26 janeiro, 2013

Porque não se fala da Eucaristia no Credo?

 

Responde o padre Edward McNamara, L.C., professor de Teologia e diretor espiritual 

ROMA, Friday, 25 January 2013 (Zenit.org).

Uma leitora da língua italiana enviou a seguinte pergunta ao padre Edward McNamara:

Porque nos dois Credos não se professa também “Creio na Eucaristia”? -- Sra. A.B., Coreia do Sul

Eis aqui a resposta dada pelo Padre Mc Namara:

As razões são principalmente de natureza histórica, mas dizem respeito também à própria finalidade da liturgia.

Do ponto de vista histórico, o Credo como o conhecemos, foi desenhado primeiro nos Concílios de Nicéia (325) e de Constantinopla (381), embora na sua forma elaborada aparece pela primeira vez nos atos do Concílio de Calcedónia (451) .

Este Credo estava provavelmente baseado numa profissão de fé batismal e continha todos os elementos essenciais da fé da Igreja.

Ele era principalmente uma resposta a Ário e às outras heresias, e defendia a doutrina da Trindade e da verdadeira e plena divindade e humanidade de Cristo. Nunca foi concebido como uma exposição exaustiva de cada aspecto da fé.

Uma vez que era necessário defender os fundamentos da fé, questões como a natureza da Eucaristia simplesmente não apareceram no horizonte teológico até vários séculos depois.

Além disso, durante este primeiro período, a plenitude da doutrina eucarística era muitas vezes explicada só depois do batismo, ou seja, só depois de que o novo cristão ter recitado em público o Credo.

A prática de recitar o Credo na Missa é atribuída a Timóteo, Patriarca de Constantinopla (511-517), uma iniciativa que foi copiada por outras Igrejas sob influência bizantina, incluindo a parte da Espanha, que estava então sob o domínio de Bizancio.

Por volta do ano 568, o imperador bizantino Justiniano ordenou que o Credo fosse recitado em cada Missa celebrada nos seus domínios. Vinte anos depois, em 589, o rei visigodo da Espanha, Recaredo, renunciou à heresia ariana em favor do catolicismo e, por sua vez ordenou que o Credo fosse proclamado em cada Missa.

Cerca de dois séculos mais tarde, reencontramos a prática de recitar o Credo em França e de lá o costume foi-se espalhando lentamente noutras outras partes do Norte da Europa. Por fim, quando no ano de 1114 Henrique II veio a Roma para ser coroado imperador do Sacro Império Romano, ficou surpreendido por não ter sido recitado lá o Credo. Responderam-lhe então, dizendo que Roma nunca tinha cometido um erro em matéria de doutrina, e que por isso não era necessário para os romanos proclamar o Credo durante a Missa. No entanto, foi incluído na liturgia em honra do imperador e, desde então, embora não em todas as missas, mas apenas aos domingos e em algumas festividades.

Os cristãos do Oriente e do Ocidente usam o mesmo Credo, com excessão da expressão Filioque (e o Filho), que a versão latina adiciona como uma referência da procissão do Espírito Santo, uma adição que deu origem a intermináveis e complicadíssimas discussões teológicas.

Apesar desta diferença, há um consenso entre todos os cristãos de que o Credo deveria permanecer assim como está e que nem o Credo, nem muito menos a mesma Missa, seja um lugar apto para dar expressão técnica a cada princípio da fé.

No entanto, noutro nível, toda a Missa em si é uma profissão de fé. É a fé viva celebrada e anunciada num grande e sublime ato de culto que é transformado numa fé que permeia cada aspecto da atividade diária.

Mesmo se não é explicitamente mencionada a presença real no Credo, os católicos proclamam a sua fé eucarística com quase cada palavra e gesto da Missa e, de modo particular, com o seu Amém no final da oração eucarística e quando recebem a Comunhão.

De forma semelhante expressam liturgicamente a sua fé noutros dogmas não contemplados no Credo. Ir à missa na Festa da Imaculada Conceição e da Assunção, proclama também a nossa fé nestas doutrinas.

Confessar ou receber o sacramento da unção dos enfermos confirmam a nossa confiança no próprio sistema sacramental e a nossa fé de que Cristo concedeu à Igreja o poder de perdoar os pecados.

Em suma, todo o ato de culto litúrgico é, pela sua mesma natureza, também uma proclamação de fé.

* Os leitores podem enviar perguntas para liturgia.zenit@zenit.org. Pede-se que, por gentileza, se mencione a palavra “Liturgia” no campo do objeto. O texto deveria incluir as iniciais, o nome da cidade e estado, província ou nação. Padre McNamara poderá responder somente a uma pequena seleção das muitas perguntas que chegam à redação.

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