01 novembro, 2010

O Renovamento Carismático


Série: Reflexão sobre "O que é o Renovamento Carismático" - Tema I)

Diác. João Carmona
Gostaria que nos interrogássemos interiormente sobre o que é que conhecemos da vida e da história do Renovamento Carismático Católico.

- O que é o Renovamento Carismático?
- O que me levou e me leva a aderir ao Renovamento?
- Porque é que adiro ao Renovamento e não a outro qualquer Movimento?
- Mas, porque faço parte do Renovamento?
- O que é que encontro de especial neste Renovamento? E porquê?
- Quem é o líder do Renovamento? Todos os movimentos têm um líder!

Nascimento e irradiação do Renovamento Carismático Católico

O Renovamento nasce no ano de 1967 nos Estados Unidos, no seio da Igreja católica, no meio universitário – a Universidade norte americana de Duquesne, em Pittsburg – quando, um grupo de professores e de estudantes, durante um retiro, fizeram a experiência de um renovamento espiritual espantoso, que foi acompanhado da manifestação de certos “carismas”, que estão descritos por S. Paulo na sua primeira Carta aos Coríntios. Esta experiência marcou o início do que é actualmente chamado o “Renovamento Carismático”.
Estudantes e professores tinham passado grande parte do fim-de-semana em oração, pedindo a Deus que lhes permitisse experimentar tanto a graça do baptismo como da confirmação. Tiveram, então, uma experiência de Deus poderosa e transformadora, que depois seria conhecida como “baptismo no Espírito”, ou «efusão do Espírito».
O que se tinha passado nesse fim-de-semana e a experiência do Espírito depressa se espalhou por toda a universidade, e depois a outras universidades do país.

O acontecimento era sentido por eles como um novo Pentecostes.

Na verdade, muitos deles haviam lido o livro de David Wilkerson, «A cruz e o punhal», que narrava como, na fé no Espírito Santo, um pastor, em Nova Yorque, tinha transformado espiritualmente, um gang de jovens saídos da prisão.
Além deste livro, também tinham lido, em grupo, as cartas de São Paulo e os Actos dos Apóstolos e tinham rezado, diariamente, durante um ano, a sequência da Oitava do Pentecostes «Veni Creator Spiritus».
A “nostalgia do Pentecostes” evocada pelo Papa João XXIII inspirava e fecundava a sua oração comunitária nesse fim-de-semana de retiro em que eles pediam ao Espírito Santo que ele próprio renovasse o rosto da Igreja e a face da terra.
A experiência inicial vivida por estes jovens universitários ultrapassou rapidamente o seu próprio meio.
Multiplicaram-se os testemunhos, vindos dos mais variados horizontes: operários, ex-presidiários, professores universitários, religiosos contemplativos ou activos nas mais diversas ordens.

O que há de novo no Renovamento

O que há de novo é a consciência de que a acção do Espírito Santo transforma não só as pessoas, individualmente, na sua relação com Deus, com o Espírito e com os outros, mas há a consciência de que a Igreja sem a força do Espírito, não subsiste.

O que quer isto dizer?

É que, se Deus Pai esteve presente e está presente em toda a história, desde que se me manifestou e se revelou; se o Filho, Jesus, esteve presente 33 anos entre nós, quando nascido em Belém e morto em Jerusalém, Ressuscitou e deu disso testemunho aos seus Discípulos; hoje, Ele não se pode ver, não aparece, não surge, a não ser pela força da sua presença, o Seu Espírito.
É esta Pessoa viva que está presente na Igreja, que está presente no coração de cada um, que vive permanentemente e dá vida à própria Igreja, ou seja, o Deus em quem nós acreditamos, visível através da força do Seu Espírito.
A redescoberta desta relação pessoal com Jesus, acontece pela mediação do Espírito. São três, um só Deus, mas a Sua presença viva manifesta-se na terceira Pessoa, o Espírito que conduz a Igreja, conduz os homens.
É esta a novidade do surgimento do Renovamento Carismático. Anda associado precisamente à revelação definitiva que foi feita por Jesus, quando nos enviou o Seu Espírito, e porque também, e nesse mesmo momento, estes professores e jovens universitários foram objecto da força e do poder do Espírito que dele saiu. Operou esta conversão que mudou as suas vidas e mudou a vida da humanidade durante esse retiro. Manifesta-se desta vontade dando testemunho nesta experiência que foi feita e pela disponibilidade do serviço que é o fruto do próprio Espírito.
Quando alguém não está disponível para servir, é porque não tem nele o Espírito, não é habitado pelo Espírito, porque aquele que é habitado pelo Espírito, dá sinal disso, através destes frutos, pela conversão, serviço e testemunho.

Pelo amor de Deus aconteceu uma nova consciência em si próprios

Em primeiro lugar, um desejo muito forte de orar e louvar o Senhor; uma atracção forte, fortíssima pela Escritura que estava tão esquecida na vida da Própria Igreja; o valor da própria Palavra do Senhor; um poder interior enorme; uma vontade de sair para a rua e anunciar e testemunhar, porque já estavam possuídos pelo Espírito e depois sentiram de facto que, aquilo que lhes tinha acontecido no seu Baptismo, lhes estava a acontecer de novo: sentir a presença transformadora no seu íntimo, no seu corpo, no seu espírito, dos efeitos do Baptismo.
O Espírito que desce no Baptismo desceu de novo sobre eles, porque o Sacramento do Baptismo é continuamente renovar cada vez que nós invocamos na Vigília Pascal, as promessas que os nossos pais e padrinhos fizeram nesse dia do nosso Baptismo. É um novo acontecer e ai de nós se nesta revelação da promessa do Baptismo, na Vigília do Pentecostes não recebemos de novo.
Não é um novo Baptismo; não é uma nova infusão do Espírito, é como que o Espírito está adormecido e neste contacto íntimo com o Espírito Dele, brota em nós como um vulcão que nos faz ganhar consciência da Sua acção em nós, e por fim, uma convicção, uma certeza de que dentro deles, os carismas foram activados como se tivessem adormecidos, desligados da corrente e então surge uma consciência de que cada um tem com o dom do Espírito, uma força interior capaz de se colocar à disposição da comunidade e dos outros, naquilo que nós designamos como carismas. Falaremos mais tarde um pouco sobre isso.
Essa relação pessoal com Jesus e com a comunidade, marca esta experiência, porque todos eles, fazendo parte da comunidade de paróquias e movimentos diversos, se colocaram imediatamente em acção nas suas comunidades.

Levaram por todo o mundo o testemunho do que lhes aconteceu

Falando do baptismo no Espírito, a maior parte deles reconhecem que a «experiência espiritual» os marcara interiormente.

- Um padre, já idoso, escreveu: «Durante quinze dias, estava inundado de consolações e de um sentido novo da presença de Deus: espontaneamente, vieram lágrimas e também manifestações de alegria. Senti uma sede de purificação, um desejo de ler a Escritura, bem como um gosto pela oração prolongada por várias horas».

- Um outro diz que, como fruto do renovamento, se sentia invadido por um poder novo: surgiam nele textos da Escritura, palavras, exemplos com uma espontaneidade impressionante.
Em resumo, o que parece comum a todos é um sentimento de presença e de poder vindo do Espírito Santo.

- É também uma metamorfose do clima de oração: «A minha oração é, agora, menos cerebral, mais simples, mais sentida, mais cheia de louvor». Muitos testemunham frutos espirituais que experimentaram ao rezar em línguas.

- Outros falam da mudança na sua percepção da presença mais interior e mais constante de Deus, no seu apostolado ou na pregação, vivificada pelo Espírito, a partir de dentro.

- Alguns testemunham, também, uma metamorfose na maneira de se comportarem no sacramento da penitência, vivido como sacramento de cura espiritual.

A força do testemunho

Bem cedo surgiram «grupos de oração», não apenas nos Campus universitários, mas nas paróquias, mosteiros e conventos. Em Junho de 1974, o segundo congresso internacional contava com cerca de trinta mil participantes, vindos de trinta e cinco países, cerca de setecentos padres e quinze bispos.
Os grupos de oração espontânea alargam-se em reuniões de oração mais vastas que reúnem, regularmente, centenas de membros quer para a celebração eucarística, quer para a oração comum. Vemos surgirem «comunidades» mais estáveis e comprometidas – as households – que constituem como que o apoio logístico dos grupos de oração, particularmente dos grupos de oração, particularmente aqueles que estão comprometidos com a acção social. Surgiram, também, «casas de oração» que constituem uma espécie de seminários espirituais acessíveis a todos, procurando iniciar na vida cristã o maior número possível, para que possam encontrar uma nova luz.
Um dos traços característicos do Renovamento é a criação de comunidades de tipos muito variados, em que se desenvolvem grupos de oração, em ambiente comunitário.
O Renovamento ultrapassou o meio universitário e começou a ter impacto em paróquias e instituições católicas.
Formaram-se pequenas organizações e redes que se espalharam por numerosas regiões do mundo comprometendo leigos, religiosos, padres e bispos.
Na ausência de qualquer projecto humano prévio de organização e programação, muitos crêem que o acontecimento é e faz parte de um Novo Pentecostes de iniciativa divina, em correspondência à oração de súplica de João XXIII e Paulo VI, do Concílio e de toda a Igreja.
Um outro sinal da importância crescente do Renovamento Carismático Católico é o número de revistas teológicas que lhe dedicam artigos doutrinais. Brochuras, boletins e revistas são-lhe inteiramente consagradas.
Entre os frutos do Renovamento, é necessário mencionar, de modo especial, a redescoberta de uma relação pessoal com Jesus, Senhor e Salvador, e com o Seu Espírito. O poder do Espírito opera uma conversão profunda e transforma a vida de muitos; e manifesta-se em vontade de serviço e testemunho aceitando o senhorio de Jesus.
Apesar do seu carácter profundamente pessoal, esta nova relação com Jesus, longe de permanecer privada e intimista, conduz à comunidade, provoca uma compreensão nova do mistério da Igreja, e favorece uma adesão leal à sua estrutura sacramental e ao seu magistério.
À semelhança do renovamento bíblico e litúrgico, o Renovamento Carismático suscita um amor à Igreja, empenhado em renovar o seu dinamismo, bebendo na fonte da sua Vida: a glória do Pai, o senhorio do Filho e o poder do Espírito Santo.
Uma reflexão a partir de vários documentos sob a coordenação do Diácono João Carmona 
Labat n.º 78, de Dezembro de 2007

Sem comentários:

Enviar um comentário