30 setembro, 2017

Ética do bem comum - recomendou o Papa aos Presidentes de Câmara



(RV) O Papa recebeu hoje em audiencia, na Sala Clementina, no Vaticano, cerca de 300 membros da ANCI, Associação Nacional dos Presidentes das Câmaras Municipais Italianas.

Nas palavras que lhes dirigiu, o Papa começou por mencionar duas cidades de que nos fala a Bíblia: por um lado, Babel, símbolo de algo inacabado, de confusão e desorientamento, divisão e impossibilidade de construir algo em comum; e por outro a nova Jerusalém, símbolo de um mundo renovado, de encontro, de cidadania. Poder habitar nessa cidade é um dom, e só se pode entrar nela na medida em que se contribui para gerar relações de fraternidade e comunhão. Isto quer dizer – afirmou o Papa – que uma sociedade humana só pode reger-se quando se apoia numa verdadeira solidariedade. Lá onde crescem invejas, ambições desenfreadas e espírito de adversidade, está-se condenados à violência do caos.
O Papa disse depois querer falar aos Presidentes de Câmara de uma única cidade que representa todas as que são confiadas às suas responsabilidades:

“É uma cidade que não admite sentidos únicos de um individualismo exasperado, que dissocia o interesse privado do interesse publico. E não suporta os becos sem saída da corrupção onde se aninham as pragas da desagregação. Não conhece os muros da privatização dos espaços públicos, onde o “nós” se reduz a slogans, a artifícios retóricos que mascaram o interesse de poucos.”

Construir essa cidade – continuou o Papa – exige de vós não um elã presuntuoso em direcção ao alto, mas sim um empenho humilde e quotidiano em direcção à base. “Não se trata de erguer ulteriormente a torre, mas de alargar as praças, de criar espaço, de dar a cada um a possibilidade de se realizar a si próprio e à própria família e de abrir-se à comunhão com os outros.”

Para abraçar e servir esta cidade, serve um coração bom e grande, no qual custodiar a paixão do bem comum. É este olhar que leva a fazer crescer na pessoa a dignidade de ser cidadão. Promover a justiça social e, portanto, trabalho, serviço, oportunidades. Cria inumeráveis iniciativas com que animar o território e cuidar dele. Educa à co-responsabilidade”.

Francisco recordou ainda que a cidade é um organismo vivo que precisa de oxigénio em quantidade suficiente e quando isto falta, quer dizer, quando os serviços não são de qualidade, criam-se bolsas de pobreza e marginalização e uma cidade a dupla velocidade: uns que têm tudo garantido e outros (famílias, pobres, desempregados, migrantes) que não têm em quem contar.

O Papa convidou a recusar esse modelo de cidade, a frequentar as periferias urbanas, sociais, existenciais, pois que o ponto de vista dos últimos ajuda a compreender quais são as verdadeiras necessidades e a encontrar soluções.

Para mover-se nesta perspectiva, temos necessidade de uma política e de uma economia centrada de novo na ética: uma ética da responsabilidade, das relações, da comunidade e do ambiente. Precisamos também de um “nós” autentico, de formas de cidadania sólidas e duradouras. Precisamos de uma política de acolhimento e de integração, que não deixa nas margens quem chega ao nosso território, mas se esforça por fazer dar frutos os recursos de que cada um é portador”

O Papa disse aos Presidentes de Câmara italiano que compreende as dificuldades que muitos dos seus cidadãos vivem com a chegada maciça de migrantes e refugiados, facto que Francisco explica ser devido ao inato temor do “estrangeiro”, agravado pela crise económica, pela inadequação de muitas medidas adoptadas num clima de urgência. “Essas dificuldades – acrescentou – podem ser ultrapassadas mediante a criação de espaços de encontro pessoal e de conhecimento mútuo”, mediante iniciativas que promovam a cultura do encontro, mediante trocas culturais e artísticas, conhecimento dos lugares de origem e comunidades dos recém-chegados.

Francisco mostrou-se satisfeito por alguns dos Presidentes de Câmara presentes no encontro serem dos que promovem boas práticas de acolhimento e integração, práticas esssas que merecem ser largamente difundidas e exprimiu o desejo de que haja muitos seguidores. Deste modo - rematou - a politica pode desempenhar a sua tarefa fundamental que é a de ajudar a olhar para o futuro com esperança, aquela esperança que faz emergir as melhores energias de cada um, especialmente dos jovens. E desejou que sejam sempre generosos e desinteressados no serviço do bem comum. Assim a cidade se tornará numa antecipação e reflexo da Jerusalém celeste.

(DA)

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