31 maio, 2011

LUZ E TREVAS


Na sonolência de uma manhã, no fim-de-semana passado, veio à minha memória uma anedota que já tinha ouvido contar há muito tempo:

«Um sujeito encontra outro numa sala, muito atarefado, a procurar qualquer coisa e pergunta-lhe:
- Perdeu alguma coisa?
O outro responde:
- Perdi umas chaves!
Diz o primeiro:
- Vou ajudá-lo. Tem noção onde as perdeu mais ou menos?
Responde o outro:
- Foi na sala ali ao lado!
- Na sala ali ao lado e está à procura nesta???
Responde o outro:
- É que na sala onde as perdi não há luz. Está tudo às escuras!!!»

É uma graça, sem muita graça, mas que me levou a reflectir, na luz e na ausência da luz.

Com efeito, não vale a pena procurar o que quer que seja numa sala sem luz, na escuridão, pois nada se conseguirá encontrar.

Se não levarmos luz connosco, será impraticável a procura, pois, com certeza, nada encontraremos.

Isto faz-me lembrar aqueles que querem procurar Deus na escuridão dos seus pensamentos, dos seus raciocínios, sem quererem “usar” a luz própria que nos permite encontrar Deus.

Essa luz própria chama-se fé e é o próprio Deus que no-la dá, quando de coração aberto e sincero O procuramos, mesmo nas trevas em que possamos viver.

É que querer procurar Deus sem essa luz, é querer encontrar Deus apenas com as nossas capacidades, e Deus está muito para além daquilo que somos e podemos entender, pois na sua infinita simplicidade, ultrapassa totalmente a nossa maneira complicada de procurar a verdade.

Para que as nossas capacidades, a nossa inteligência, o nosso saber, a nossa ciência, possam perceber a existência e a dimensão de Deus, têm que ser iluminadas pela fé, têm que ser iluminadas pelo próprio Deus, porque se assim não for, apenas podemos conhecer aquilo que está na nossa dimensão, apenas podemos encontrar aquilo que está ao nosso alcance encontrar.

Ao longo da História da humanidade, não são poucos os cientistas que procurando Deus com toda a sinceridade, O encontraram, não em fórmulas matemáticas, científicas, mas sim na simplicidade do coração, que depois se comunica à certeza da mente, à confirmação da inteligência.

Querer entender a Palavra de Deus, que é o próprio Deus, apenas com uma leitura “normal”, como se de um qualquer romance se tratasse, é com certeza tarefa que não leva a lado nenhum, e apenas servirá para fazer interpretações literais, que provocam muito mais rejeição, do que edificação.

Ler, reflectir ou meditar a Palavra de Deus desse modo, é ler, reflectir e meditar na escuridão e já percebemos que na escuridão nada se encontra.

Agora, ler, reflectir e meditar a Palavra de Deus à luz da fé, iluminados pelo Espírito Santo, é uma experiência viva e de uma riqueza inigualável.

É, (perdoem-me a comparação), encontrar as chaves da anedota inicial, no sítio onde não se perderam, na sala que tem luz, porque a Deus nada é impossível.

Mas há ainda outra reflexão, (ou muitas mais), que se pode fazer sobre a história de humor que deu origem a este texto.

É que se formos procurar algo na escuridão, o mais provável é irmos batendo nos diversos obstáculos que estão nas trevas e que por isso mesmo não vemos, correndo o risco de nos magoarmos seriamente.

E ao acontecerem-nos essas dificuldades, esses tropeços no caminho, deixaremos de querer procurar mais, e acabamos por desistir, nunca chegando a encontrar o que procurávamos.

Se, ao invés, nos servirmos da luz para procurar, mesmo nas trevas mais intensas, acabamos por fazer caminho seguro, pois os obstáculos estão perante nós, e podemos rodeá-los, ultrapassá-los, vencê-los e chegarmos ao encontro do que tão empenhadamente procurávamos.

Interessante como uma história sem sentido, reflectida á luz da fé, nos dá tanto para pensar e nos mostra tanto caminho a seguir!
Joaquim Mexia Alves

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