14 junho, 2018

Papa: o insulto mata o futuro. O caminho é a reconciliação

 
 Papa celebra a missa na Casa Santa Marta  (Vatican Media)
 
"O insulto não acaba em si mesmo, mas é uma porta que se abre. É preciso passar da inveja à amizade": palavras do Papa Francisco ao celebrar a missa matutina na capela da Casa Santa Marta.
 
Alessandro Di Bussolo – Cidade do Vaticano

O Papa Francisco celebrou a missa na manhã de quinta-feira na capela da Casa Santa Marta. Na sua homilia, comentou o Evangelho de Mateus, que fala do discurso de Jesus sobre a justiça, o insulto e a reconciliação.

“Procura reconciliar-te com o teu adversário para que não te entregue ao juiz. O juiz entregar-te-á ao oficial de justiça, e tu serás jogado na prisão.” O convite de Jesus aos discípulos, afirmou o Papa, é “sabedoria humana: é sempre melhor um acordo mau do que um bom julgamento”. O Senhor usa um exemplo de todos os dias para explicar o seu ensinamento de amor, mas vai além e comenta o problema dos insultos”.

Jesus cita insultos “antiquados”. Dizer que o irmão é “estúpido” ou “louco” leva à condenação. “O Senhor diz: ‘o insulto não acaba em si mesmo’ – esclarece o Papa - é uma porta que se abra, é começar uma estrada que acabará por matar”. Porque o insulto “é o início do assassinato, é desqualificar o outro, tirar o direito a ser respeitado, é colocá-lo de lado, é matá-lo na sociedade”. 

Carnaval de insultos
O Papa então dirige-se aos fiéis, “acostumados a respirar o ar dos insultos”. “Dirigir o carro na hora do rush. Ali há um carnaval de insultos. E as pessoas são criativas para insultar”. E os pequenos insultos que se fazem enquanto dirigimos tornam-se, depois, grandes insultos. E o insulto cancela o direito de uma pessoa. ‘Não, não o ouça’. “A lápide. Essa pessoa não tem mais o direito de falar”, a sua voz foi cancelada.

O insulto é muito perigoso, explica ainda o Papa, “porque muitas vezes nasce da inveja”. Quando uma pessoa tem uma deficiência, mental ou física, não me ameaça, mas mesmo assim temos vontade de insultá-la.
Mas quando uma pessoa faz algo de que eu não gosto, eu a insulto e a mostro como “deficiente”: deficiente mental, deficiente social, deficiente familiar, sem capacidade de integração … E por isso mata: mata o futuro de uma pessoa, mata o percurso de uma pessoa. É a inveja que abre a porta, porque quando uma pessoa tem algo que me ameaça, a inveja leva-me a insultá-la. Quase sempre há inveja ali. 

O caminho é a reconciliação
O Livro da Sabedoria, acrescentou o Papa, “diz-nos que a morte entrou no mundo por meio da inveja do diabo”. É a inveja que traz a morte”. Se dizemos “eu não tenho inveja de ninguém“, pensemos bem: “aquela inveja está escondida e se não está escondida é forte, é capaz de nos tornar amarelo, verde, como faz o liquido biliar quando está doente”. Mas Jesus bloqueia este discurso dizendo: “Não, isto não se faz”. Se vais à missa, vai rezar e percebe que um dos teus irmãos tem algo contra ti, reconcilia-te.

Jesus é assim radical. A reconciliação não é uma atitude de boas maneiras, não: é uma atitude radical, é uma atitude que tenta respeitar a dignidade do outro e também a minha. Do insulto à reconciliação, da inveja à amizade. Este é o percurso que Jesus nos indica hoje. 

Jamais insultar
O Papa então concluiu dizendo que hoje far-nos-á bem pensar: “Como insulto? Quando insulto?” 

Quando removo o outro do meu coração com um insulto? E ver se ali há aquela raiz amarga da inveja que me leva a querer destruir o outro para evitar a competição, a concorrência, essas coisas. Isto não é fácil. Mas pensemos: que belo jamais insultar. É belo porque assim deixamos que os outros cresçam. Que o Senhor nos dê esta graça.

Ouça a reportagem com a voz do Papa Francisco


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