01 novembro, 2010

Fundamento teológico


Série: Reflexão sobre "O que é o Renovamento Carismático" - Tema III)

Diác. João Carmona
- O fundamento teológico do Renovamento Carismático é, essencialmente, trinitário. A vida e comunhão Trinitárias e a experiência cristã:
Ninguém jamais viu o Pai (Jo 1, 18), nem O poderia ver nesta vida, porque «Ele habita numa luz inacessível» (1Tm 6, 16; 1Jo 4, 12.20).
Só o Filho viu e ouviu o Pai (Jo 6, 46). Ele é a «Testemunha» do Pai. Jesus de Nazaré deu testemunho do Pai; e aquele que viu, ouviu e tocou Jesus tem acesso ao Pai (1Jo 1, 1-3).
Depois que Jesus subiu para o Pai, nós não podemos mais vê-lO nem ouvi-lO em pessoa. Mas Ele enviou-nos o Seu Espírito, que nos recorda tudo o que Ele disse e fez, e o que os Seus companheiros viram e ouviram (Jo 14, 26; 16, 13).
Portanto, só através desse mesmo Espírito é que nós podemos agora ir a Cristo e, por Jesus Cristo, ter acesso ao Pai (Ef 2, 18).
O Pai revelou-se como a «Pessoa-Fonte», Princípio sem princípio, revelando o Seu «Nome» a Moisés: «Eu sou Aquele que sou».
No Novo Testamento, Jesus revela-se, por sua vez, como a imagem, o ícone, da «Pessoa-Fonte» (Cl 1, 15), retomando e aplicando a si próprio esta palavra da revelação (Jo 8, 24.28).
O Pai e o Filho são um; o Pai está no Filho, e o Filho está no Pai (Jo 17, 21; Cf. 10, 30). Jesus é a manifestação de «Aquele que é» (2Cor 4, 4; Hb 1, 3).
Quando Jesus emprega a forma «Nós» num sentido exclusivo (Jo 10, 30; 14, 23; 17, 21), este «Nós» refere-se ao Pai e a Ele próprio.
O Espírito procede deste «Nós»; Ele é, de uma maneira inefável, uma Pessoa em duas Pessoas.

O Espírito é o acto perfeito de comunhão entre o Pai e o Filho

É igualmente pelo Espírito que esta comunhão se pode comunicar ad extra (para fora).
A Igreja define-se efectivamente pela sua relação com esta comunhão de Pessoas. É a identificação de Jesus e dos cristãos (Act 9, 4s) só é possível em virtude da identidade do próprio Espírito Santo no Pai, no Filho e nos cristãos (Rm 8, 9).
Cristo comunicou-nos o Seu Espírito, que, sendo único na Cabeça e nos membros, dá a todo o Corpo a vida, a unidade e o movimento (LG 7). Porque é o mesmo Espírito que permanece simultaneamente em Cristo e na Igreja, a comunidade cristã pode chamar-se «Cristo» (1Cor 1, 13; 12, 12).
Os carismas são as manifestações desta “in-habitação” do Espírito (1Cor 12, 7), os sinais do Espírito que habita em nós (1Cor 14, 22). Ele manifesta-se assim de maneira visível e tangível: «Exaltado pela direita de Deus, (Jesus) [...] derramou o Espírito Santo como vós vedes e ouvis» (Act 2, 33).
Na consumação dos tempos, quando o Espírito Santo tudo tiver reunido nesta comunhão, Cristo «entregará a realeza a Deus Pai» (1Cor 15, 24).

A Igreja é a inauguração desta realeza (LG 5).
Entre Jesus e o Espírito há reciprocidade de relação. Jesus é Aquele a quem o Espírito é dado “sem medida” (Jo 3, 34; Lc 4, 1), porque o Pai O «ungiu com o Espírito Santo e o poder» (Act 10, 38). Ele foi conduzido pelo Espírito, e é pelo Espírito que o Pai O ressuscita dos mortos (Ef 1, 18-20; Rm 8, 11; 1Cor 6, 14; 2Cor 13,14).
Por sua vez, Jesus envia o Espírito, que Ele recebeu, e é pelo poder do Espírito Santo que alguém se torna um cristão: «Quem não tem o Espírito de Cristo, não lhe pertence» (Rm 8, 9). A marca essencial da iniciação cristã é a recepção do Espírito (Act 19, 1-7). Por outro lado, é o Espírito quem suscita a confissão de que «Jesus é Senhor» (1Cor 12, 3).
Esta relação recíproca de Jesus e do Espírito está orientada para a glória do Pai: «É graças a (Jesus) que todos, num só Espírito, temos acesso ao Pai» (Ef 2, 18).
Não se devem confundir as funções específicas de Cristo e do Espírito, na economia da salvação. Os cristãos são incorporados em Cristo, e não no Espírito. Mas é pela recepção do Espírito que alguém se torna cristão, um membro do corpo de Cristo.
É o Espírito quem opera esta comunhão constitutiva da unidade do Povo de Deus. Ele reúne na unidade porque faz da Igreja o Corpo de Cristo (Cf. 1Cor 12, 3). O Espírito realiza esta unidade entre Cristo e a Igreja, mantendo a sua distinção.
Pelo Espírito, Cristo está presente na sua Igreja, e é ao Espírito que pertence conduzir os homens à fé em Jesus Cristo. Como o Filho e o Pai, o Espírito é uma Pessoa; mas nem por isso Ele deixa de ser o Espírito de Cristo (Rm 8,9; Gl 4, 6).
Diácono João Carmona
Labat n.º 81, de Março de 2008

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