11 janeiro, 2011

Voltar às raízes - A Riqueza da diversidade

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1. Unidade e diversidade no amor de Cristo

Quando um homem reconhece o único e verdadeiro Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, através da fé, ele abre-se ao amor que une o Pai ao Filho e ao Espírito, que comunica o Amor de Deus, fonte de vida em Cristo e de fraterno amor (Jo. 15, 9 Rm. 5, 5). “Esta união com o Deus único faz do homem Sua testemunha no mundo e um colaborador no Seu desígnio”.
Para que os Seus discípulos possam tornar-se Suas testemunhas, Jesus enviou-lhes o Espírito Santo, o primeiro dom dado aos fiéis (ICor. 12. 7). Cada cristão deve ter uma função específica na Igreja. A diversidade e complementaridade de dons são desejadas por Deus a fim de criar uma maior riqueza na comunhão com Cristo. Jesus deu-nos a Sua mãe, nutriu-nos com o pão do Seu Corpo e associou-nos a Sua plenitude, “pois da sua plenitude todos nós recebemos graça por graça” (Jo 1, 16).

2. A multiplicidade e diversidade de dons

Na edificação do Corpo de Cristo, o Espírito Santo distribui muitos e variados dons. Todos os fiéis recebem a graça essencial para a santidade e a vida eterna pelos sacramentos da iniciação cristã: baptismo, confirmação e eucaristia, e também particularmente pelas três virtudes teologais e pelos sete dons do Espírito Santo. Mas também existem os dons gratuitos ou carismas que o Espírito distribui conforme Lhe apraz, para cada membro do Corpo de Cristo.
Nas primeiras comunidades cristãs, certos dons eram permitidos somente para ministros instruídos de apostolado, de profecia, de cura, de evangelização, de liderança pastoral, de serviço, de administração e de milagres (Ef. 4, 11 – 12). Além disso, muitos outros dons ficaram evidentes na experiência da Igreja daquela época. Portanto, nós somos os administradores de uma graça divina, única e múltipla que cada um “conforme o dom recebido, deve por ao serviço dos outros” (1Pe. 4, 10). Os carismas não dependem dos nossos méritos: eles não nos pertencem e também não provam a nossa santidade. Precisamos acolhê-los com humildade e usá-los com uma submissão amorosa, isto é, com uma total confiança e aceitação da cruz, Os dons também podem ser perdidos. S. Paulo dá este conselho: “Não tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que convém, mas uma justa estima, ditada pela sabedoria, de acordo com a medida da fé que Deus dispensou a cada um” (Rm. 12, 3) para que, se os dons são diversos, o único fruto que procuremos seja o amor “ágape” (Gl. 5, 22-23). O maior de todos os dons.

3. Fonte e finalidade dos carismas

A vinda do Espírito Santo em Pentecostes foi a realização da promessa de um derramamento universal anunciado pelo profeta Joel (Jl. 3, 1). Nós recebemos a plenitude desse derramamento no baptismo do Espírito Santo ou no sacramento da confirmação: ele é re-despertado através da oração para um derramamento, que conclui as sete semanas do Seminário de Vida Nova no Espírito. A graça abre o fiel para receber os dons carismáticos. Nos Actos dos Apóstolos, ser repleto do Espírito Santo era o factor decisivo para o serviço na comunidade. Os sete primeiros diáconos eram “homens de boa reputação, repletos do Espírito e de sabedoria” (At. 6, 3).
A diversidade de dons responde à multiplicidade de necessidades que o Corpo de Cristo tem. São Paulo tem os carismas em alta estima. A sua única preocupação é discernir a sua autenticidade. “Não extingais o Espírito; não desprezeis as profecias. Discerni tudo e ficai com o que é bom. Guardai-vos de toda a espécie de mal” (1Tl. 5, 19-22).
Não existe uma lista completa de carismas. O Espírito os dá de acordo com a necessidade do tempo e do lugar: “Quem tem o dom da exortação, o exerça exortando. Aquele que distribui seus bens, o faça com simplicidade; aquele que preside, com diligência; aquele que exerce misericórdia, com alegria. Que o vosso amor seja sem hipocrisia, detestando o mal e apegados ao bem; com amor fraterno, tendo carinho uns para com os outros, cada um considerando os outros como mais dignos de estima” (Rm. 12, 8-10); “E ele é quem concedeu a uns ser apóstolos, a outros profetas, a outros evangelistas, a outros pastores e doutores, para aperfeiçoar os santos em vista do mistério, para a edificação do Corpo de Cristo” (Ef. 4, 11-12); “A um, o Espírito dá a mensagem de sabedoria, a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar línguas, a outro ainda, o dom de as interpretar”(1Cor. 12, 8-10).
Em Coríntios, Paulo percebe três tipos de acção carismática: - Os carismas de inspiração: profecia, falar em línguas, interpretação das línguas e discernimento dos Espírito. - Os carismas de revelação: palavras de conhecimento, de sabedoria e de ciência. - Os carismas de poder: dons de cura, de milagres e de grande fé. Nenhum carisma é sem uso: todos permitem sevir ao Corpo de Cristo. O serviço da Palavra parece ter uma certa primazia entre os apóstolos (At. 6, 4) e na assembleia, S. Paulo prefere a profecia a falar em línguas (1Cor. 14, 1-5), até o menor serve para erguer o fiel e levá-lo a louvar o Senhor e interceder com poder.
A plenitude do amor também foi vista na ajuda aos pobres e humildes e nas tarefas respectivas da vida diária. O Beato Taulère conta a história do monge para o qual Jesus apareceu na cruz. Enquanto ele estava numa profunda contemplação do Senhor, a campainha indicando que era hora de alimentar os pobres soou. O monge hesitou por um momento, e então saiu para o seu trabalho. Quando ele retornou mais tarde, Jesus, que ainda lá estava, disse-lhe: “Se não tivesses saído quando a campainha soou, eu te teria deixado”.

4. Volte às raízes para uma maior eficiência

O Concílio Vaticano II declarou que hoje a Igreja precisa dos carismas usados na Igreja nascente porque o Espírito de Deus governa as pessoas através deles, e as vidas de todos os cristãos e a operação das instituições da Igreja dependem deles.
O nascimento do Renovamento Carismático Católico em 1967 foi um dom de Deus para reavivar a graça das nossas origens, uma verdadeira “chance para a Igreja e para o mundo”, segundo Paulo VI. Desde esse dia, milhões de cristãos no mundo têm experimentado o derramamento do Espírito, uma renovação da fé, da oração e da evangelização, seguidos por sinais de cura e libertação ligadas aos carismas, sejam eles individuais ou de um grupo de oração onde ninguém reconheça os carismas de cura. A realidade dos carismas não é nada excepcional hoje em dia.
Assim como os cristãos que têm sido renovados no Espírito, usam os seus autênticos carismas, a diversidade de dons está a enriquecer a Igreja a serviço do apostolado.

5. Os riscos da diversidade

Nas primeiras comunidades cristãs, “a multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma. Com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor” (At. 4, 32-33).
O poder do testemunho foi encontrado na unidade e não na diversidade. Assim se a diversidade leva a um rompimento com o Corpo de Cristo, a cisma e heresias; se em nome da Bíblia, através de alguma revelação ou profecia particular ou pelo poder de um carisma pessoal, nós nos separamos da Igreja Católica para criar novas igrejas e novos grupos de operação, embora alguns falem com maior vivacidade e maior efeito, o retorno às raízes não trará o fruto esperado.
A diversidade e a excelência dos dons espirituais não podem trazer de volta a unidade do Corpo estabelecido sobre a autoridade de Pedro. Mesmo se Ele multiplicar a diversidade, o Espírito Santo é acima de tudo um Espírito de União.
Existe somente uma única Igreja de Cristo que subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele. Voltar às raízes da aliança de Deus com o Seu povo e ao dom do Espírito Santo é voltar a Pedro, “coluna e sustentáculo da verdade que é a Igreja do Deus vivo” (1Tm 3, 15).
Possa o Espírito Santo ajudar-nos a salvaguardar a rica diversidade dos carismas que tem florescido desde o Concílio Vaticano II.
Mantenhamo-nos alertas e vejamos se esta diversidade não compromete a fé, a unidade e o amor em Jesus, crucificado, morto, elevado e glorificado.
Jean Pliya
Labat, 13 de Setembro de 2003

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