21 fevereiro, 2018

Sexta meditação: "A sede de lágrimas que devemos aprender"

 
 Retiro do Papa vai até sábado (24/02)  (Vatican Media)
 
O sacerdote Tolentino Mendonça continuou a série de pregações ao Papa e seus colaboradores. "As lágrimas podem tornar-nos santos, depois de humanos", afirmou. 
 
Cidade do Vaticano

Na localidade de Ariccia, ao sul de Roma, o Papa Francisco e seus colaboradores da Cúria prosseguem os exercícios espirituais até sábado (24/02). Na manhã desta quarta-feira (21/02), o pregador, Pe. Tolentino Mendonça, propôs uma meditação intitulada “As lágrimas que falam de uma sede”, inspirada na presença feminina no Evangelho.

As mulheres abrem-nos o Evangelho

Padre Tolentino ressaltou que as mulheres, na narração evangélica, se expressam quase sempre com gestos. Dedicam-se ao serviço, não competem pela liderança; estão ‘com’ Jesus e fazem de seu destino o próprio. ‘Servem’, que na gramática de Jesus, é o verbo mais nobre.
“ Com esta linguagem, evangelizam com o modo dos periféricos, dos simples, dos últimos ”
Uma espécie de sede

Curiosamente, no Evangelho de Lucas, um dos elementos que une as personagens femininas são as lágrimas: todas choram, expressando emoções, conflitos, alegrias, solidão ou feridas. Nos Evangelhos, Cristo também chora, assumindo a nossa condição e todas as lágrimas do mundo. Elas explicam a nossa sede de vida, de desejo; de relação. São a linha divisória que distingue os seres que sabem tudo dos seres que não sabem nada. São aquilo que nos  pode tornar santos depois de humanos.

As lágrimas da mulher sem nome

O Evangelho de Lucas apresenta uma mulher que chora e ensina a chorar: uma intrusa, discípula anónima que segue o Mestre confiante que Ele a protegerá. Aparece sem ser convidada, unge e chora aos pés de Jesus. Não teve medo, mas as suas lágrimas ‘contavam a sua história’, como afirma o escritor Roland Barthes. O nosso choro não revela apenas a intensidade da nossa dor, mas a natureza de nossa sensibilidade pois chorando, dirigimo-nos sempre a alguém. É a sede do próximo que nos leva a chorar. 
“ As lágrimas suplicam a presença de um amigo capaz de acolher a nossa intimidade sem palavras e abraçar a nossa vida, sem julgar ”
Vê esta mulher?
 
Prosseguindo a meditação, Pe. Tolentino afirmou que o pranto da mulher intrusa era um ‘dilúvio’: ela banhou os pés de Jesus, enxugou-os com os cabelos, beijou-os e perfumou”. Numa palavra, ‘tocou’ Jesus.
“ Como sacerdotes, muitas vezes tomamos distância da religiosidade popular que se expressa com lágrimas e afetividade, considerando-a uma forma de devoção ‘primitiva’; ou às vezes nem a notamos ”
“É difícil perceber a religião dos simples, baseada em gestos e não em ideias. A religião dos pastores pode ser perfeita em termos formais, teologicamente impecável, mas é ascética, impessoal, atuada com eficiência... mas não comove, não chega às lágrimas... vai com o ‘piloto automático’”.

“Repete-se connosco – concluiu o pregador – o que aconteceu com o fariseu: convidamos Jesus a entrar na nossa casa, mas não estamos disponíveis para celebrar com Ele aquela forma radical de hospitalidade que é o amor”.

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