01 março, 2012

A VIVÊNCIA DA RECONCILIAÇÃO


A riqueza e a necessidade da Reconciliação, talvez exijam mais alguns esclarecimentos.
O Papa João Paulo II, na Exortação Apostólica: “Reconciliação e Penitência na missão actual da Igreja”, retomando a doutrina tradicional da Igreja, faz a seguinte catequese (Cf nº 3, III): O sacramento da Reconciliação apresenta-se com cinco partes distintas, todas elas de uma grande importância.

Rectidão e limpidez de consciência, preparadas e expressas num exame de consciência sério e cuidado. O exame ajuda o cristão e reconhecer-se pecador e a ver-se aos olhos de Deus, com o positivo, o negativo e as omissões. “É o confronto sincero com a lei moral interior, com as normas evangélicas propostas pela Igreja, com o próprio Jesus Cristo, que é para nós Mestre e Modelo de vida, e com o Pai celeste nos chama ao bem e à perfeição”. Sem esta limpidez, rectidão, sinceridade, vai faltar algo importante para a Reconciliação ser bem feita. Daí a necessidade do exame de consciência que nos desperta para a realidade do nosso pecado e nos abre à sinceridade do coração.

Arrependimento sincero, que implica claro e decidido repúdio do pecado cometido, juntamente com o propósito de não o tornar a cometer. Não basta confessar-nos, é preciso arrependimento sincero, pena e dor de ter magoado a Deus e aos irmãos, dor dos pecados passados e propósito de emenda para o futuro. Se não há contrição, podemos pôr em perigo a validade do sacramento. Este arrependimento é graça a pedir com perseverança a Deus nosso Senhor, pois só Ele pode dar o desejo sincero do arrependimento e a vontade de não tornar a pecar.

Acusação dos pecados, que deu ao Sacramento o nome de “confissão”, é algo necessário para que o penitente encontre o perdão, a paz, a graça da cura das suas doenças espirituais. Ir confessar-se e mentir, enganar, não dizer o que se acha que deve ser dito, é algo que perturba a Reconciliação e não deixa que o sacramento produza a graça que se espera. Podemos enganar o confessor, mas a Deus, que tudo conhece e sabe, não enganamos. Daí a necessidade de total abertura e sinceridade. Que não seja a vergonha, o respeito humano, o medo, que nos impeça de sermos sinceros, transparentes, abertos para fazermos uma boa Confissão.

Absolvição, no conjunto do sacramento, é o momento da graça que actua em nós, em que pelas palavras e pelos gestos da imposição das mãos e do sinal da cruz, nos é concedido o perdão e a absolvição dos nossos pecados. Aqui, dum modo particular neste momento, se realiza o encontro normal do pecador com a misericórdia de Deus. A fórmula da absolvição faz-nos perceber bem que é todo o amor trinitário que se faz presente e actuante em nós, para nos perdoar e curar, para nos libertar e salvar.

Satisfação da penitência, ou seja cumprimento da penitência que o confessor nos dá, para de algum modo darmos testemunho do nosso compromisso de começar uma vida nova. Bom seria que a penitência “imposta” não se reduzisse a rezar algumas orações, mas tivesse outras formas, como por exemplo, algum tempo de leitura da bíblia, visita a algum doente ou idoso, esmola em favor de algum irmão necessitado, alguma penitência corporal, ajuda nalguma obra paroquial, etc. Com uma celebração bonita e rica de sentido, seguindo o novo ritual, com a consciência da festa que Deus faz ao acolher-nos e perdoar-nos, com a graça da cura interior, a Reconciliação é algo portador de dom, graça e misericórdia, sacramento a celebrar com alguma frequência.

                                                                                                                         Dário Pedroso, s.j.
Labat n.º 39 de Abril de 2004
(Tema anteriormente lançado neste blog mas que não é demais recordá-lo)

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