18 outubro, 2014

Sínodo: os desafios pastorais da família no contexto da evangelização – uma síntese dos trabalhos

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(RV) O Sínodo Extraodinário dos Bispos sobre os desafios pastorais da família no contexto da evangelização, começou no domingo dia 5 de outubro com uma Solene Eucaristia na Basílica de S. Pedro. Na sua homilia o Papa Francisco, referindo-se ao Sínodo, deixou claro o que deve ser uma assembleia sinodal:

“As assembleias sinodais não servem para discutir ideias bonitas e originais, nem para ver quem é mais inteligente… Servem para cultivar e guardar melhor a vinha do Senhor, para cooperar no seu sonho, no seu projeto de amor a respeito do seu povo. “

Na segunda-feira, dia 6 de outubro, no início da primeira assembleia do Sínodo sobre a família, o Papa Francisco falou aos padres sinodais e considerou ser este encontro uma grande responsabilidade que nos obriga a “falar claro” “com frontalidade evangélica” e o “coração aberto”.

Por isso, peço-vos, por favor, estas duas atitudes de irmãos no Senhor: falar com parresia – clareza e coragem evangélicas – e escutar com humildade. Fazei-o com muita tranquilidade e paz, porque o Sínodo decorre sempre cum Petro et sub Petro e a presença do Pai é garantia para todos e custódia da fé. Caros irmãos, colaboremos todos para que se afirme com clareza a dinâmica da sinodalidade.


Após a intervenção do Santo Padre coube ao relator-geral do Sínodo, o Cardeal Peter Erdo, a missão de descrever o panorama de início do Sínodo tendo como base o Instrumento de Trabalho apresentado. E forneceu, desde logo, o método do trabalho sinodal:


“Devemos, pois, recordar que a assembleia extraordinária de 2014 é a primeira etapa de um caminho eclesial que desaguará na assembleia ordinária de 2015. Daí deriva que a linguagem e as indicações devem ser tais que promovam o aprofundamento teológico mais nobre, para escutar com a máxima atenção a mensagem do Senhor, encorajando, ao mesmo tempo, a participação e a escuta da comunidade dos fieis” – disse o Cardeal.

Segundo o cardeal Erdo, na família existem situações pastorais difíceis que são “uma verdadeira urgência pastoral”. Logo na primeira congregação da assembleia sinodal houve dezenas de intervenções – como afirmou o Padre Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, em conferência de imprensa repetindo a exigência que muitos bispos fizeram acerca de uma renovação da linguagem do anúncio do Evangelho:

“Diversas intervenções têm que ver com a atenção à linguagem que a Igreja deve usar para responder e fazer-se entender. Um outro grande núcleo, à volta do qual rodaram várias intervenções é aquele do respeito da gradualidade: ou seja, o facto de que há um caminho, através do qual os crentes cristãos se aproximam àquele que é o ideal da família cristã e do matrimónio cristão na apresentação do Magistério da Igreja.”

O Padre Federico Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, no seu briefing diário partilhou com os jornalistas uma imagem verbal que foi apresentada no terceiro dia de trabalhos:

“ Falou-se da Luz que a Igreja traz ao mundo … não tanto como um farol mas como uma vela acesa, uma tocha que acompanha o povo em caminho”

A fé não é aderir a conteúdos – sublinhou o Padre Lombardi – mas uma adesão, um encontro com Cristo.
“A crise das famílias na Igreja e também a crise das famílias cristãs na sociedade está muito ligada à crise geral da fé neste tempo. Foi notado como é preciso estar atentos em recordar que a fé não é aderir só a conteúdos, a ensinamentos, mas a fé é, antes de mais, uma adesão pessoal a Cristo, uma escolha por Cristo, um encontro com Cristo, uma aliança com Ele.”

Duas linhas de reflexão emergiram dos debates acerca dos divorciados recasados. Uma acentua a doutrina a outra a aproximação pastoral através da misericórdia. Segundo o padre Lombardi foram mesmo apresentadas propostas concretas de organização dos serviços diocesanos para tratar este assunto:

“Houve também propostas bastante concretas de organização de gabinetes diocesanos que enfrentem a temática sob a direção do bispo. Ao mesmo tempo, também sobre esta temática insiste-se sobre a atenção às exigências da verdade e da justiça, para não chegar a uma espécie de divórcio católico e, portanto, inserir e reconhecer a importância também do processo e dos procedimentos canónicos, numa pastoral conjunta de verdadeira atenção ao bem do povo de Deus e das pessoas.”

Dos testemunhos apresentados, destaque para aquele que falou em português: o casal Artur e Ermelinda, unidos em matrimónio há 41 anos e coordenadores das Equipas de Nossa Senhora no Brasil.
Este casal brasileiro falou da sexualidade do casal afirmando que é preciso saber cultivar o desejo e até mesmo um erotismo sadio. Segundo eles o controlo da natalidade através dos métodos naturais teoricamente é bom; porém, na cultura atual parece a este casal carecer de praticidade.
O casal Artur e Ermelinda concluiu o seu testemunho considerando que é importante responder “às exigências do mundo atual” sem “ferir o essencial da moral católica”.
Sobre os divorciados recasados, o padre Federico Lombardi, informou os jornalistas sobre um modelo apresentado por um padre sinodal de novos percursos de acolhimento. Intimamente ligado a este argumento está o aspeto sacramental ligado à possibilidade de aproximação à Eucaristia. Sobre este ponto o padre Lombardi recordou uma observação muito importante:

“É aquela que aconteceu com aquilo que tinha feito S. Pio X no seu tempo admitindo as crianças à Eucaristia: tinha sido considerado extremamente revolucionário, extremamente inovador no seu tempo. Portanto, existem também exemplos de coragem da parte de um Papa – mesmo sendo uma situação muito diferente daquela em que estamos – no refletir ou no introduzir novidades no que diz respeito às condições de acesso à Eucaristia.”

A segunda semana do Sínodo sobre a família começou com a “Relatio post disceptationem” – o Cardeal Peter Erdo, relator-geral do Sínodo, apresentou em 58 pontos os principais contributos propostos nas reflexões da primeira semana. Ideia principal a reter a necessidade de fazer escolhas pastorais corajosas na ação da Igreja junto das famílias, nomeadamente naquelas onde aconteceram separações ou mesmo divórcios. O documento desenvolve-se em três ideias-chave: escutar o contexto socio-cultural em que vivem as famílias hoje; olhar para Cristo e para o seu Evangelho da família e confrontar-se sobre as prospetivas pastorais a iniciar.

“ Torna-se necessário um discernimento espiritual, no que diz respeito às convivências, aos matrimónios civis e aos divorciados recasados, compete à Igreja reconhecer aquelas sementes do Verbo espalhadas para além dos seus confins visíveis e sacramentais. (...) A Igreja dirige-se com respeito àqueles que participam na sua vida em modo incompleto e imperfeito, apreciando mais os valores positivos que conservam do que os limites e as faltas.”

“Evangelizar é responsabilidade partilhada por todo o povo de Deus, cada uma segundo o próprio ministério e carisma. Sem o testemunho alegre dos cônjuges e das famílias, o anúncio, mesmo que correto, arrisca-se a ser incompreendido ou de se afogar no mar de palavras que caracteriza a nossa sociedade. As famílias católicas são chamadas a ser elas próprias os sujeitos ativos de toda a pastoral familiar.”

Após a primeira semana do Sínodo os trabalhos passaram para um ritmo de pequenos grupos, os chamados “círculos menores” cujos relatórios foram apresentados na quinta-feira dia 16 de outubro em Assembleia Geral com sugestões concretas relativas ao texto do relatório após o debate.
Uma das sugestões é a de ser dado maior realce à mensagem positiva do Evangelho da família, sem olhar apenas para as preocupações das famílias em crise. Outro ponto diz que é necessário dar maior atenção à presença de idosos no interior dos núcleos familiares e às famílias que vivem em condições de extrema pobreza. É também sublinhado o papel essencial das famílias na evangelização e na transmissão da fé.
Em relação à aproximação dos divorciados recasados ao sacramento da Eucaristia foram expressos dois tipos de reflexão: de um lado quem sugere que a doutrina não seja modificada, do outro lado quem sugere que se abra a possibilidade de comunhão numa ótica de compaixão e misericórdia em determinadas condições.
Os “círculos menores” aconselharam ainda uma reflexão mais ampla sobre a figura de Maria e da Sagrada Família, propondo-a melhor como modelo de referência para todos os núcleos familiares.
Entretanto, em conferência de imprensa o cardeal austríaco D. Christoph Schönborn, arcebispo de Viena, salientou que o Sínodo dos Bispos sobre a família tem procurado “acompanhar” a história das pessoas no momento atual, seguindo as indicações do Papa Francisco:

“Penso que, para além de tantas questões morais, devemos ver o papel positivo, fundamentalmente positivo da família. Penso que o Papa nos tenha convidado a ver o tema da família não para ver tudo o que não funciona na família (…) mas para mostrar antes de mais a beleza e a necessidade vital da família. Por isso convidou-nos a ter um olhar atento à realidade.”

O cardeal Schönborn afirmou que neste Sínodo havia dois ritmos: aqueles que dizem para termos atenção com a doutrina e os que dizem: não tenhais medo:

“Se alguns padres do Sínodo dizem: “Atenção, não podemos esquecer a doutrina”; do outro lado existe a necessidade do acompanhamento de tantas situações das quais o Papa fala de hospital de campanha. Acontece muitas vezes que numa família a mãe diga: ‘É demasiado perigoso’ e que o pai diga: ‘Não, não tenhas medo’. Estamos numa grande família. Assim uns dizem: ‘Atenção! Têm razão, é perigoso!’; e os outros dizem: ‘Não tenhais medo!’. “

O Sínodo dos Bispos sobre a família tem encontro marcado para o próximo mês de outubro de 2015. Até lá continuarão nas dioceses as reflexões, os aprofundamentos e a participação das famílias e dos fiéis sobre os desafios pastorais da família no contexto da evangelização. (RS)

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