09 abril, 2018

Senso de humor e santidade segundo o Papa Francisco

 
Papa Francisco  
 
A Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate trata também sobre o tema da "alegria", do "senso de humor", que - diz Francisco - é uma graça a ser pedida todos os dias. 
 
Sergio Centofanti - Cidade do Vaticano
 
"O santo é capaz de viver com alegria e senso de humor", afirma o Papa numa passagem da Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate.

Francisco lembra que o cristão, "sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança", porque a fé é "alegria no Espírito Santo" (Romanos 14,17). 

O mau humor não é um sinal de santidade

Normalmente - observa - a alegria cristã é acompanhada por um senso de humor bem evidente, como por exemplo, em São Thomas More, São Vicente de Paulo ou em São Filipe Néri. O mau-humor não é um sinal de santidade: "Exclui a tristeza do eu coração" (Eclesiastes 11,10).

O Senhor dá-nos tantas coisas, “para que possamos delas desfrutar” (1 Tm 6,17), e às vezes a tristeza está ligada à ingratidão, estando de tal forma fechado em si mesmo, que se torna incapaz de reconhecer os dons de Deus". 

A oração do bom humor de São Thomas More

Francisco recomenda, em particular, recitar a oração atribuída a São Thomas More: "Dai-me, Senhor a saúde do corpo e, com ela, o bom senso para conservá-la o melhor possível. Dai-me, Senhor, uma boa digestão e também algo para digerir. Dai-me uma alma santa, Senhor, que mantenha diante dos meus olhos tudo o que é bom e puro. Dai-me uma alma afastada do tédio e da tristeza, que não conheça os resmungos, as caras fechadas, nem os suspiros melancólicos…E não permitais que essa coisa que se chama o “eu”, e que sempre tende a dilatar-se, me preocupe demasiado. Dai-me, Senhor, o sentido do bom humor. Dai-me a graça de compreender uma piada, uma brincadeira, para conseguir um pouco de felicidade e para dá-la de presente aos outros. Amém!” 

Sair de nossa "concha" para descobrir a alegria

Se deixarmos que o Senhor faça com que saiamos de nossa concha e nos transforme a vida - escreve o Papa - então nós poderemos alcançar o que São Paulo exclamou: "Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!" (Filipenses 4,4! ).

Existem tempos difíceis, tempos de cruz - disse ele - mas nada pode destruir a alegria sobrenatural que “se adapta e se transforma, e  permanece sempre, pelo menos, como um raio de luz que vem da certeza pessoal de ser infinitamente amado, acima de tudo”.

É “uma segurança interior, serenidade cheia de esperança que oferece uma satisfação espiritual incompreensível segundo os critérios do mundo". 

Deus quer-nos positivos, não complicados

Francisco recorda uma de suas citações favoritas do Eclesiástico, o amor paterno de Deus que nos convida: "Filho, [...] faz algum bem a ti mesmo [...]. Não te prives de um dia feliz”. (Eclo 14,11.14)

O Senhor "quer que sejamos positivos, agradecidos e não muito complicados: “No dia da felicidade, sê alegre; Deus criou o homem reto, mas é ele que procura os extravios."  (Ecles 7,14.29).

Em todas as situações, é necessário manter um espírito flexível e fazer como São Paulo: "Aprendi a contentar-me com o que tenho." (Filipenses 4,11). É o que viveu São Francisco de Assis, capaz de comover-se de gratidão diante de um pedaço de pão duro, ou louvando a Deus, feliz, apenas pela brisa que acariciava seu rosto. 

Uma alegria que vem da fraternidade

O Papa não fala da "alegria consumista e individualista, tão presente em algumas das experiências culturais de hoje. De facto, o consumismo, torna pesado o coração; pode oferecer prazeres ocasionais e passageiros, mas não alegria".

Em vez disso, refere-se "àquela alegria que é vivida em comunhão, que é partilha e participada, porque" "é maior felicidade dar que receber!"

(Atos 20,35) e " Deus ama quem dá com alegria "(2 Coríntios 9,7).

O amor fraterno multiplicaa nossa capacidade de alegria, pois torna-nos capazes de nos alegrarmos com o bem dos outros". 

Pedir a graça do senso de humor 

"O senso de humor é uma graça que eu peço todos os dias" - revelou ele em novembro de 2016, durante uma entrevista à TV2000 e à Rádio InBlu - porque "o senso de humor levanta-te, faz-te ver o provisório da vida e encarar as coisas com um espírito de alma redimida. É um comportamento humano, mas é o mais próximo da graça de Deus".

"Eu - disse o Papa - conheci um padre, um grande padre, um grande pastor, para citar um, que tinha um grande senso de humor, mas ele fazia muito bem aos outros também com isso, porque relativizava as coisas: “O Absoluto é Deus, mas isso se ajeita ... não se preocupe ...!”.

Mas sem dizer isso, ele fazia as pessoas sentirem isto, com um senso de humor. E dele se dizia: “Mas este sabe rir dos outros, de si mesmo, e também da própria sombra". 

Bento XVI e os anjos que voam porque tem alma leve

Finalmente, lembramos também Bento XVI quando, numa entrevista concedida a 5 de agosto de 2006 a três emissoras alemãs de TV e à Rádio Vaticano, falou sobre a importância do humor, de "saber ver o aspecto divertido da vida e a sua dimensão alegre", e não considerar as coisas “tão tragicamente".

Ele considerava isto também um aspecto muito importante para o seu ministério.

Bento XVI, na ocasião, tinha citado o escritor Gilbert K. Chesterton que, com uma pequena história, explicava que os anjos podem voar, porque têm a alma leve.

“Porque não levam tudo tão a sério”, acrescentou Bento XVI, que assim concluiu: “E nós, talvez, poderíamos também voar um pouco mais, se não déssemos assim tanta importância”.

VATICAN NEWS

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