08 novembro, 2012

A PORTA DA FÉ



O Papa Bento XVI decidiu proclamar um ANO DA FÉ, o qual foi iniciado a 11 de Outubro de 2012, no cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, e terminará a 24 de Novembro de 2013, Solenidade de Cristo Rei.
A mesma temática, em ligação com a nova evangelização, foi abordada no Sínodo dos Bispos, realizado  também em Outubro de 2012.

Perante a oportunidade, apresentamos a seguir alguns textos (transcritos da publicação "Voz Missionária", n.º 149 - calendário de 2012) da Carta Apostólica de Bento XVI, que certamente ajudarão a reavivar dimensões essenciais da nossa fé.


Acolher a Porta da Fé com empenho

«A PORTA DA FÉ» (Cf. Act 14,27), que introduz na vida da comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta anos.
É possível cruzar este limitar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma.
Atravessar aquela porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira.
Este caminho tem início com o Batismo, pelo qual podemos dirigir-nos a Deus com o nome de Pai, e está concluído com a passagem através da morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do Senhor Jesus, que, com o dom do Espírito Santo, quis fazer participantes da sua própria glória quantos crêem.
Bentos XVI, A Porta da Fé; 1


Redescobrir o caminho da fé na alegria e no entusiasmo

É necessário redescobrir o caminho da fé ara fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo…
Não podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida.
Também o homem contemporâneo pode sentir de novo a necessidade de ir como a samaritana ao poço, para ouvir Jesus, que convida a crer nele e a beber na sua fonte, donde jorra água viva.
Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida fielmente para a Igreja, e do Pão da vida, oferecidos como sustento de quantos são seus discípulos… Crer em Jesus é o caminho para poder chegar definitivamente à salvação.
Bento XVI, A Porta da Fé, 2-3


Renovação da igreja pela conversão e pelo testemunho

A renovação da Igreja realiza-se também através do testemunho prestado pela vida dos crentes: de facto, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou…
O Ano da Fé é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo…
Em virtude da fé, esta vida nova plasma toda a existência humana segundo a novidade radical da ressurreição. Na medida da sua livre disponibilidade, os pensamentos e os afetos, a mentalidade, e o comportamento do homem vão sendo, pouco a pouco, purificados e transformados, ao longo de um itinerário jamais completamente terminado nesta vida.
Bento XVI, A Porta da Fé, 6


A fé cresce e torna-se fecunda no amor

«O amor de Cristo nos impele» (2Cor 5,14): é o amor de Cristo que enche os nossos corações e nos impele a evangelizar.
A fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicado como experiência de graça e de alegria.
A fé torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança e permite oferecer um testemunho que é capaz de gerar: de fato, abre o coração e a mente dos ouvintes para acolherem o convite do Senhor a aderir à sua palavra, a fim de se tornarem seus discípulos…
Só acreditando é que a fé cresce e se revigora; não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida, senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada vez maior, porque tem a sua origem em Deus.
Bento XVI, A Porta da Fé, 7


Professar, celebrar, viver e rezar a fé

Desejamos que este Ano da Fé suscite, em cada crente, o anseio de confessar a fé plenamente e com renovada convicção, com, confiança e esperança.
Será uma ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia, que é a meta para a qual se encaminha a acção da igreja e a fonte de onde promana toda a sua força.
Simultaneamente esperamos que o testemunho de vida dos crentes cresça na sua credibilidade.
Descobrir novamente os conteúdos da fé professada, celebrada, vivida e rezada, e reflectir sobre o próprio ato com que se crê, é um compromisso que cada crente deve assumir, sobretudo neste Ano da Fé.
Bento XVI, A Porta da Fé, 9


A fé é decidir estar com o Senhor, para viver com Ele

Por sua vez, o professar com a boca indica que a fé implica um testemunho e um compromisso públicos.
O cristão não pode nunca pensar que o crer seja um facto privado. A fé é decidir estar com o Senhor, para viver com Ele. E este «estar com Ele» introduz na compreensão das razões pelas quais se acredita.
A fé, precisamente porque é um ato de liberdade, exige também assumir a responsabilidade social daquilo que se acredita.
No dia de Pentecostes, a Igreja manifesta, com toda a clareza, esta dimensão pública do crer e do anunciar sem temor, a própria fé a toda a gente.
É o dom do Espírito Santo que prepara para a missão e fortalece o nosso testemunho, tornando-o franco e corajoso.
Bento XVI, A Porta da Fé, 10


Profissão de fé, ato pessoal e comunitário

A própria profissão de fé é um ato simultaneamente pessoal e comunitário. De facto, o primeiro sujeito da fé é a Igreja.
É na fé da comunidade cristã que cada um recebe o Batismo, sinal eficaz da entrada no povo dos crentes para obter a salvação.
Como atesta o Catecismo da Igreja Católica «”Eu creio”: é a fé da Igreja, professada pessoalmente por cada crente, principalmente por ocasião do Batismo.
“Nós crentes”: é a fé da Igreja, confessada pelos bispos reunidos em Concílio ou, de modo mais geral, pela assembleia litúrgica dos crentes.
“Eu creio”. É também a Igreja, nossa Mãe, que responde a Deus pela sua fé e nos ensina a dizer: “Eu creio”, “Nós cremos”».
Bento XVI, A Porta da Fé, 10


Fé, encontro com uma Pessoa que vive na Igreja

Na sua própria estrutura, o Catecismo da Igreja Católica apresenta o desenvolvimento da fé até chegar aos grandes temas da vida diária.
Repassando as páginas, descobre-se que o que ali se apresenta não é uma teoria, mas o encontro com uma Pessoa que vive na Igreja.
Na verdade, a seguir à profissão de fé, vem a explicação da vida sacramental, na qual Cristo está presente e operante, continuando a construir a sua Igreja.
Sem a liturgia e os sacramentos, a profissão de fé não seria eficaz, porque faltaria a graça que sustenta o testemunho dos cristãos.
Na mesma linha, a doutrina do Catecismo sobre a vida moral adquire todo o seu significado, se for colocado em relação com a fé, a liturgia e a oração.
Bento XVI, A Porta da Fé, 11


Manter o olhar fixo sobre Jesus Cristo

Ao longo deste tempo do Ano da Fé, manteremos o olhar fixo sobre Jesus Cristo, «autor e consumador da fé» (Heb 12,2): nele encontra plena realização toda a ânsia e anélito do coração humano.
A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão face à ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte, tudo isto encontra plena realização no mistério da sua encarnação, do seu fazer-se homem, de partilhar connosco a fragilidade humana para a transformar com a força da sua ressurreição.
Nele, morto e ressuscitado para a nossa salvação, encontram plena luz os exemplos de fé que marcaram estes dois mil anos da nossa história de salvação.
Bento XVI, A Porta da Fé, 13


Acolhimento de Maria, pela fé

Pela fé, Maria acolheu a palavra do Anjo e acreditou no anúncio de que seria Mãe de Deus na obediência da sua dedicação.
Ao visitar Isabel, elevou o seu cântico de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizava em quantos a Ele se confiavam.
Com alegria e trepidação, deu à luz o seu Filho unigénito, mantendo intacta a sua virgindade.
Confiando em José, seu Esposo, levou Jesus para o Egito a fim de o salvar da perseguição de Herodes.
Com a mesma fé, seguiu o Senhor na sua pregação e permaneceu a seu lado mesmo no Gólgota.
Com fé, Maria saboreou os frutos da ressurreição de Jesus e, conservando no coração a memória de tudo, transmitiu-a aos Doze reunidos com ela no Cenáculo para receberem o Espírito Santo.
Bento XVI, A Porta da Fé, 13


A fé sem a caridade não dá fruto

A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente a outra de realizar o seu caminho. De facto, não poucos cristãos dedicam amorosamente a sua vida a quem vive sozinho, marginalizado ou excluído, considerando-o como primeiro a quem atender e o mais importante a socorrer, porque é precisamente nele que se espelha o próprio rosto de Cristo. Em virtude da fé, podemos reconhecer naqueles que pedem o nosso amor o rosto do Senhor ressuscitado…
É a fé que permite reconhecer Cristo e é o seu próprio amor que impele a socorre-lo sempre que se faz próximo nosso no caminho da vida. Sustentados pela fé, olhamos com esperança o nosso serviço no mundo, aguardando «novos céus e uma nova terra, onde habite a justiça».
Bento XVI, A Porta da Fé, 14


A fé, companheira da vida

Que ninguém se torne indolente na fé. Esta é companheira da vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós.
Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo.
Aquilo de que o mundo tem hoje particular necessidade é o testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que não tem fim.
Bento XVI, A Porta da Fé, 15


Para acesso à Carta Apostólica (integral) de Bento XVI, clique

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