Bento XVI, não cresce pelo proselitismo, cresce pela atração, isto é, cresce pelo testemunho dado aos outros com a força do Espírito Santo”. 

Liberdade de Deus

“A grande liberdade de Deus em doar-se a nós é um desafio e uma exortação a mudar os nossos comportamentos e as nossas relações. É um convite que Jesus nos faz hoje."
“ Ele convida-nos a não pensar segundo as categorias do “amigo/inimigo”, “nós/eles”, “quem está dentro/quem está fora”, "meu/seu", mas a ir além, a abrir o coração a fim de reconhecer a sua presença e a ação de Deus mesmo em âmbitos incomuns e imprevisíveis e em pessoas que não fazem parte de nosso círculo. ”
“Trata-se de estar mais atentos à genuinidade do bem, do bonito e do verdadeiro que é realizado, do que ao nome e procedência de quem o faz. E - como nos sugere o restante do Evangelho de hoje -  em vez de julgar os outros, devemos examinar a nós mesmos e “cortar” sem pactos tudo o que pode escandalizar as pessoas mais fracas na fé”, disse ainda o Papa. 

Abertura ao Espírito Santo

Francisco concluiu, pedindo à Virgem Maria, “modelo de acolhimento dócil das surpresas de Deus, para que nos ajude a reconhecer os sinais da presença do Senhor no meio de nós, descobrindo-o em todo lugar que Ele se manifestar, até mesmo nas situações mais impensáveis e incomuns. Que ela nos ajude a amar a nossa comunidade sem ciúmes e fechamentos, sempre abertos ao horizonte vasto da ação do Espírito Santo”.

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29 setembro, 2018

Divulgado o tema do Dia Mundial das Comunicações Sociais 2019

 
Papa Francisco com o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Greg Burke  (Vatican Media)
 
O tema, escolhido pelo Papa Francisco, “sublinha a importância de restituir à comunicação uma perspectiva ampla, baseada na pessoa, e enfatiza o valor da interação entendida sempre como diálogo e oportunidade de encontro com o outro”.
 
Cidade do Vaticano

Foi divulgado, neste sábado (29/09), o tema do Dia Mundial das Comunicações Sociais 2019: “Somos membros uns dos outros (Ef 4,25). Das comunidades às comunidades”.

O tema, escolhido pelo Papa Francisco, “sublinha a importância de restituir à comunicação uma perspectiva ampla, baseada na pessoa, e enfatiza o valor da interação entendida sempre como diálogo e oportunidade de encontro com o outro”, informa uma nota da Sala de Imprensa da Santa Sé. 

Natureza das relações na Internet 

Com este tema, “pede-se uma reflexão sobre o estado atual e sobre a natureza das relações na Internet a fim de recomeçar da ideia de comunidade como rede entre as pessoas na sua totalidade”.

Algumas tendências “que prevalecem nas redes sociais colocam-nos diante de uma pergunta fundamental: até que ponto podemos falar de comunidade verdadeira diante das lógicas que caracterizam algumas comunidades nas redes sociais? A metáfora da rede como comunidade solidária exige a construção de um nós, baseado na escuta do outro, no diálogo e, consequentemente, no uso responsável da linguagem”. 

Internet seja um lugar rico em humanidade

Na Sua primeira mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 2014, recorda a nota da Sala de Imprensa da Santa Sé, o Papa Francisco fez um apelo a fim de que a Internet seja “um lugar rico em humanidade, não uma teia de fios, mas de pessoas humanas”.

A escolha do tema da Mensagem de 2019 confirma a “atenção do Papa Francisco para os novos ambientes de comunicação, em particular, para as Redes Sociais onde o Pontífice está presente na primeira pessoa com a conta @Pontifex no Twitter e o perfil @Franciscus no Instagram”.

 VATICAN NEWS

Papa: fermento da fraternidade nunca deixa de produzir seus frutos

 
Papa Francisco com a Associação Nacional da Polícia de Estado
 
"Os últimos são aqueles que perderam a casa e o trabalho e lutam para manter a sua família, os últimos são aqueles que vivem marginalizados e doentes, ou são vítimas de injustiças e abusos", disse Francisco.
 
Cidade do Vaticano

O Papa Francisco recebeu em audiência, neste sábado (29/09), na Sala Paulo VI, no Vaticano, cerca de sete mil membros da Associação Nacional da Polícia de Estado.

A associação une os membros da Polícia ainda em atividade e aqueles que, mesmo tendo terminado o seu serviço, ainda se sentem parte dela e levam adiante os seus ideais. Ela transmite “as tradições da Polícia de Estado”, favorecendo a união de todos os seus membros, licenciados ou em serviço.

Segundo o Papa, valorizam-se desta forma, “a experiência dos membros idosos e seu património histórico-cultural, que não deve ser disperso, mas transmitido e ampliado, e reforçando o vínculo entre as gerações, às vezes, afetado no contexto das relações sociais”. 

Comprometer com o bem comum

“É muito significativo que fazem parte dessa associação os cidadãos comuns que, mesmo não sendo membros da Polícia, assumem os seus valores e o seu compromisso. Assim, vocês formam uma grande família: uma família aberta a todos aqueles que querem comprometerem-se com o bem comum a partir dos seus princípios, uma família que gostaria de envolver e acolher todo cidadão para difundir uma cultura de legalidade, respeito e segurança.”

O Para Francisco, “sem esses fundamentos, nenhum contexto social pode alcançar com o bem comum, mas tornar-se-á cedo ou tarde num emaranhado de interesses pessoais contrapostos. O bem de uma sociedade não é dado pelo bem-estar da maioria ou pelo respeito dos direitos de quase todos, mas pelo bem da coletividade como um conjunto de pessoas, de forma que, se alguém sofre, todos os membros sofrem com ele”. 

Toda injustiça afeta sobretudo os mais pobres

“Quando faltam a legalidade e a segurança, os vulneráveis são os primeiros a serem prejudicados, porque possuem poucos meios para se defenderenm e prover a si mesmos. Toda injustiça afeta sobretudo os mais pobres, e todos aqueles que de várias formas são os últimos. Últimos, no nosso mundo, são aqueles que deixam a sua terra por causa da guerra e da miséria, e devem recomeçar do zero num contexto totalmente novo. Os últimos são aqueles que perderam a casa e o trabalho e lutam para manter a sua família, os últimos são aqueles que vivem marginalizados e doentes, ou são vítimas de injustiças e abusos.”

“Vocês estão próximos a todas essas pessoas quando buscam prevenir o crime, combater o bullying e fraudes, quando colocam à disposição o seu tempo e suas energias na formação dos jovens e na vigilância das escolas, na proteção do território e do patrimônio artístico, na organização de encontros e na formação de cidadãos mais ativos e conscientes.” 

Fermento da igualdade e da fraternidade 

Segundo o Papa, essa associação introduz, “na massa da sociedade, o fermento da igualdade e da fraternidade que nunca deixa de produzir os seus frutos (...), valores transmitidos pelo Evangelho que transformaram radicalmente a vida e a mentalidade de toda a sociedade humana”.

Francisco ressaltou que “a introdução dos valores da solidariedade e da paz, que encontram o seu ápice na pessoa e na mensagem de Jesus, foram e ainda hoje são capazes de renovar as relações interpessoais e sociais”.

“É isso que desejamos para o nosso tempo, sabendo que quando colocamos em prática a caridade, ela muda o mundo e a história, mesmo que não percebamos logo os seus efeitos. Esse é o nosso objetivo, e essa é a contribuição dada pela Associação Nacional da Polícia de Estado toda  vez que, seguindo o exemplo do seu Padroeiro, São Miguel Arcanjo, se opõe a tudo o que fere ou destrói o ser humano”, concluiu o Pontífice.

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VATICAN NEWS

28 setembro, 2018

Conheça a Família Síria que chegou, há 2 anos, ao Patriarcado de Lisboa

Ter uma vida normal. Só isso”. É este o sonho que comanda a vida da família Aloush. Naturais da Síria, a mãe, Shiraz, a filha, Rohaf, e o filho, Khoshnaf, foram acolhidos, a 23 de setembro de 2016, pela Unidade Pastoral de Nova Oeiras e São Julião da Barra. Dois anos depois, as paróquias celebraram a presença desta família síria na comunidade, e procuram agora trazer para Portugal o pai, Hussin, que está na Síria.

Encontraram o seu lugar a mais de cinco mil quilómetros de casa. A Síria ficou para trás e a nova vida é agora em Oeiras. E também em Lisboa, para onde vão diariamente. Shiraz, Rohaf e Khoshnaf são três membros da família Aloush que, em Portugal, encontraram a paz e a segurança que procuravam. Após dois anos no nosso país, garantem que a vida, afinal, não mudou assim tanto. “Antes da guerra, a nossa vida na Síria não era muito diferente da vida que temos atualmente em Portugal: escola, casa, amigos”, salienta ao Jornal VOZ DA VERDADE Khoshnaf Aloush, o filho mais novo, de 17 anos, que ainda este ano vai atingir a maioridade. A irmã, Rohaf, de 21 anos, acrescenta que se sente marcada pelas pessoas. “O que mais gosto em Portugal é das pessoas. São muito simpáticas, abertas, querem ajudar os outros… hoje, temos muitos amigos”, salienta, de brilho nos olhos, esta jovem.

Tempos difíceis
A família Aloush é natural de Afrîn, que fica a pouco mais de uma hora a norte de Alepo, a maior cidade síria e onde a família residia aquando do início da guerra, em 2011. “Primeiro, fugimos para a nossa aldeia. Mas era muito perigoso, porque somos curdos e havia muitos raptos”, recorda a filha Rohaf, ao Jornal VOZ DA VERDADE. A solução passou por tornarem-se refugiados e fugirem para solo turco. Mas, “a vida na Turquia é muito difícil” e só lá ficaram “três meses”, conta. “Queríamos tentar ir para a Alemanha, ainda fomos até à Grécia, mas as fronteiras foram fechadas”, acrescenta.
Estávamos em 2015 e a família Aloush encontrava-se num campo de refugiados, em Lesbos. O filho Khoshnaf tinha então 14 anos. “Lembro-me bem desse tempo… o que mais recordo foi o caminho da Turquia para a Grécia. Foi o mais difícil. Íamos num barco, muito pequeno, e éramos 75 pessoas. Foi muito difícil, até porque nós não sabemos nadar”, lembra este jovem. Foram três meses em Lesbos e, depois, mais quatro em Atenas. Na capital grega, os três membros da família Aloush ficaram instalados num hotel, com o apoio da Cáritas local. “Foi aí que conhecemos o PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados, de Portugal”, conta a filha, Rohaf. Do nosso país, assumem, conheciam apenas… Cristiano Ronaldo. “Nunca tínhamos ouvido nada sobre Portugal, só conhecíamos Cristiano Ronaldo”, referem, entre sorrisos, os irmãos Aloush.
A chegada ao nosso país aconteceu a 23 de setembro de 2016. “Os primeiros dois meses foram muito difíceis. Não tínhamos amigos, a comida e a cultura eram muitos diferentes”, recorda a filha. Para o irmão, “o que mais custou foi a língua”. “Qualquer língua, quando é nova, é difícil”, considera este jovem, falando, hoje, num Português praticamente perfeito. “Falamos com muitas pessoas e isso tem sido uma grande ajuda para nós”, completa.

Felizes
Esta família muçulmana está instalada, desde o primeiro dia em Portugal, numa casa situada a cerca de 100 metros da igreja de São Julião da Barra, em Oeiras. Naquela noite, ao chegar à nova morada de família, o sentimento era de recomeço de vida. “Senti que estava a começar uma vida nova. Sentia que tinha de fazer muita força para continuar esta vida. Era uma vida nova. Tudo era novo”, responde Khoshnaf. A irmã, Rohaf, assume ter “tido medo”. “Não sabíamos como ia ser, o que íamos fazer…”, lembra.
Hoje, após dois anos da chegada a Portugal, a mãe Shiraz Sheiko, de 56 anos, trabalha na cozinha do restaurante Mezze, de sabores orientais, situado em Arroios, Lisboa, para onde se desloca diariamente “de comboio e de metro”. “Foi uma oportunidade muito boa”, aponta, em tom agradecido, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Os dois filhos estudam: Rohaf está, há um ano, a tirar o curso de Ciências Biomédicas Laboratoriais e Khoshnaf está a estudar Informática.
À pergunta: ‘São felizes em Portugal?’, o filho Khoshnaf quase não deixa chegar ao fim a questão e responde, desde logo, com um grande sorriso: “Sim!”. A irmã, Rohaf, completa referindo que, afinal, a vida em Portugal não é assim tão diferente da que tinham na Síria de antigamente. “Na Síria, nós morávamos num lugar cristão, por isso, não há muita diferença”, explica.
Além dos estudos e do trabalho, a vida em Portugal é passada “junto dos amigos”. “Passamos muito tempo em Lisboa”, diz o jovem da família. “Adoramos Lisboa!”, acrescenta a irmã. “Todos os dias damos uma volta pelo rio”, frisa.
  • Leia a reportagem completa na edição do dia 30 de setembro do Jornal VOZ DA VERDADE, disponível nas paróquias ou em sua casa.
Patriarcado de Lisboa

Papa: construir laços de fraternidade com os pentecostais

 
Papa com os membros da plenária do Pontifício Conselho
para a Promoção da Unidade dos Cristãos  (Vatican Media)
 
"Entre as várias atividades que podem ser partilhadas estão a oração, a escuta da Palavra de Deus, o serviço aos necessitados, o anúncio do Evangelho, a defesa da dignidade da pessoa e da vida humana", disse Francisco.
 
Cidade do Vaticano

O Santo Padre iniciou a sua série de atividades, na manhã desta sexta-feira (28/9), na Sala Clementina, no Vaticano, com cerca de 60 participantes na Plenária do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

No seu discurso, o Papa agradeceu aos membros e consultores do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, porque, com o seu trabalho diário, o ajudam no ministério do Bispo de Roma, prestando um serviço de unidade e comunhão, de formas diferentes, para toda a Igreja. 

Promover uma maior unidade entre os cristãos

Neste sentido, Francisco recordou alguns encontros, que manteve, recentemente, com Cristãos de diferentes tradições religiosas, Chefes das Igrejas ortodoxas, irmãos Pentecostais, que representam verdadeiras oportunidades para agradecer a Deus pelos abundantes frutos do Movimento ecuménico e renovar o nosso compromisso irreversível de promover uma maior unidade entre os cristãos. Estes, disse o Papa, são alguns passos no caminho ecuménico, que todos os cristãos são chamados a dar juntos, rezar juntos e trabalhar juntos para o restabelecimento da plena unidade.

A seguir, o Santo Padre referiu-se ao tema de atualidade escolhido para a Plenária do Pontifício Conselho para a promoção da Unidade dos Cristãos: "Pentecostais, carismáticos e evangélicos: impacto sobre o conceito de unidade":

O constante crescimento destas novas expressões de vida cristã representa um fenómeno muito significativo, que não deve ser descuidado. As formas concretas das comunidades inspiradas nestes movimentos são, muitas vezes, ligadas ao contexto geográfico, cultural e social, no qual se desenvolvem”. 

Construir laços da autêntica fraternidade

Por isso, referindo-se ao conjunto destes fenómenos, Francisco frisou que temos o dever de discernir e reconhecer a presença do Espírito Santo nessas Comunidades, com as quais devemos construir laços da autêntica fraternidade. Isto só será possível, porém, multiplicando as ocasiões de encontro e superando a mútua desconfiança, motivada, muitas vezes, por ignorância ou falta de compreensão. Aqui, o Papa sugeriu algumas atividades que podem ser realizadas em conjunto por estas Comunidades:

Entre as várias atividades que podem ser partilhadas estão a oração, a escuta da Palavra de Deus, o serviço aos necessitados, o anúncio do Evangelho, a defesa da dignidade da pessoa e da vida humana. Frequentando-se fraternalmente, nós Católicos podemos aprender a apreciar a experiência de tantas comunidades, que, muitas vezes, de modos diferentes dos nossos, vivem a sua fé, louvam a Deus e dão testemunho do Evangelho com caridade”.

Ao mesmo tempo, - acrescentou o Papa – tais comunidades devem ser ajudadas a superar os preconceitos sobre a Igreja Católica e reconhecer que, no tesouro inestimável da tradição, recebido dos Apóstolos e mantido ao longo da história, o Espírito Santo não está inerte, pelo contrário, continua a atuar de modo eficaz. A este respeito, Francisco disse: 

O Espírito cria e recria a novidade da vida cristã

Estou ciente de que, em muitos casos, as relações entre católicos e pentecostais, carismáticos e evangélicos não são fáceis. O improviso aparecimento de novas comunidades, ligadas à personalidade de alguns pregadores, contrasta fortemente com os princípios e a experiência eclesiológicos das Igrejas históricas e pode ocultar insídias. O facto de que não poucos fiéis católicos sejam atraídos por essas comunidades, causa atritos, mas pode-se tornar, da nossa parte, motivo de exame de consciência pessoal e de renovação pastoral”.

De facto, concluiu Francisco, muitas comunidades, inspiradas por estes movimentos, vivem experiências cristãs autênticas, em contacto com a Palavra de Deus e na docilidade à ação do Espírito, que leva a amar, testemunhar e servir.

É o Espírito que cria e recria a novidade da vida cristã, e é o mesmo Espírito que traz tudo, unidade real, que não é uniformidade. Para esta abertura de coração, a busca de comunhão e discernimento cuidadoso são as atitudes que devem caracterizar nossos relacionamentos de acordo com o Espírito.

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 VATICAN NEWS

Papa: pastoral da família acolha também quem escolhe conviver sem se casar


Papa Francisco na Basílica de São João de Latrão

O horizonte da pastoral familiar diocesana seja sempre mais amplo, assumindo o estilo próprio do Evangelho, encontrando e acolhendo também aqueles jovens que escolhem conviver sem se casar. É preciso testemunhar-lhes a beleza do matrimónio!”, exorta o Papa Francisco aos participantes no Curso sobre matrimónio e família, promovido pelo Tribunal da Rota Romana.

 Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
“O matrimónio não é somente um evento ‘social’, mas um verdadeiro Sacramento que comporta uma preparação adequada e uma celebração consciente. O vínculo matrimonial requer da parte dos noivos uma escolha consciente, que pondere a vontade de construir juntos algo que jamais deverá ser traído ou abandonado.”

Casais em crise: atitude de escuta e compreensão

Foi o que disse o Papa na tarde desta quinta-feira (27/09), na Basílica de São João de Latrão aos cerca de 850 participantes do Curso de formação sobre matrimónio e família promovido nos dias 24 a 26 de setembro pela Diocese de Roma e pelo Tribunal da Rota Romana. Realizado na Basílica sede da diocese, o curso teve a participação de párocos, diáconos permanentes, casais e agentes da pastoral da família. 

Família, Igreja doméstica e santuário da vida

Dirigindo-se aos presentes ao terminar o referido curso, o Santo Padre ressaltou que o mesmo lhes permitiu examinar os desafios e projetos pastorais concernentes à família, considerados “Igreja doméstica e santuário da vida”.

Francisco disse tratar-se de um campo apostólico amplo, complexo e delicado, ao qual “é necessário dedicar energia e entusiasmo, no intento de promover o Evangelho da família e da vida”.

Tendo evocado a visão ampla e perspicaz dos seus predecessores, disse ter desenvolvido nesta esteira o tema em questão, especialmente na Exortação apostólica Amoris laetitia (sobre o amor na família, ndr), “colocando no centro a urgência de um caminho sério de preparação para o matrimónio cristão, que não se reduza a poucos encontros.

Referindo-se à experiência pastoral em várias dioceses do mundo concernente ao acompanhamento dos noivos em vista do matrimónio, enfatizou que é importante oferecer-lhes “a possibilidade de participar em seminários e retiros de oração, que envolvam como animadores, além de sacerdotes, também casais de esposos de consolidada experiência familiar e especialistas nas disciplinas psicológicas. 

Falta de acompanhamento eclesial após as núpcias

“Muitas vezes a principal raiz dos problemas, que se apresentam após a celebração do sacramento nupcial, devem procuradas, não somente numa imaturidade escondida e remota manifesta inesperadamente, mas sobretudo na fraqueza da fé cristã e na falta de acompanhamento eclesial, na solidão em que muitas vezes os recém-casados são deixados após a celebração das núpcias”, observou o Pontífice.

Por isso, “reitero a necessidade de um catecumenato permanente para o Sacramento do matrimónio que diz respeito à sua preparação, celebração e aos primeiros tempos sucessivos”, enfatizou Francisco dizendo tratar-se de “um caminho partilhado entre sacerdotes, agentes pastorais e esposos cristãos”.

Quanto mais o caminho de preparação for aprofundado e prolongado no tempo, mais os jovens casais aprenderão a corresponder à graça e à força de Deus e desenvolverão também os “anticorpos” para aprofundar “os inevitáveis momentos de dificuldades e fadiga da vida conjugal e familiar”. 

Preparação para o matrimónio, tempo de graça

A experiência ensina que o tempo da preparação para o matrimónio “é um tempo de graça, em que o casal se encontra particularmente disponível a ouvir o Evangelho, a acolher Jesus como mestre de vida”, acrescentou o Papa.

A maior eficácia do cuidado pastoral realiza-se onde o acompanhamento não cessa com a celebração das núpcias, mas, observou ainda, prossegue “ao menos nos primeiros anos de vida conjugal”.

Francisco dedicou a última parte de seu discurso aos cônjuges que vivem sérios problemas na sua relação e se encontram em crise.
“É necessário ajudá-los a reavivar a fé e a redescobrir a graça do Sacramento; e, em certos casos – a ser avaliado com retidão e liberdade interior –, oferecer indicações apropriadas para iniciar um processo de nulidade.”
Aqueles que se deram conta do facto “que a união deles não é um verdadeiro matrimónio sacramental e querem sair desta situação, possam encontrar nos bispos, nos sacerdotes e nos agentes pastorais o auxílio necessário, que se expressa não somente na comunicação de normas jurídicas, mas, em primeiro lugar, numa atitude de escuta e de compreensão”. 

Novo processo matrimonial, instrumento válido

A esse propósito, o Papa acrescentou que a normativa sobre o novo processo matrimonial constitui um instrumento válido, que requer ser aplicado concretamente e indistintamente por todos, em todos os níveis eclesiais, porque

Com satisfação, o Santo Padre disse ter tomado conhecimento que “muitos Bispos e Vigários judiciais acolheram prontamente e aplicaram o novo processo matrimonial, para o conforto da paz das consciências, sobretudo dos mais pobres e distantes das nossas comunidades eclesiais”. 

Testemunhar a beleza do matrimónio

O Pontífice concluiu fazendo votos de que “o horizonte da pastoral familiar diocesana seja sempre mais amplo, assumindo o estilo próprio do Evangelho, encontrando e acolhendo também aqueles jovens que escolhem conviver sem se casar. É preciso testemunhar a eles a beleza do matrimónio!” – exortou-os por fim.

VATICAN NEWS

26 setembro, 2018

Papa Francisco aos católicos chineses: a fé muda a história

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Mensagem do Papa Francisco para os católicos chineses  (ANSA)

Numa "Mensagem aos católicos chineses e à Igreja universal", o Papa Francisco explica as razões que levaram a assinar o Acordo Provisório com a República Popular Chinesa: promover o anúncio do Evangelho e alcançar a unidade da comunidade católica. 
 
Cidade do Vaticano

O Papa Francisco dirigiu uma Mensagem aos católicos chineses e a todos os fiéis depois da divulgação do Acordo provisório entre a Santa Sé e a China.

O longo texto, de 11 páginas, é marcado por expressões que demonstram a solicitude pastoral do Pontífice para com os fiéis e o povo chinês em geral.

“Num momento tão significativo para a vida da Igreja e através desta breve Mensagem, antes de mais nada desejo assegurar que vos tenho diariamente presente nas minhas orações e a partilhar convosco os sentimentos que moram no meu coração”, escreve o Papa. 

Acordo

A mensagem procura explicar o significado do Acordo, mas não só, expressa as esperanças do Papa para o futuro da Igreja na China.

O documento assinado dias atrás, afirma Francisco, é fruto do longo e complexo diálogo institucional da Santa Sé com as Autoridades governamentais chinesas, iniciado já por São João Paulo II e continuado pelo Papa Bento XVI.

A finalidade é sustentar e promover o anúncio do Evangelho, alcançar e conservar a unidade plena e visível da Comunidade católica na China. 

A fé muda a história

Para isso, o Pontífice pede ato de confiança aos fiéis, superando os momentos inevitáveis de perplexidade.

“Se Abraão tivesse pretendido condições sociais e políticas ideais antes de sair da sua terra, talvez nunca tivesse partido. Mas não! (…) Portanto, não foram as mudanças históricas que lhe permitiram confiar em Deus, mas foi a sua fé pura que provocou uma mudança na história." 

Clandestinidade

Para dar este novo passo, a primeira questão a enfrentar era as nomeações episcopais, que fez surgir o fenómeno da clandestinidade na Igreja presente na China.

O Papa relata que desde o início do seu pontificado recebeu “sinais e testemunhos concretos” de fiéis e bispos que manifestavam “o desejo sincero de viver a sua fé em plena comunhão com a Igreja universal e com o Sucessor de Pedro”.

“Por isso, depois de ter examinado atentamente cada uma das situações pessoais e escutado diversos pareceres, refleti e rezei muito procurando o verdadeiro bem da Igreja na China. Por fim, decidi conceder a reconciliação aos restantes sete Bispos «oficiais» ordenados sem Mandato Pontifício e, tendo removido todas as relativas sanções canónicas, readmiti-los na plena comunhão eclesial. 

Artífices de reconciliação

Francisco então convida todos os católicos chineses a fazerem-se artífices de reconciliação. Assim, é possível dar início a um percurso inédito, que ajudará a curar as feridas do passado, restabelecer a plena comunhão de todos os católicos chineses e abrir uma fase de colaboração mais fraterna, para assumir com renovado empenho a missão do anúncio do Evangelho.

O Acordo Provisório, explica ainda o Papa, apesar de se limitar a alguns aspecos da vida da Igreja, pode contribuir para escrever esta página nova da Igreja Católica na China. Pela primeira vez, este Acordo introduz elementos estáveis de colaboração entre as Autoridades do Estado e a Sé Apostólica, com a esperança de garantir bons Pastores à comunidade católica.

Á Igreja chinesa, cabe o papel de procurar, juntos, bons candidatos para o serviço episcopal. “Na realidade, não se trata de nomear funcionários para a gestão das questões religiosas, mas ter verdadeiros Pastores segundo o coração de Jesus”.

O Acordo é um instrumento, esclarece ainda o Papa, e por si só não poderá resolver todos os problemas existentes.

Por isso, no plano pastoral, a comunidade católica na China é chamada a estar unida. “Todos os cristãos, sem distinção, realizem gestos de reconciliação e comunhão.”

No plano civil e político, os católicos chineses são chamados a ser bons cidadãos, que amem plenamente a pátria e sirvam o seu país com empenho e honestidade, sem se eximir de proferir uma “palavra crítica” quando necessária. 

Caridade pastoral

Aos Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas, Francisco pede que a caridade pastoral seja a bússola do ministério. “Superemos os contrastes do passado, a busca da afirmação de interesses pessoais e cuidemos dos fiéis.”

De modo especial o Papa dirige-se aos jovens, por ocasião do Sínodo dos Jovens. Francisco pede colaboração, entusiasmo, sem medo de levar a todos a alegria do Evangelho.

O Pontífice faz um pedido também a todos os fiéis no mundo inteiro. “Temos uma tarefa importante: acompanhar com oração fervorosa e amizade fraterna os nossos irmãos e irmãs da China. Com efeito, devem sentir que, no caminho que se abre diante deles neste momento, não estão sozinhos. 

Diálogo árduo, mas fascinante

Por fim, uma menção às autoridades chinesas: “Renovo o convite a continuarem, com confiança, coragem e clarividência, o diálogo iniciado há algum tempo. Desejo assegurar que a Santa Sé continuará a trabalhar com sinceridade para crescer numa amizade autêntica com o povo chinês”.

Para Francisco, é preciso “aprender um novo estilo de colaboração simples e diária entre as Autoridades locais e as Autoridades eclesiásticas”, definindo este diálogo árduo, mas ao mesmo tempo fascinante.

A Igreja na China não é alheia à história do país nem pede privilégio algum, esclarece o Papa: a sua finalidade no diálogo com as Autoridade civis é “alcançar uma relação tecida de respeito recíproco e de profundo conhecimento”.

A mensagem foi concluída com uma oração a Nossa Senhora, Auxílio dos Cristãos, implorando do Senhor o dom da paz.

Acordo Santa Sé e China: "Espero que se possa abrir uma nova fase", diz o Papa

VATICAN NEWS

25 setembro, 2018

Papa: Eu quis o Acordo com a China, o diálogo é o caminho


 Papa Francisco fala aos jornalistas no voo de retorno da Estónia  (ANSA)

A do acordo com a China foi uma das respostas mais esperadas do Papa aos jornalistas no voo de volta do Báltico. Entre os temas tocados pelo Papa, a defesa da identidade das três repúblicas, a condenação dos armamentos e a dos abusos do clero, definidos uma monstruosidade. 

Alessandro De Carolis - Cidade do Vaticano 

Há mais de uma viagem na viagem de Francisco ao Báltico. Ou melhor, a experiência que acaba de ser vivida logo se ramifica num entrelaçamento de temas sobre os quais o Papa quer expressar-se, temas que são a arquitrave de seu magistério. Assim ocorre uma inversão de papéis. Num certo momento é o entrevistado a incitar os jornalistas no voo de volta de Tallinn a Roma a fazer "perguntas sobre a viagem", freando as outras perguntas que estão nos blocos de anotações. Porque as três perguntas feitas pelos colegas dos países visitados não são suficientes para fazê-lo expressar plenamente o que foi para ele mergulhar na realidade das "três irmãs". Quatro dias em contacto com as chagas da memória que unem a Lituânia, a Letónia e a Estónia, com os seus relatos entre um presente político que as projetou para o oeste e as raízes que as sustentam no lado oposto, com um futuro que o Papa repetidamente desejou no sinal da esperança, de uma autêntica reconciliação. 

A identidade a ser preservada

É como se Francisco tivesse um mosaico para compor. Em primeiro lugar, insiste, como fez praticamente todos os dias da viagem, na preservação da identidade dos países bálticos, muitas vezes pisada pelos invasores cruéis e guardada por aqueles que ontem se utilizaram dela como escudo contra as ditaduras e hoje, idosos, têm o dever de transmiti-la aos jovens com toda a herança de cultura, fé e arte. Depois, repensando às salas de tortura do Museu das Vítimas de Vilnius, para condenar a violência e o "escândalo" do comércio legal e ilegal de armas que a fomenta. É "lícito" e honroso, afirma, defender a pátria, mas um Estado deveria equipar-se com "um exército razoável e não agressivo de defesa". E ainda recordar o princípio frequentemente citado de "prudência", sobre a imigração que nas repúblicas bálticas é tanto em entrada como na saída, notando como os mesmos Chefes de Estado que acabou de encontrar reconheceram o valor do “acolhimento”. 

China, a "sabedoria" do Acordo

Depois Francisco submete-se ao dever da crónica. O Acordo Provisório com a China é o argumento que, na chegada à Lituânia, direcionou a atenção dos especialistas em coisas do Vaticano. As críticas sobre a reviravolta amadurecida no último sábado, na qual a Santa Sé trabalha há dez anos, são conhecidas: o Vaticano teria "vendido" a Igreja a Pequim. O Papa responde calmamente: o Acordo "Eu mesmo assinei", "eu sou o responsável", e pede para "rezar" por aqueles que, "tendo muitos anos nas costas de clandestinidade", hoje não entendem o seu alcance. Em todos os acordos de paz, recorda, "ambos os lados perdem algo" e todavia agora, afirma, "é o Papa quem nomeia" os bispos chineses. Francisco elogia a "paciência" e a "sabedoria" dos negociadores do Vaticano - do cardeal Parolin a Mons. Celli, ao padre Rota Graziosi - dizendo ter avaliado todos os "dossiers" dos bispos cuja nomeação ainda não tinha o aval pontifício e lembrando que a mesma se tornou de exclusiva pertinência papal em tempos não tão distantes. 

A "grande fé" dos chineses

E sempre sobre a China, Francisco oferece um tributo à "grande fé" dos católicos tão longamente provada. "Sempre num acordo - reconhece - há sofrimento" e faz uma revelação: por ocasião do "famoso comunicado de um ex-núncio apostólico", que tinha motivado muitos episcopados para expressar-lhes proximidade, também os fiéis chineses o fizeram, assinando de modo significativo, os da Igreja tradicional ou não, uma carta comum para expressar ao Papa a própria solidariedade. Para ele, aquilo - disse Francisco - "era o sinal". 

Os abusos são monstruosos

O Papa responde à pergunta de uma jornalista alemã, inspirada nas palavras dirigidas aos jovens estonianos. Seria "monstruoso" mesmo se houvesse um único padre que cometesse esse crime. Ele confessa nunca ter "assinado um pedido de clemência" diante de uma notícia de condenação em relação aos casos relatados pela Congregação para a Doutrina da Fé. Os abusos sexuais estão em toda parte, mas na Igreja são bem piores, porque os sacerdotes devem "levar as crianças para Deus" e a este respeito não existe "nenhuma negociação."

 Todavia - observa o Papa -  não se deve cometer o erro de interpretar o passado com o critério de juízo, com a "hermenêutica" de hoje, em que se tem uma sensibilidade diferente.

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