07 outubro, 2017

"Tenhais a peito a formação sacerdotal" - Papa Francisco



(RV) Na manhã deste sábado o Papa recebeu em audiências sucessivas, a partir das 10 horas, Andrej Plenkovic, Presidente do Governo da Croácia com o séquito; D. Claudio Gugerotti, Núncio Apostólico na Ucrânia; e, pouco depois do meio dia, deslocou-se à Sala Clementina, no Palácio Apostólico, para receber 268 participantes no Colóquio Internacional sobre “Ratio Fundamentalis”, promovido pela Congregação para o Clero.

Num discurso pronunciado na segunda pessoa do plural, portanto, incluindo-se a si próprio, Francisco disse-lhes que “a formação sacerdotal é determinante  para a missão da Igreja: a renovação da fé e o futuro das vocações é possível só se tivermos padres bem formados” mas - sublinhou - “a formação sacerdotal depende em primeiro lugar da acção de Deus na nossa vida e não das nossas actividades”. É preciso ter a “coragem de se deixar plasmar pelo Senhor, a fim de que transforme os nossos corações e a nossa vida”. Isto - disse o Papa referindo-se à passagem bíblica do  Profeta Jeremias sobre o oleiro que molda a argila - ajuda a compreender que a questão da formação “não se resolve com algumas actualizações culturais ou alguma iniciativa esporádica a nível local. É Deus o artesão paciente e misericordioso da nossa formação sacerdotal e, como está escrito na Ratio, este trabalho dura toda a vida”. Quando temos a coragem de deixar para trás os nossos cómodos hábitos, a rigidez dos esquemas e a presunção de ter completado tudo, para nos colocarmos perante Deus, então “Ele retoma o seu trabalho em nós, nos plasma e nos transforma” – frisou Francisco que insistiu com força:

Se uma pessoa não se deixa todos os dias formar pelo Senhor, torna-se num padre apagado, que se arrasta no ministério por inércia, sem entusiasmo pelo Evangelho nem paixão pelo Povo de Deus. Pelo contrário, o padre que, dia por dia, se confia às mãos sapientes do Oleiro com “O” maiúsculo, conserva ao longo dos tempos o entusiasmo do coração, acolhe com alegria a frescura do Evangelho, fala com palavras capazes de tocar a vida das pessoas; e as suas mãos, ungidas pelo Bispo no dia da Ordenação, são capazes de ungir, por sua vez, as feridas, as expectativas e as esperanças do Povo de Deus.

Um outro aspecto sublinhado pelo Papa no seu discurso à Congregação para o Clero é que cada padre é chamado a colaborar com o Oleiro divino, pois que o padre não é apenas argila, mas também ajudante do Oleiro, colaborador da sua graça. E o Papa identificou na formação sacerdotal, inicial e permanente, três protagonistas na oficina do oleiro: o próprio sacerdote ou seminarista que tem a responsabilidade primordial de se deixar moldar por Deus e para isso é preciso que saiba dizer “sins” e “nãos” conforme diversas situações que o Papa enumerou antes de falar dos formadores ou seja, os Reitores, os Directores Espirituais, os educadores, mas sobretudo o Bispo. Ele é justamente definido na Ratio – frisou Francisco – “primeiro responsável da admissão no Seminário e da formação sacerdotal”

Se um formador ou um Bispo não “desce para a oficina do oleiro” e não colabora com a obra de Deus, não poderemos ter sacerdotes bem formados!

Isto requer um cuidado especial para com as vocações, proximidade carregada de ternura e de responsabilidade em relação à vida do padre, capacidade e arte de discernimento – recordou Francisco – recomendando aos bispos a trabalharem juntos e a terem um coração grande e um respiro amplo nesta tarefa que requer diálogo, opções partilhadas...

Tenhais a peito a formação sacerdotal: a Igreja precisa de padres capazes de anunciar o Evangelho com entusiasmo e sapiência, de acender a esperança lá onde as cinzas cobrem as brasas da vida, e de gerar a fé nos desertos da história”

Mas Francisco recomendou ainda aos membros da Congregação para o Clero a não esquecerem, na formação do sacerdote, o Povo de Deus que, com as suas interrogações e necessidades constitui um grande “roliço” que plasma a argila do nosso sacerdócio.

Quando saímos em direcção ao Povo de Deus, nos deixamos plasmar pelas suas expectativas, tocando as suas feridas, nos damos conta de que o Senhor transforma a nossa vida”.

Para o Papa estar no meio do Povo de Deus “é uma verdadeira e própria escola de formação humana, espiritual, intelectual e pastoral. Com efeito, o Padre deve estar entre Jesus e a gente”. E concluiu deixando para a reflexão esta profunda interrogação:

 “Que padre desejo ser? Um “padre de salão, tranquilo e colocado, ou então um discípulo missionário a quem arde o coração pelo Mestre e pelo Povo de Deus? Um tépido que prefere o quieto viver ou um profeta que acorda nos corações do homem o desejo de Deus?

E antes de os abençoar, prometendo rezar por eles e pedindo oração para ele, o Papa pediu a Nossa Senhora, que hoje veneramos como Nossa Senhora do Rosário, que "nos ajude a caminhar com alegria no serviço apostólico e torne os nossos corações semelhantes ao seu: humilde e dócil, como a argila nas mãos do Oleiro”

A "Ratio Fundamentalis" é o novo documento da Congregação para o Clero sobre a formação dos sacerdotes. Foi publicado a 8 de Dezembro de  2016.

(DA)

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