05 abril, 2016

«VIMOS O SENHOR!»

 
 
Tinham combinado encontrar-se os três amigos, pois já não se viam há algum tempo.

Quando Tomé chegou perto do local do encontro, reparou ainda à distância, que os seus dois amigos estavam envolvidos numa conversa acesa, sentados a uma mesa da esplanada do café, mas sobretudo reparou na alegria e no entusiasmo com que falavam e se olhavam.
Não se lembrava nada deles serem assim, (aliás o Pedro era até um pouco taciturno, embora o João fosse mais aberto e simpático), por isso perguntava-se o que teria acontecido na vida daqueles dois para todo aquele entusiasmo, para toda aquela demonstração de vida?
Aproximou-se deles, abraçaram-se como velhos amigos que eram e perguntou num repente:
O que é vos aconteceu, que me parecem diferentes, mais animados, mais vivos, se assim posso dizer?

Eles olharam para ele e disseram a sorrir: «Vimos o Senhor!»

Olhou para eles, espantado, e perguntou: Referem-se ao Senhor, Senhor? Àquele que nos foi ensinado na catequese e há muito tempo que não pensamos nEle?

Eles responderam com um sorriso provocador: Sim, Esse mesmo!

Estão a gozar comigo ou quê? Há que tempos que não ligamos a essas coisas! – respondeu ele.

Responderam-lhe com uma convicção que não lhes conhecia antes: Isso é verdade, mas há uns tempos atrás, por causa de uma doença de um amigo nosso que estava a ficar cego, lembramo-nos dEle, com outras pessoas começámos a rezar, e com tudo isso aproximamo-nos dEle e Ele de nós e tudo mudou nas nossas vidas.

Tomé insistiu: E o que é que isso tem a ver com essa frase «Vimos o Senhor!»?

Muito simples - responderam eles - é que esse amigo nosso dois dias depois de receber os últimos exames que tinha feito à vista, soube que ia ficar cego no espaço de pouco tempo. Rezámos então mais insistentemente, e um dia, depois de rezarmos por ele com mais outras pessoas pedindo a sua cura se fosse da vontade dEle, ele sentiu uma paz imensa e um calor estranho nos olhos. Quando fez novos exames já nada tinha de mal! Já lá vão vários meses e ele continua a ver cada vez melhor! Ora não nos digas que isto não é «ver o Senhor!»

Olhou para eles, incrédulo, e disse-lhes: Pois eu não acredito nisso e só se vir com os meus olhos acontecer uma cura dessas e puder atestar com exames que alguém ficou curado à minha frente, é que acredito que Ele está connosco.

Conversaram mais um pouco, mas entretanto Tomé teve que se ir embora, pois nesse dia recebia os exames médicos que a sua filha tinha feito, e que muito o preocupavam.
Quando se afastava, ainda ouviu Pedro e João dizerem-lhe para rezar pela sua filha e que acreditasse que Ele estava mesmo presente nas vidas de cada um.

Em casa as notícias não podiam ser pior, pois os exames davam como certo que o mal tinha alastrado e o corpo da sua querida filha estava já todo minado por aquela terrível doença.
A hipótese de sobrevivência era nula e o desfecho final deveria acontecer muito rapidamente.

Tomé sentiu-se desfalecer e sem saber o que fazer! Sentiu-se imensamente só!

Passado um momento lembrou-se da última frase dos seus amigos Pedro e João e decidiu voltar-se para Ele, rezando e pedindo a cura da sua filha.
Nesses dias mais próximos uma estranha calma tomou conta dele, mas, embora cada vez rezasse mais e mais intensamente a sua filha piorava cada vez mais.

Um dia ao fim da tarde, junto à cama da sua filha no hospital, veio de repente ao seu pensamento, ao seu coração, uma vontade incrível de ir a uma Missa.
Sabia que havia Missa na capela do hospital nesse fim de tarde e levantando-se foi para a capela.
Por um lado achava tudo aquilo ridículo, sem grande sentido, mas por outro lado sentia que ali devia estar e por isso mesmo concentrou-se na Missa e nas orações que ia fazendo no seu coração.
Quando chegou a altura da Comunhão, e não podendo comungar, ajoelhou-se e rezou intensamente, pedindo a Ele que se fizesse sentir na sua vida e, sobretudo, pedindo-Lhe a cura da sua filha.
Sentiu então uma enorme serenidade e admirado com o que estava a sentir no seu coração, ouviu-se dizer: Seja feita a Tua vontade, Senhor!

Ao chegar ao quarto percebeu que a sua filha estava diferente, e ela própria lhe disse que se sentia muito melhor, que um estranho calor tinha percorrido o seu corpo e ela se sentia agora muito bem.

Chamou o médico e pediu, insistiu, reclamou por novos exames que foram feitos de seguida.
Esperou um tempo interminável, de mão dada com a filha, que alguém lhes viesse dizer os resultados dos exames que tão ansiosamente esperavam.

Passadas largas horas, o médico entrou no quarto e olhou para os dois com um olhar estranho, um olhar de admiração, e disse-lhes: Os exames estão todos bem! A doença desapareceu e eu não sei explicar porquê!

Tomé olhou o médico, olhou a filha, e apenas pode dizer: «Meu Senhor e meu Deus!»


Marinha Grande, 5 de Abril de 2016 Joaquim Mexia Alves

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